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CRISE POLÍTICA | Aumentam as fissuras no regime e sobem as apostas em torno do impeachment

Os nós estão sendo desfeitos e os jogos e trapaças começam a atingir o seu clímax. Vários atores que tomaram protagonismo na política nacional no último ano começam a ver que os seus momentos de fama se aproximam do fim e alguns já decidem ir pro tudo ou nada

Adriano FavarinMembro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

sexta-feira 4 de março de 2016 | 00:08

As primeiras cartas na mesa: começam as apostas

Desde que a crise econômica começou a se aproximar do Brasil e, mais ainda, após as manifestações sociais de junho de 2013 atestarem o fim do ciclo lulista-dilmista, os fantasmas da instabilidade marcaram a superestrutura institucional da política no país. Na disputa sobre quem tomaria o assento do Planalto, Marina Silva (Rede), Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) fizeram suas apostas. O presidenciável Eduardo Campos (PSB) saiu do jogo antes mesmo da primeira rodada, mas sua morte simplesmente aumentou a cotação das apostas iniciais.

Após a vitória apertada de Dilma no segundo turno, a deflagração da fase ofensiva da Operação Lava-Jato trouxe Sergio Moro como um dos protagonistas na nova rodada. A eleição de Eduardo Cunha (PMDB) à Presidência da Câmara dos Deputados, apoiado pelo ‘cartel’ da bancada ruralista, militar e evangélica (apelidada de bancada BBB – bala, boi e bíblia) o elevou como antagonista dessa disputa de altas apostas. Mais ainda, teve o mando do jogo durante todo o ano de 2015, mas as suas manobras protelatórias o tiraram dessa localização privilegiada.

Outros jogadores acabaram se somando a mesa durante a rodada, como o Senador Delcídio do Amaral (PT), líder do governo no Senado, preso acusado de interferir para impedir a delação de um dos acusados da Operação Lava-Jato. O também vice-presidente Michel Temer (PMDB) teve sua chance de brilhar, mas se apressou em jogadas precipitadas e pode ter perdido inclusive sua aposta inicial. Os tucanos, que entraram no jogo com mãos abertamente divididas entre Aécio Neves (PSDB/SP), Geraldo Alckmin (PSDB/SP) e José Serra (PSDB/SP), buscam aparentar certo conluio. Na verdade, porém, cada um deles sabe o valor que tem dentro do pote e está disposto até à pancadaria para fazer pesar sua mão, como vimos indiretamente nas prévias para a definição do candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo.

A segunda rodada: alguns já ameaçam tudo-ou-nada

No último dia dois de março as mídias noticiavam eufóricas que Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da empreiteira OAS, condenado a 16 anos de prisão na Operação Lava-jato, iria aceitar o acordo de delação premiada. Poderíamos imaginar que nomes de outros empresários seriam denunciados e que bilhões de reais voltariam aos cofres públicos após essa delação. Mas não. O objetivo principal dessa delação é a possibilidade de Léo Pinheiro citar reformas feitas no sítio de Atibaia e no triplex do Guarujá, associadas ao ex-presidente Lula (PT) como patrimônio ocultado.

Ou seja, diferente das altas apostas que motivaram o início da Operação Lava-Jato, afetando grandes “global players” do empresariado brasileiro e envolvendo de 10 a 40 bilhões de dólares de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes, Sergio Moro direciona a condução da Lava-Jato para cima do alto escalão petista, suas apostas tem um cheiro de tudo-ou-nada. Não há montantes de dinheiro envolvido na movimentação de Sergio Moro, mas simplesmente a possibilidade de enquadrar e prender o ex-presidente Lula.

Essa rodada estremeceu toda a mesa do jogo. A “ida às cabeças” e a afronta direta a principal figura e único candidato do PT para as eleições de 2018 retiraram definitivamente da Presidente Dilma o controle que ela poderia ter do Palácio do Planalto. José Cardozo, seu último homem de confiança na bancada dos Ministérios, foi retirado da Justiça e realocado na Advocacia-Geral da União (AGU). Pelas beiradas, o Ministério Público e a Polícia Federal cogitam se essa movimentação tem o intuito de intervir sobre a atuação desses dois poderes. Wellington Silva, ex procurador-geral de Justiça da Bahia e atual Ministro da Justiça teria condições de fazer uma intervenção dessas para a última rodada ou seria um blefe desesperado do PT e do Planalto?

Independente disso, o pote encheu ainda mais. Na sequência da rodada, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu tornar réu o Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Ele será o primeiro político a responder por uma ação penal no Tribunal por conta das investigações da Operação Lava Jato. Essa decisão do STF reforça a movimentação pelo seu afastamento da Presidência da Câmara que segue na Comissão de Ética da Casa. O afastamento de Eduardo Cunha da Presidência da Câmara facilita, por sua vez, que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), formado por parte dos ministros do STF, avance no processo de cassação da chapa Dilma-Temer, evitando que a República seja presidida, ainda que por três meses, por Eduardo Cunha.

A última rodada: as cartas estão sobre a mesa

Mas, como apontado no início do artigo, o desfecho desse jogo se aproxima. Foi virada a última carta na manhã de ontem, dia 03/03, quando a revista IstoÉ vazou uma suposta delação premiada do Senador Delcídiodo Amaral no qual ele teria descrito “as ações decisivas da presidente Dilma Rousseff para manter na estatal os diretores comprometidos com o esquema do Petrolão” e teria demonstrado que, “do Palácio do Planalto, a presidente usou seu poder para evitar a punição de corruptos e corruptores, nomeando para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) um ministro que se comprometia a votar pela soltura de empreiteiros já denunciados pela Lava Jato.” O senador Delcídio também teria afirmado que “o ex-presidente Lula tinha pleno conhecimento do propinoduto instalado na Petrobras e agiu direta e pessoalmente para barrar as investigações.”

As movimentações aumentaram, todos apostam suas maiores fichas. Do lado do Planalto, Dilma se reuniu com José Cardozo e Jaques Wagner, Ministro chefe da Casa Civil para pensar estratégias de defesa. O Instituo Lula se apressou a afirmar em nota que o ex-presidente jamais participou de ilegalidades. A oposição subiu o tom, exigiu a saída de Dilma e a convocação de José Cardozo e do desembargador Marcelo Navarro do STJ para prestar esclarecimentos na Câmara. Aécio discursou na tribuna do Senado parafraseando Fernando Henrique Cardoso há seis meses pedindo pra Dilma, em um “gesto de grandeza”, que renunciasse o mandato. Até a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu acesso à delação para avaliar o processo de impeachment da presidente.

A defesa de Delcídio, porém, contestou ontem mesmo, em nota, o conteúdo da matéria "Nem o senador Delcídio, nem a sua defesa confirmam o conteúdo", afirma o texto, "Não conhecemos a origem, tão pouco (sic) reconhecemos a autenticidades dos documentos que vão acostados no texto." Estaria Delcídio em posse do que seria o Fiat Elba de Dilma? Teria Delcídio passado das meras posições iniciais para o possuidor do mando do jogo no momento? O Roberto Jefferson da Lava-Jato? Nada está descartado. O fato é que o regime está cada vez mais fragmentado e as apostas são cada vez maiores. Não há mais cartas para virar na mesa e ninguém tem tempo a perder.




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