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RESPOSTA À VEJA | Bela, nada recatada e trabalhadora – uma resposta à Veja e a quem acredita nela

Bela porque é mulher, nada recatada porque seu corpo e sua sexualidade lhe pertence e trabalhadora, no lar ou na fábrica, porque assim são as lutadoras!

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

quinta-feira 21 de abril de 2016 | Edição do dia

A revista veja publicou recentemente uma reportagem sobre a vice primeira dama Marcela Temer, cujo título, Bela, Recatada e do Lar provocou, com razão, a ira das mulheres em diversos locais de trabalho e estudo.

A afronta inicial, a recatada, é a crítica implícita à libertação da sexualidade da mulher. Veja só, a luta pela libertação sexual da mulher não é algo secundário. Desde a antiguidade a sexualidade feminina, ainda que com diferenças da era cristã, era se não reprimida, era relegada à segundo plano. Na Idade Média a repressão sexual ao corpo da mulher e toda a sua liberdade chega ao auge, a mulher “lasciva” ou sexualizada é a Eva pecadora, veículo do mal, perdição dos homens, e o ideal de mulher é a Maria, virgem imaculada. Como deveria ser controlada, a mulher passa sempre de pai à marido. Se não se encaixa nesse padrão, se contra ele se rebela é a bruxa! Parece que o que a Veja quer é ou o retorno à Idade Média – Idade das Trevas, ou queimar todas as mulheres – metaforicamente, ou não.

Esse ataque não para na repressão sexual, veja bem! Ataca o direito ao próprio corpo, à legalização do aborto. Porque não basta apenas ser recatada, a mulher recatada é sobretudo – e quase unicamente – mãe. Não importa à Veja se milhares de mulheres morrem hoje, vítimas de abortos clandestinos, sobretudo as mulheres pobres. As estatísticas, a saúde e a vida das mulheres não importam à direita.

Tampouco importam que as mulheres trabalhadoras que são mães hoje não tenham creches para que possam deixar seus filhos. Nem importa a dupla ou tripla jornada a que são submetidas. Porque devem ser do lar, no sentido mais cruel, de não terem sua independência financeira. São sempre, aos olhos de quem acredita na Veja, submetidas ao marido. Não podem ter escolhas próprias ou profissão. A despeito da situação da imensa maioria de mulheres trabalhadoras, a quem trabalhar é mais que uma escolha é também uma necessidade.

Hoje, de acordo com dados estatísticos, o brasileiro padrão é ela, é mulher, negra e se chama Maria! São milhões de marias trabalhadoras terceirizadas, sujeitas à exploração do capital. Mulheres em luta contra as demissões, contra a precarização, contra os ataques aos seus direitos vindos da direita raivosa, de Cunha e Bolsonaro e contra os ataques vindos do governo que rifou os direitos das mulheres em troca de governabiblidade. São 13 anos sem que a legalização do aborto tenha avançado. E não será diferente com a direita no poder, porque essa direita não quer nenhuma mulher em luta. A Fiesp e seus empresários farão com que nós, mulheres trabalhadoras paguemos o pato pela crise que eles criaram.

Somos metade do gênero humano! Estamos nas universidades, nas escolas, nos escritórios, nas fábricas, no trabalho precário. Somos as professoras do Paraná e do Rio de Janeiro, somos as secundaristas de São Paulo, de Goiás e do Rio, somos as trabalhadoras terceirizadas da Higilimp, somos cada uma das lutadoras em cada canto, de shortinho ou de saia, em luta pela nossa libertação, pela emancipação da classe trabalhadora.

A revolução terá rosto de mulher!




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