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CINEMA | Billy Elliot: um olhar sobre a sexualidade e a luta de classes na família operária

Billy (interpretado por Jamie Bell) é um garoto de 11 anos que vive com sua família no pequeno povoado de Durham, na Inglaterra. Tanto seu pai (Jacky) como seu irmão (Tony) participam ativamente da greve levada a cabo por 150.000 mineiros do Reino Unido, entre os anos de 1884 e 1985 e que enfrentaram a política neoliberal da então primeira ministra, Margaret Thatcher.

terça-feira 24 de maio de 2016 | Edição do dia

Como muitos dos garotos de seu povoado, Billy é inscrito por seu pai para participar das aulas boxe no ginásio de educação física local, esporte do qual não se da bem e não gosta. No entanto, a vida de Billy sofre uma grande mudança, quando as aulas de boxe e de balé passam a ser lecionadas em um espaço comum ocupado pelo sindicato dos mineiros.

A partir desse momento, a vida do garoto dá uma reviravolta e, ele acaba trocando suas aulas de boxe (que custavam 50 pence) pelas classes de Balé com a professora Wilkinson (Julie Walters). As aulas continuam até que o pai do garoto descobre tudo o que acontecia pelas suas costas.

Uma discussão sobre o machismo na classe operária e a exploração da sexualidade

Um dos pontos centrais do filme está relacionado ao preconceito enraizado na classe operária sobre a masculinidade, que neste caso parece ser colocado em questão, produto da divisão que geralmente se faz nos esportes e manifestações artísticas, separando meninos de meninas. Esse fato gera uma tensão permanente ao decorrer do filme, onde os sentimentos e convicções de Billy são colocados à prova.

Por outro lado, o filme também questiona a exploração da sexualidade na infância - sua descoberta através da dança e sua relação com as meninas e amigos - destacando aqueles preconceitos e concepções machistas que existem. Esses são pontos também colocados em questão.

Os sonhos da classe operária em tempos de crise

Dessa forma, outro ponto fundamental dentro do filme é expressado na precarização que a classe operária está submetida, fato extremamente significativo na luta dos trabalhadores, como ocorreu durante a greve dos mineiros na década de 1980, que deixou três mortos e representou uma notável derrota para o sindicalismo inglês.

A obra demonstra como aquelas concepções que pareciam ser majoritárias, em certos setores dos trabalhadores, começam a ser desconstruídas e, trata do surgimento de um novo olhar sobre nossa vida cotidiana e a naturalização da violência sofrida, neste caso no seio da família proletária.

Também se expressa o apoio entre os trabalhadores e o compartilhamento dos espaços nos bairros, onde o sindicato - como espaço de organização - consegue ser um organismo capaz de responder solidariamente às necessidades das famílias dos trabalhadores.

O cinema como expressão da história da classe operária e suas lutas

Por último, claramente, o filme é uma expressão do cinema britânico que volta a colocar em cena a história dos trabalhadores através dos olhos de uma criança e de sua família. Fala da mudança entre as gerações e a abertura de novas formas para enfrentar os preconceitos instalados por esse sistema capitalista. O filme aborda aquelas ideias profundamente instauradas na classe operária e as coloca em questão pela perspectiva de um garoto marginalizado pelo mundo em que vive e que se depara com uma oportunidade de poder descobrir a vida através da paixão pela música e pela dança. Em quase duas horas de cenas atravessadas pela musica de The Clash, T.Rex ou The Jam, Stephen Daldry consegue mostrar a realidade por entre os olhos de um garoto que tem que lidar com sua avó que foge diariamente de casa (provavelmente doente de Alzheimer), um pai que resiste aos ataques da patronal e um irmão perseguido pela polícia, por ser um referente do sindicato. Mas Billy é uma garoto que jamais renuncia a sensação de euforia que sente cada vez que começa a dançar.

Tradução do espanhol: Cassius Vinicius




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