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DEPOIS DE DAVOS, A VEZ DA MOODY’S | Aumenta a pressão imperialista por ajustes mais duros

2015 foi marcado pela crise econômica e política no país. Os capitalistas estão sendo ativos em garantir, com o apoio dos governos, que a crise seja descarregada nas costas dos trabalhadores e da juventude. Cada setor patronal quer “puxar a sardinha” para o seu lado, propondo uma resposta à crise econômica que lhe favoreça.

quarta-feira 3 de fevereiro de 2016 | 01:00

As centrais sindicais burocráticas servem de apoio para setores patronais e ao governo, e não para os trabalhadores. Por trás do pedido de impeachment, há um setor burguês que deseja um ataque ainda mais duro do que os que Dilma já implementa e prepara.

Somente a resistência ativa dos trabalhadores e da juventude pode impedir esses planos e fazer com que a crise seja paga pelos capitalistas.

Governo federal sempre servil ao capital financeiro, agora com Davos e FMI

Nesta terça-feira, 2/2, chegou a Brasília uma missão da agência de classificação de risco Moody’s, para uma nova avaliação do País. A probabilidade quase certa é de que ela seja a terceira das grandes agências de risco a rebaixar a nota do Brasil para os investimentos internacionais.

Semana passada o FMI havia afirmado que o Brasil está em uma “situação crítica”, que é um dos três principais motivos da crise mundial; rebaixou a previsão de crescimento do Brasil em 2016 para uma queda de 3,5% do PIB e afirmou que em 2017 ficaria estagnado. O diretor do Departamento para o Hemisfério Ocidental do FMI, Alejandro Werner, pressionou para maiores ajustes na economia, e afirmou que o governo teria que dar “sinais claros”, com maiores cortes e ajuste contra os trabalhadores.

Para o representante das finanças mundiais, ainda estamos vivendo um “lento ajuste interno”. Werner não fugiu do que já se tornou um script dos chefes das finanças mundiais e da imprensa brasileira, elogiando as medidas que o novo presidente argentino Macri anunciou em seu primeiro mês de governo, todas no sentido de atacar os trabalhadores e abrir espaço para o capital financeiro mundial.

A mensagem de Davos foi clara: mais ajuste e mais “abertura”. Já a presidente Dilma se disse “estarrecida” com as posições do FMI e, através de seu representante no Fórum de Davos, o ministro da Fazenda Nelson Barbosa reafirmou seus compromissos com os ajustes. É bom lembrar que, quando Barbosa assumiu a Fazenda no lugar de Joaquim Levy, o fato foi muito comemorado pelo petismo como uma sinalização de uma possível “guinada à esquerda” do governo. Tudo porque, para os petistas, significaria a saída de um representante aberto do capital financeiro especulativo para um “desenvolvimentista”, que poderia implicar uma nova injeção de crédito para estimular a economia. Mudança que também teria agradado a Lula, preocupado com a necessidade de uma mínima retomada econômica para melhorar o cenário para o PT nas eleições de 2016.

O fato é que Nelson Barbosa foi a Davos mandatado por Dilma para prestar contas para os representantes do imperialismo de que está fazendo o “dever de casa”; mas isso não adiantou, e o ministro acabou levando uma “bronca”. Os homens das finanças mundiais são implacáveis, e exigem mais ataques e mais rápido.
Barbosa reafirmou por lá que está cumprindo as “promessas” de ajuste feitas há um ano atrás na mesma Davos por Joaquim Levy, citando como “exemplos” justamente os ataques que mais sentimos: o ataque ao seguro-desemprego, à pensão por morte e a correção de preços de combustíveis, energia e câmbio. Mas não deixou de ressaltar, pois pra ele não basta: "Isso não elimina o fato de que muito precisa ser feito". E faltou ajoelhar pra pedir uma única autorização: ceder créditos (claro que a juros muito menores do que os pobres pagam no cartão e cheque especial, por exemplo) do BNDES, a título de capital de giro para os global players “amigos” do governo dos ramos da agricultura e construção. Escutou que eram medidas “heterodoxas”, ou seja, que não podem ser aceitas dentro da “ortodoxia” do ajuste. Barbosa implora por isso, mas jura que não estaria voltando à política do primeiro mandato “expansionista”, ou seja, que está cumprindo as ordens.

