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REBELIÃO CONTRA O RACISMO POLICIAL NOS EUA | Baltimore arde: indignação pela morte de Freddie Gray

Em Baltimore se respira um ar diferente: as ruas estão cheias de manifestantes exigindo “Justiça para Freddie Gray”, jovem negro que morreu depois de ser agredido por policiais e que se encontrava sob custódia da polícia.

Juan Cruz FerreLeft Voice, EUA

terça-feira 28 de abril de 2015 | Edição do dia

Em Baltimore se respira um ar diferente: as ruas estão cheias de manifestantes exigindo “Justiça para Freddie Gray”, jovem negro que morreu depois de ser agredido por policiais e que se encontrava sob custódia da polícia.

No sábado, 25 de abril, milhares de manifestantes ganharam as ruas da cidade protagonizando a maior mobilização das últimas décadas. Duas marchas partiram da quadra 2 e 3 do distrito Oeste de Baltimore – onde Freddie foi detido pela polícia –, para se encontrar na frente da prefeitura.

Ali aconteceu um ato no qual dirigentes da comunidade, líderes religiosos, amigos e familiares de Freddie falaram à multidão. Cerca de 3 mil pessoas cobriram por completo a praça em frente à prefeitura. Quando o ato terminou, a grande maioria dos manifestantes se dirigiu a zona do porto e depois ao estádio de beisebol. Ali ocorreram confrontos com a polícia e seis viaturas foram destruídas.

Apesar das manifestações terem sido pacíficas ate então, a indignação dos manifestantes era e segue sendo perceptível, demonstrada pelo crescente número de participantes – chegando em alguns casos a milhares – e os constantes protestos realizados a cada dia e noite, desde quando a morte de Freddie Gray foi anunciada em 19 de abril.

Enquanto isso, as tentativas da polícia de reprimir os protestos levaram a alguns enfrentamentos menores durante a semana, nos quais vários manifestantes foram presos e liberados, sofrendo citações e ameaças contra a participação em novos atos.

A prisão de Freddie Gray

No dia 12 de abril, Freddie Gray, de 25 anos, chamou a atenção de um oficial de polícia a umas quatro quadras da sua casa. Em questão de minutos, ele estava imobilizado, jogado contra o chão e preso.

O vídeo de um observador flagrou os policiais colocando Gray em uma caminhonete com o corpo sem reação e com as pernas contorcidas enquanto gritava de dor. Os detalhes do que aconteceu dentro da camionete não foram revelados. Quase uma hora depois, uma ambulância transportou Gray para um hospital, onde foi tratado de graves lesões na coluna cervical. Depois disso, Gray entrou em coma e morreu em uma semana. A polícia de Baltimore ainda não explicou a causa de sua prisão.

Os angustiantes sons dos gritos de dor de Freddie Gray são a evocação aterrorizante daqueles gemidos de Eric Garner, que foi asfixiado até a morte por um oficial da polícia de Nova York, Daniel Pantaleo, em Staten Island, em 17 de julho de 2014.

De acordo com uma testemunha, Gray também gritava “Não posso respirar” nos últimos momentos de sua vida. Estas três palavras se converteram em uma das consignas mais comoventes utilizadas pelo crescente movimento Black Lives Matter (As vidas dos negros importam).

A enganação apresentada para a opinião pública é que este é um caso excepcional. A prefeita Stephanie Rawlings-Blake e o chefe da polícia de Baltimore, Anthony W. Batts, apareceram várias vezes diante das câmeras supostamente comovidos e indignados por outro incidente de violência policial que ocorre diante de seus olhos.

Suas palavras – condolências fingidas e promessas de investigação – soam vazias para as dezenas de milhares de homens e mulheres negros de Baltimore que testemunham a repetitiva impunidade da polícia todos os dias. Depois de vários dias de revolta popular, o chefe de polícia Batts repreendeu suavemente os oficiais por serem lentos demais em responder: “nossos oficiais falharam em dar-lhe atenção médica de maneira oportuna”.

Mas, a morte insensata de Freddie Gray foi então causada por algumas maçãs podres dentro da polícia? A resposta é um ressonante não. Os assassinatos de negros e pardos nas periferias não são acidentais. São sistemáticos.

O caso de Freddie Gray é precisamente um exemplo dos “incidentes” de quase todos os dias nos bairros pobres de Baltimore, de maioria negra. Casos repetitivos de abuso policial surgem das áreas economicamente mais pobres. A prefeitura da cidade se recusa a divulgar o número de negros assassinados pela polícia, mas sabemos que, desde 2011, foram mais de 100 os processos contra o governo da cidade pela brutalidade e abuso policial.

O descontentamento social que ferve nas comunidades de maioria negra requer a brutalidade policial, elemento chave da repressão do Estado. A segregação racial e étnica jogam papel chave ao retratar as “minorias” como sujeitos perigosos. Nas comunidades negras pobres, a violência e impunidade policiais são intrínsecas e deliberadamente sustentadas pelo amplo sistema legal.

Delitos menores, como vagar e beber álcool em público se encontram com a violência desenfreada e uma impactante quantidade de prisões. Acuados, os moradores destas comunidades desenvolvem uma profunda desconfiança dos policiais, desnudando seu papel de perseguidores e matadores autorizados pelo Estado.

Existe uma resposta poderosa à morte de Freddie Gray, com milhares se somando às manifestações da semana passada. Essas ações estão ganhando a atenção nacional e internacional pelas múltiplas vítimas da violência policial em Baltimore. Até agora, os protestos têm sido espontâneos e nutridos principalmente pelos habitantes da área Oeste de Baltimore.

Infelizmente, alguns líderes religiosos têm se colocado à frente dos atos propagando consignas como “queremos paz”, “a resposta vem de Deus” e “nos rendemos”. Este discurso pacificador não expressa o espírito combativo dos protestos, e o sentimento avassalador de descontentamento dentro da comunidade.

Para alcançar a justiça por Freddie Gray e o fim da perseguição e brutalidade policial, devemos coordenar nossos esforços, devemos unificar as comunidades negras junto ao povo pobre e os trabalhadores de Baltimore para converter os crescentes protestos em um poderoso movimento pela justiça em Baltimore e em todo o país.




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