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ESTADOS UNIDOS | "Bem-vindo à livre Capitol Hill": manifestantes de Seattle estabelecem zona autônoma

Depois de dias de dura repressão policial, os manifestantes do Black Lives Matter assumiram o controle da área em torno da delegacia de polícia de Seattle e a declararam uma "zona autônoma".

domingo 14 de junho de 2020 | Edição do dia

Pelo menos 750 cidades em todo o mundo se manifestaram desde que a polícia assassinou George Floyd em 26 de maio. Desde então, os governos locais tentam conter explosões sociais.

A série de protestos em Seattle, Washington, chamou mais atenção depois que a polícia atacou uma menina de 9 anos de idade, usou gás lacrimogêneo contra manifestantes apenas dois dias após uma proibição de 30 dias do uso desses gases e destruiu repetidamente os suprimentos médicos dos manifestantes.

Mais recentemente, Seattle voltou às manchetes nacionais agora que um grupo de anarquistas estabeleceu a "Zona Autônoma do Capitol Hill" em uma área abandonada pelo Departamento de Polícia de Seattle.

Como Seattle chegou aqui?

Os protestos em Seattle começaram em 29 de maio, três dias depois que as pessoas em Minneapolis saíram às ruas, e aumentaram nos dias seguintes, assim como a violência da resposta da polícia. Em 30 de maio, um policial do Departamento de Polícia de Seattle (SPD) jogou gás em uma menina de 9 anos de idade, que teve repercussões pois a cena foi gravada, e outro policial foi pego em vídeo colocando o joelho no pescoço de um manifestante para imobilizá-lo, exatamente a mesma tática usada para matar George Floyd.

A polícia continuou usando gás lacrimogêneo, spray de pimenta e outros ataques "menos letais", enquanto os manifestantes começaram a usar guarda-chuvas para se cobrirem de armas químicas. A polícia também confiscou um guarda-chuva rosa de um manifestante, levando à ampla adoção do guarda-chuva rosa como símbolo de movimento dentro da cidade.

Em 5 de junho, a prefeita de Seattle Jenny Durkan emitiu uma proibição de gás lacrimogêneo por 30 dias. Dois dias depois, em 7 de junho, a polícia ignorou a proibição e disparou uma "cortina" de gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral contra a multidão sem ter tido nenhuma provocação. No dia seguinte, três membros do conselho municipal começaram a pedir que a prefeita se demitisse, e a polícia começou a remover seus pertences da Delegacia Leste do Departamento de Polícia de Seattle, eventualmente cobrindo as janelas e saindo completamente do prédio.

Logo depois, os manifestantes reutilizaram as barricadas da polícia para estabelecer um perímetro de seis quarteirões ao redor da área circundante para formar a Zona Autônoma de Capitol Hill (CHAZ na sigla em inglês). As pessoas a pé podem passar livremente, mas as barricadas impedem a entrada de carros na área, uma importante precaução de segurança, dados os múltiplos incidentes recentes em Seattle e nos Estados Unidos, nos quais policiais, supremacistas brancos e outros contra-manifestantes direcionam seus veículos contra a multidão.

O que é a CHAZ?

A Zona Autônoma de Capitol Hill [1] foi estabelecida por um grupo de anarquistas em Seattle ao redor da antiga Delegacia Leste do Departamento de Polícia de Seattle (que o grafite renomeou Departamento de Pessoas de Seattle) .

A Zona tem um monumento a George Floyd, estações com comida, água e suprimentos médicos gratuitos e espaços para a comunidade se organize, tenha discussões políticas e descanse. Uma placa em uma das barricadas diz: "Bem-vindo à livre Capitol Hill". Algumas pessoas montaram tendas e estão dormindo na área, e os manifestantes também estão fornecendo suprimentos para pessoas sem-teto que ficam nas proximidades. Atualmente, o governo de Seattle não está enviando a polícia para retomar o espaço, e algumas agências da cidade foram instruídas a fornecer recursos, como banheiros portáteis.

A Zona Autônoma de Capitol Hill divulgou uma lista de 30 demandas, extraídas de discursos de organizadores negros feitos em 8 de junho após a criação da Zona. As primeiras 19 demandas se concentram no sistema de justiça, incluindo a abolição da polícia e prisões, bem como as exigências para o período de transição para a abolição total.

As demandas restantes tratam de questões econômicas (como controle de aluguel e ensino médio e superior gratuitos), provisões para reduzir as disparidades raciais em educação e saúde e um sistema democratizado para eleições locais que permitirá a participação plena da classe trabalhadora.

Eventos em andamento

Em 9 de junho, o vereador Kshama Sawant usou sua chave para permitir que ocupassem temporariamente a prefeitura. Sawant, membro da Socialist Alternative, é um dos membros do conselho municipal que pede a renúncia da prefeita.

Embora Sawant pareça estar em termos positivos com os organizadores do CHAZ, ela parou abruptamente de pedir a abolição total da polícia e até votou em nomear Carmen Best com seu atual cargo de chefe de polícia de Seattle, que é responsável para que a força policial cometa todos os atos violentos descritos acima. A posição de chefe de polícia é inerentemente uma ferramenta opressiva do capitalismo.

Os organizadores da zona autônoma estão atualmente pedindo doações adicionais de alimentos e outros suprimentos para ajudar os ocupantes e membros da comunidade local que precisam.

A zona autônoma é um dos projetos mais radicais que emergem do atual levante: uma tentativa de ocupação comunitária e democrática para combater o sistema de brutalidade policial racista, bem como contra os anos de austeridade que foram particularmente brutais para a classe trabalhadora negra.

Independentemente de como a situação em Seattle vai progredir a partir daqui, este exemplo abre discussões e perguntas mais amplas sobre formas sistêmicas alternativas e sobre a governança nos Estados Unidos.

Se você está em Seattle e participa desse movimento, queremos conhecer seu depoimento. Envie um email para [email protected].

[Este artigo foi publicado na página da Left Voice , uma edição americana da rede internacional Esquerda Diário , da qual oferecemos sua tradução para o português.]

[ 1 ] Capitol Hill é um bairro na parte leste da cidade de Seattle que, além de ser um dos distritos de vida noturna e entretenimento mais importantes da cidade, é o centro das comunidades LGBT e de contracultura da cidade. Um distrito com a maior concentração de habitantes que sofrem com alugueis altos. Seu nome se deve à pretensão de desenvolvedores urbanos de que o Capitólio, o símbolo máximo do governo do estado de Washington, fosse transferido para lá da cidade de Olympia, capital do estado, o que nunca aconteceu.


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