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CRISE | Banquete indigesto: reunião de emergência de Temer, FHC e Aécio no almoço

A cúpula do PSDB se reuniu às pressas com o presidente golpista Michel Temer, num almoço organizado pelo presidente da sigla tucana, Aécio Neves, e FHC. Apesar de minimizarem os efeitos da queda de Geddel e a citação de Temer na denúncia de Calero, é nítido que a situação do governo é delicada.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

sexta-feira 25 de novembro de 2016 | Edição do dia

Na linguagem da medicina, os sinais vitais do governo mostram que Temer “precisa de oxigênio suplementar”. De fato, o PSDB sente que pode não ter muito tempo para influenciar Temer e os congressistas a passar a acelerar a aplicação dos principais ajustes.

Calero foi candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro em 2010, pelo PSDB. Não aparenta estar em íntima ligação com a cúpula do tucanato, nem mineira, nem paulista (a despeito de constituir um movimento que agrada mais Alckmin que Aécio, que repreendeu Calero por ter gravado as conversas que provariam o papel de Temer em pressioná-lo a favor de Geddel). Supondo que o movimento de Calero não correu entre as balizas da chefia do PSDB, as declarações de hoje parecem misturar preocupação e um novo sentido de urgência ao governo golpista.

Ao chegarem no evento realizado pelo partido na Câmara dos Deputados, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ressaltaram que a saída de Geddel é uma “prerrogativa de Temer” e que o momento é de se focar na atual crise econômica e não “nas pequenas coisas”.
“Os ministros caem e outros vêm. O importante é não perder o rumo. Diante da circunstância brasileira, depois do impeachment precisamos atravessar o rio. Isso é uma ponte, pode ser uma frágil, uma pinguela, mas é o que tem. Se você não tiver a ponte, você cai no rio” ressaltou FHC. Ao falar da atual crise política, FHC focou suas críticas às gestões anteriores do PT na área econômica.

Bater em carta fora do baralho não fará muito para reverter a opinião do empresariado nacional, visivelmente insatisfeita com Temer e pouco propícia a ceder ao argumento do estado deixado pelo PT nas contas públicas.

As eleições municipais passaram e os ataques contra os trabalhadores que a Câmara infestada de corruptos ilegítimos e o governo estão aplicando como podem não soam suficientes à patronal. Em sua coluna, Miriam Leitão d’O Globo, tão solícita aos golpistas, perdeu a paciência e enumerou a lista de “erros” do presidente, desde a demora em destituir Geddel, assim como o atraso nos ataques, que estaria servindo apenas para “aumentar a coalizão da resistência” contra, por exemplo, a reforma da previdência.

Como efeito do triunfo de Trump, o dólar valorizado já torna a dívida das empresas mais cara; as taxas de juros maiores incrementam o problema para as empresas com dívidas dolarizadas. Isso fez com que as empresas nacionais mostrassem um descontentamento uníssono com a "lentidão" dos ajustes de Temer depois do triunfo de Trump. Boa parte da percepção dessa "lentidão" se refere às dificuldades de passar toda a austeridade com políticos tão questionados (tanto que o discurso da "antipolítica" foi avassalador nas eleições). É muito provável que a eleição de Trump, com as perspectivas imediatas negativas para a recuperação, torne ainda mais amarga a relação do empresariado com a base de Temer – e com o próprio Temer – o que poderia se converter num apoio mais claro ao avanço da Lava Jato.

O PSDB é talvez o partido burguês mais sensível aos reclamos dos capitalistas nacionais e estrangeiros e, como um galo do tempo, mudou de cor com a tormenta econômica que se aproxima, e também com o perigo de que o movimento “cansei” da patronal coloque no cadafalso seus políticos, e em especial Aécio Neves, figura permanente nas delações da reacionária Lava Jato.

Logo após as declarações do ex-presidente, o governador Geraldo Alckmin chegou ao evento e adotou o mesmo tom utilizado pelos demais integrantes da cúpula do PSDB, minimizando a saída e rugindo pelas contrarreformas. “Essa é uma decisão do presidente da República. [...] O governo conta com apoio em todas as medidas de interesse do povo brasileiro. Agora é avançar nas reformas. Agenda brasileira está repleta de urgências”.

Nem FHC, nem Aécio, nem mesmo Alckmin, com seus distintos interesses, conseguem esconder que a capacidade de aplicar os ajustes, o mais rápido possível, fica mais debilitada com esta nova crise. A irritação da patronal – que de julho a setembro viu seu faturamento cair 3%, a maior taxa desde 2012 – é a senha para que a Lava Jato siga um curso mais próximo ao da Operação Mãos Limpas na Itália, que acabou com os maiores partidos do regime político italiano (ainda que mantendo a corrupção e impunidade e ajudado a erguer Berlusconi).

Apesar de Sérgio Moro ter poupado religiosamente todo e qualquer tucano dos inumeráveis esquemas de corrupção, nenhum dos três tucanos presentes ao almoço tem dúvidas de que estão envolvidos na lista da Odebrecht e de outras empreiteiras.

O caminho para construir uma esquerda revolucionária que aproveite o espaço aberto pelo fracasso da experiência conciliadora do PT existe. O ceticismo da “esquerda Lava Jato” como o MES/PSOL de Luciana Genro ou o PSTU levam a acreditar que a melhor forma de superar o PT é com o autoritarismo reacionário de Sérgio Moro e do Judiciário. A classe trabalhadora precisa se converter num sujeito político hegemônico nesta crise, e isso passa por liderar com seu programa o questionamento a todo o regime político burguês. Uma nova Constituinte, Livre e Soberana, que coloque abaixo a Carta de 1988 – que os golpistas já modificam a seu favor – e questione toda a casta que administra essa democracia dos ricos, é a ponte que pode fortalecer a intervenção decisiva dos trabalhadores na política, e rumar para um verdadeiro governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo, e não de reforma e relegitimação dele, como busca a Lava Jato.




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