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Declaração do Pão e Rosas | Basta de culto religioso na política: pela separação da Igreja e do Estado

Veja abaixo declaração do grupo de mulheres Pão e Rosas sobre as disputas do voto evangélico nas eleições de 2022 e a luta pela separação da igreja e do Estado.

Pão e Rosas@Pao_e_Rosas

sexta-feira 19 de agosto de 2022 | Edição do dia

imagem: DW

A disputa do ‘Bem contra o Mal’ é como a retórica bolsonarista está chamando as eleições polarizadas de 2022, Michelle Bolsonaro entrou forte na campanha, com direito a oração no gabinete da presidência todas as terças-feiras, cultos no planalto e boom nas redes sociais, para angariar os votos das mulheres e dos evangélicos, setores bastante significativos da população que foram decisivos nas eleições de 2018.

Segundo levantamento do UOL, as candidaturas com nomes religiosos cresceram 15,8% neste ano em comparação com 2018. Os evangélicos foram a principal alavanca, com aumento de 17% nos nomes registrados. O que querem é aprofundar ainda mais a relação entre Estado e Igreja e ampliar a bancada da Bíblia, uma expressão da degradação desse regime onde o Estado se transforma no balcão de negócios de pastores e empresários da fé, com cúpulas das igrejas regadas a escândalos de corrupção e que se utilizam da religião de milhares de pessoas para fins econômicos, políticos e para destilar seu conservadorismo atroz.

Basta ver os escândalos da Universal em Angola, o desvio de dinheiro para comunidades terapêuticas repressivas, e toda operação ideológica buscando impedir meninas que foram vítimas de estupro a realizarem aborto, além dos ataques racistas as religiões de matriz africana. Milton Ribeiro, defendido por Michelle, e o desvio de verba do Ministério da Educação (MEC) para pastores evangélicos foram a expressão máxima desse caráter reacionário de 4 anos de governo da extrema direita.

Além disso, também querem responder ao movimento feminista e atuam sistematicamente para impedir qualquer avanço das demandas das mulheres, como a educação sexual nas escolas, acesso a contraceptivos e a legalização do aborto. Por isso, diante das disputas pelo voto evangélico nas eleições, o grito das mulheres e dos trabalhadores deve ser claro: Igreja e Estado, assuntos separados!

E junto a isso levantar com força a defesa do direito ao aborto legal, seguro e gratuito, porque os que falam em nome da vida atuam para manter a realidade de mortes de mulheres, sobretudo negras, por abortos clandestinos no país, inclusive quando essas são meninas de 11 anos vítimas de estupros. A defesa de que o Estado seja Laico, que deveria ser elementar, não virá de nenhum setor desse regime podre e também não virá da chapa Lula-Alckmin, pelo contrário, o PT em seus governos mostrou que sempre esteve disposto a rifar os direitos das mulheres e LGBTQIA+ em nome da governabilidade com os setores mais reacionários das igrejas, Marco Feliciano da ‘Cura Gay’ não nos deixa mentir.

Dilma Rousseff em 2010 como parte da disputa eleitoral escreveu a famosa “Carta ao Povo de Deus”, na qual defendeu a família e garantiu que não iria legalizar o aborto e o casamento homoafetivo, terminando a carta pedindo ‘oração’ e ‘voto’. Portanto, a relação do Estado com as igrejas sempre serviu diretamente contra as mulheres, LGBTQIAP+ e seus direitos, para impedir qualquer avanço em relação aos direitos reprodutivos, nos querendo fazer recatadas e do lar. Agora com Alckmin, que se liga aos setores mais reacionários da Igreja Católica, com rumores até de relação com a Opus Dei, esse sentido será ainda pior e Lula também já vem buscando se ligar aos evangélicos, colocando o tucano à frente de buscar líderes religiosos e Janja na disputa com as mulheres evangélicas.

Nosso feminismo socialista, que defende que o caminho de se enfrentar com o bolsonarismo é o da luta de classes e não da aliança com a direita, banqueiros e empresários, sempre levantou a defesa da separação da Igreja com o Estado e do direito ao aborto, nos enfrentando com o Estado capitalista de conjunto, suas instituições e todos os setores do regime que atuam contra esse direito, como é o autoritarismo judiciário que mantém o aborto ilegal no país, num sentido anticapitalista, nos colocamos a tarefa de levantar essas demandas também diante das eleições.

Junto a revogação de todas as reformas e ataques que passaram desde o golpe institucional de 2016 e que atingem sobretudo as mulheres e também em defesa da redução da jornada de trabalho para 30h semanais, sem redução salarial e dividindo as horas entre empregados e desempregados, para responder a miséria social e ao desemprego aprofundados por esse governo. Já que estes mesmos setores religiosos também aprovam reformas anti operárias que precarizam a vida dos trabalhadores e do povo pobre.

Esse é o chamado que fazemos como parte do grupo de mulheres Pão e Rosas e a esse serviço estão nossas candidaturas. Diante da miséria de perspectivas que nos é colocado pela esquerda no Brasil, como o PSOL, que ao invés de defender esse conteúdo, está com Lula-Alckmin e com uma federação com os políticos anti-aborto da Rede de Mariana Silva, é preciso defender a independência de classe que hoje significa também defender a separação da igreja e do Estado e o direito ao aborto legal, seguro e gratuito, para que nenhuma mulher mais morra fruto dessa verdadeira cruzada reacionária que as igrejas e o Estado fazem com nossos corpos.




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