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1 ANO DO ASSASSINATO DE MARIELLE | Avanço Repressivo no RJ marco o aniversário de 1 ano do assassinato de Marielle e Anderson

A dois dias de completar um ano do brutal assassinato da Vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson, podemos fazer um balanço do salto de qualidade que teve a repressão política do Rio de Janeiro nos últimos anos, fruto do avanço da luta de classes e da organização da esquerda fluminense.

quarta-feira 13 de março de 2019 | Edição do dia

Infelizmente o RJ é conhecido tanto no Brasil quanto em boa parte do mundo, como palco de uma guerra não oficial, travestida de combate à violência e, em nome da segurança pública, da ordem e do progresso. Essa triste situação é noticiada pelos grandes meios de comunicação, pelo cinema, pela literatura, e mais aproximadamente retratada pelas denuncias dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais.

O garantia de “estabilidade” social principalmente para a burguesia fluminense, é resultado de diversas chacinas, ao longo de décadas, como Vigário Geral, Candelária, promovidas por batalhões de policiais especialistas em assassinatos, ou mesmo os casos que tomaram projeção nacional, do pedreiro Amarildo, Claudia Ferreira, as barbaridades da “Unidade de Polícia Predatória” (UPP), projeto que foi uma tragédia, apenas intensificando a repressão nas favelas cariocas, a injustiça com a absurda prisão de Rafael Braga, estudantes e trabalhadores alvejados pelas munições do Estado, e tantos outros sinistros exemplos que poderíamos ficar dias listando. Para os familiares que perderam seus membros, ficam a dor e a sensação de impunidade.

No entanto, essa guerra já não é mais tão particular assim, mas sim, possui um caráter extremamente político e geral. Nos últimos anos, vimos como a esquerda ganhou projeção no Estado do Rio Janeiro, provavelmente é onde a esquerda mais avançou do ponto de ganhar um caráter de massas, seja nas bravas batalhas travadas em 2013 pelos movimentos sociais, as greves dos garis, nos protestos contra os grandes eventos como a Copa do Mundo, Olimpíadas de 2016 ou nas eleições, ocorridas no mesmo ano, onde o candidato Marcelo Freixo do PSOL foi ao segundo turno na disputa pela prefeitura carioca, recebendo mais de um milhão de votos. E por último, nas eleições de 2018, em que o partido expandiu significativamente a sua banca parlamentar.

Tudo isso, em um contexto de avanço da crise mundial, que no RJ trouxe efeitos catastróficos. Estado que é tão marcado por casos de corrupção, onde foram presos diversos ex-governadores, ex-prefeitos, e altos funcionários estatais, que funcionam como verdadeiras máfias em conjunto com milicianos, o mesmo Estado que passa por uma forte crise orçamentária e praticamente declarou falência, ou seja, um barril de pólvora.

Isso já são exemplos suficientes para vermos como os reacionários ficaram ainda mais atentos no combate a esquerda nesse Estado, em especial com o avanço dos métodos arbitrários da operação Lava-Jato, que teve impacto significativo em velhos barões do MDB carioca. Não por acaso, o RJ é o berço dos malditos Bolsonaros, e um dos mais fortes bastiões da extrema direita hoje no Brasil.

O Ano de 2018 começou marcado pela Intervenção Federal, a tentativa do ex-presidente Temer de mascarar sua derrota na votação da reforma da previdência, e tentar conquistar a opinião pública, buscando uma mentirosa resolução sobre a questão da violência no RJ, junto com o ex-Governador Pezão.

Foi nesse contexto que em 14 de março do ano passado, que a Vereadora Marielle Franco do PSOL e seu motorista Anderson foram assassinados. Mulher, preta, lésbica e favelada que possuía muito prestígio nos movimentos sociais, e atormentava as autoridades reacionárias com suas denúncias contra o descaso do Estado nas favelas fluminenses, assim como os assassinatos efetuados por grupos de extermínios, oficiais (polícia) ou milicianos. Mesmo com prisão, a quase um ano do caso sem solução, de dois ex-militares suspeitos de executarem a vereadora, ainda fica o questionamento central. Quem mandou matar Marielle? Pois os acusados de efetuarem os disparos, são apenas os elos fracos do caso ainda não resolvido, e não pode servir de conformação desse crime político tão bárbaro.

Não podemos esquecer que foi descoberto um plano que também tentava assassinar o político Marcelo Freixo, também do PSOL, e foi interceptado antes de sua consumação. Os diversos casos de crianças mortas com uniformes de escola como Marcos Vinicius, e David Faria de Sousa, assassinado com sobrinho de dez meses no colo, na Favela da Rocinha, resultado de ações militares.

Inúmeras denúncias de graves violações de direitos humanos foram feitas por moradores das favelas ocupadas. Os comandantes da Intervenção Federal já possuíam vasta experiência nesse tipo de operação, pois foram os mesmos que comandaram as tropas que outrora mataram no Haiti, na Missão das Nações Unidas de Estabilização do Haiti (MINUSTAH), chefiada pelo Exército brasileiro, por mais de 10 anos.

O balanço final da intervenção federal foi de tragédia, torturas e assassinatos. Os números de mortos pelo braço nada amigo do Exército e as forças auxiliares, no caso as polícias, resultaram em 1444 pessoas.

Com a vitória de Bolsonaro, e toda a sua base aliada em diversos estados, o avanço da repressão ganhou um salto de qualidade e legitimidade. Vale lembrar que em campanha, o filho de Bolsonaro, apareceu em campanha quebrando placas com o nome de Marielle, ou mesmo o racista Witzel, afirmando também em campanha, que se fosse eleito, a polícia deve mirar na cabeça para matar seus alvos! No caso, principalmente a população preta e favelada do RJ.

Em 2019 a Intervenção Federal acabou, mas a estadual, comandada por Witzel, prossegue deixando seu rastro de sangue. Em 8 de fevereiro, a famigerada tropa de elite da PMRJ, o Batalhão de Operações Policiais Especiais ( BOPE ), em conjunto com outros policiais do Choque, executaram covardemente 13 jovens, em uma operação maquiada de combate ao crime organizado. Já no dia 14 de fevereiro, o jovem Pedro Henrique de 19 anos, foi brutalmente assassinado, por meio de um enforcamento, pelo segurança da rede de mercado EXTRA, do grupo Pão de Açúcar. Segundo o assassino, o jovem tentou roubar a sua arma, mas sabemos que o motivo foi outro, no caso a cor de sua pele! Afinal para esses racistas, todo preto é um potencial inimigo.

O Brasil segue de maneira progressiva na escala de números homicídios por ano, um dos países que mais matam no mundo, com umas das polícias mais assassinas, e que recebe legitimação do Estado e de parcela de população.

A intensificação da luta de classes, o aumento da polarização política, fruto do avanço da crise mundial e das últimas eleições, faz com que o Estado avance ainda mais na repressão política. Não devemos ver esses casos como situações isoladas, mais sim como crimes políticos, pois as munições não são tão perdidas assim, tem alvo premeditado. Para manter a população contida nos morros e favelas, e garantir os lucros da burguesia, os governantes querem que as forças armadas e auxiliares cumpram esse papel nefasto de repressão, pois, como dizia Wilson das Neves, são assombrados como o pesadelo da possibilidade de o morro descer das favelas e não for carnaval.




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