Demagogia para os trabalhadores, mais concessões aos empresários

Mesmo que Barbosa e Dilma consigam a “benção” do imperialismo para ceder créditos, como vimos, não se trata de uma medida que aponte para resolver a situação dos trabalhadores que estão pagando pela crise e sim para beneficiar os capitalistas. O crédito para trabalhadores que está sendo aventado pelo governo é com o nosso próprio dinheiro, do FGTS. A verba estatal fica para os capitalistas.

Além disso, está claro que mesmo que cedam essa linha de créditos do FGTS, é só pra dizer que estão pensando medidas para desafogar os trabalhadores da enorme crise, mas a própria Dilma sabe que o endividamento das famílias é tão grande, chegando a comprometer 46% do orçamento familiar, que não vai sequer ser muito requisitado, diz ela em entrevista no UOL: “Numa condição de depressão da demanda, é difícil ter uma demanda por crédito. Agora, nós percebemos que tem uma demanda por capital de giro”. Ou seja, não se trata de crédito para melhorar o consumo dos trabalhadores, mas para as empresas. O desenvolvimentismo e guinada à esquerda é algo difícil de encontrar.

Barbosa em Davos mostrou novamente que sua maior preocupação é com os investidores internacionais. Após conversar com vários destes “pobres coitados”, disse que “a maior angústia” (como estão sofrendo!) dos estrangeiros é a necessidade de “melhorar a regulação no Brasil, como o sistema tributário” e prometeu criar uma agência de fomento de investimento estrangeiro junto com o Ministério do Planejamento, tipo um BNDES só para os monopólios imperialistas, algo para facilitar que o Estado brasileiro financie a maneira como empresas estrangeiras vêm aqui rapinar nossos recursos. Ou seja, promete melhores benefícios para o capital financeiro internacional seguir no país das maravilhas tupiniquim.

Reforma da Previdência: um grande gesto para os ajustadores

Como se não bastasse, o governo segue decidido a ganhar terreno para aplicar uma reforma da previdência. Depois de já ter atacado ano passado com a reforma do fator 85/95, quer ir por mais, o que gera crises inclusive com sua base das centrais sindicais.

Esse tipo de medida faz parte da estratégia de reforçar a reforma fiscal, para agradar o mercado internacional.
A vinda da Moody’s, na véspera do carnaval, é apenas um meio de aumentar ainda mais a pressão para que esse tipo de ataque se consume, passando das palavras às ações, como reivindicava o ex-ministro Levy antes de deixar o cargo. As agências já manifestaram “preocupação” com a incapacidade do governo federal para cortar gastos.

A substituição de Levy por Barbosa se torna assim um elemento a mais de chantagem. Para a Moody’s, por exemplo, Barbosa é considerado abertamente como alvo natural de “desconfiança”, por ser tratado como uma espécie de contrapeso a Levy, que queria uma acomodação fiscal mais rápida.

Viraram fumaça as esperanças de “guinada à esquerda” rapidamente. O fato é que a saída de Levy após as manifestações contra o impeachment foi como “tirar o bode da sala”. O capital financeiro, especulativo em especial, neste país que é o paraíso dos juros e do lucro rápido, quer mais e o governo responde com reformas estruturais e outros acenos.

O cenário exige a maior vigilância e a mobilização ativa dos trabalhadores, pois enquanto o governo faz alarde da reforma da previdência, o ataque maior também pode vir de outro lado, mais silencioso, com medidas como o PLS 555.

Venha de onde vier, só a organização e mobilização independente da classe trabalhadora, recuperando para isso suas ferramentas históricas de luta, e construindo as novas que se façam necessárias, será capaz de enfrentar um desafio desse porte.




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