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GREVE DAS ESTADUAIS PAULISTAS | Ato das universidades estaduais paulistas marca um forte começo de greve

Cerca de mil pessoas entre trabalhadores, estudantes e professores da USP, Unesp, Unicamp, com presença de uma delegação de secundaristas, realizaram hoje o primeiro ato unificado da greve das universidades durante reunião de negociação com o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (CRUESP).

terça-feira 17 de maio de 2016 | Edição do dia

A manifestação começou a se concentrar por volta de meio dia no vão do MASP, com expressivas delegações chegando do interior de diversos campi da Unesp e da Unicamp. A greve, que se iniciou na semana passada, já mostra uma importante força.

Trabalhadores da USP foram os primeiros a votar sua greve, marcando o início dessa para o dia 12. No dia 10, estudantes da Unicamp, em uma assembleia histórica com cerca de mil pessoas, votaram greve e ocupação da reitoria.No dia 11, estudantes da Letras da USP mostraram também sua disposição de luta e aprovaram sua greve em assembleias cheias, ocupando o prédio do curso. A Pedagogia da USP também aprovou greve, e em seguida outros cursos aderiram ao movimento, como enfermagem. O movimento está um dinâmica ascendente forte.

O primeiro ato unificado marcou essa tendência. As pautas, mantendo as particularidades de cada universidade, apresentam questões em comum muito fortes. São contra ataques duros que vêm sendo aplicados pelas reitorias e pelo governo, como a proposta de desvinculação dos hospitais universitários da USP, que foi derrotada pela greve de 2014 e agora volta a ser apresentada pelo reitor Marco Antonio Zago. Ainda na USP, as creches vêm sofrendo ataques e a perspectiva da reitoria é fechá-las. E, num ataque histórico à organização sindical, a reitoria quer tomar a sede onde há 50 anos está localizado o Sindicato de Trabalhadores da USP (Sintusp). Na Unicamp, um corte no orçamento de R$ 40 milhões atinge principalmente os setores mais precarizados, trabalhadores terceirizados e estrutura dos cursos. Além disso, uma outra pauta forte nas universidades é a luta contra o racismo institucional, pela implementação de cotas nas universidades.

Segundo Tatiane Lima, coordenador do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp (CACH) e militante da Faísca – Juventude Anticapitalista e Revolucionária, “A mobilização que está se desenvolvendo hoje na Unicamp é histórica, com perspectiva de que supere mesmo a importante greve de 2007 contra os decretos de Serra. Hoje na Unicamp já são sete institutos em greve e quinze paralisados, e a perspectiva é de que a greve se expanda muito nos próximos dias e semanas. É fundamental que unifiquemos a greve nas estaduais e também com a exemplar luta dos secundaristas, que desde o ano passado vem heroicamente enfrentando o governo do estado contra os ataques deste, primeiro na reorganização escolar e agora contra a máfia das merendas. Precisamos de fortes comandos de greve e de um comando estadual de mobilização, para que essa luta tenha uma direção combativa e democrática a altura desse movimento, e que a partir das lutas da educação em São Paulo possamos fazer um chamado a uma greve nacional da educação, nos unificando com as lutas que já estão ocorrendo em outros estados, como Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Sul e alçando-as a um patamar muito superior, construindo uma greve geral na educação contra os cortes do governo golpista de Temer e de todos os governos estaduais.”

O bloco composto pelo Movimento Nossa Classe e a Juventude Anticapitalista e Revolucionária Faísca foi uma das presenças marcantes no ato. O Esquerda Diário falou com Jéssica Antunes, militante da Faísca e diretora do Centro Acadêmico de Letras da USP (CAELL), que falou sobre o bloco: “Viemos aqui hoje com delegações de trabalhadores e estudantes das diversas universidades, além de secundaristas de São Paulo e Campinas. A unificação entre os estudantes e trabalhadores é chave para conseguirmos derrotar os ataques do governo, trazendo para nossa luta os exemplos dos secundaristas, que é o que fizemos nas ocupações da Unicamp e da Letras, que sem dúvida são apenas o começo dessa mobilização. A aliança dos estudantes da Faísca e dos trabalhadores do Movimento Nossa Classe nas distintas universidades e escolas está a serviço de lutarmos não apenas para o fortalecimento dessa mobilização, mas para que ela expresse, como procuramos colocar aqui hoje, um programa que possa responder até o final a crise da universidade e da educação, um programa oposto pelo vértice tanto aos ataques feitos pelo governo Dilma quanto ao agravamento desses ataques que é o programa do golpista Temer. É a serviço disso que congregamos aqui hoje dezenas de lutadores de diversas universidades e escolas. Por isso nós da Faísca vamos construir e impulsionar em cada local que estamos uma forte mobilização na educação, e assim como fizemos no ato de hoje colocar todas as nossas forças para que essa batalha triunfe.”

Fala de Jéssica Antunes, da Faísca e diretora do Caell, no ato de hoje.

Fala de Adrielli Melges, secundarista e militante da Faísca. E Camila, secundarista estudante do Fernão Dias.

Professores pela Base, que compõem o Movimento Nossa Classe, participaram do ato.

O ato marchou do MASP até a sede do CRUESP, na Rua Itapeva, onde os reitores – com a marcante ausência de Zago, reitor da USP – recebeu a comissão de negociação do Fórum das Seis (espaço que congrega entidades representativas de estudantes, funcionários e professores das três universidades). Em relação à pauta salarial, a proposta do CRUESP foi uma verdadeira provocação: em contraposição à reivindicação dos trabalhadores de 12,34%, os reitores apresentaram uma proposta de ínfimos 3%, o que sequer repõe as perdas inflacionarias do período (segundo o DIEESE, a inflação foi de 9,34%, e segundo a tabela FIPE, usada pelo próprio CRUESP, foi de 10,04%), mostrando que o arrocho salarial é um dos caminhos que o governo quer impor para descarregar sobre os trabalhadores os custos da crise. O comunicado oficial do CRUESP ainda afirma que, na Unesp, o reajuste será feito “em período a ser definido oportunamente, respeitando-se suas disponibilidades orçamentárias e financeiras, e após decisão do seu Conselho Universitário” e na USP também estaria subordinado a decisão do Conselho Universitário. Na prática, portanto, mesmo essa proposta absurda não está garantida. As demais pautas sequer foram tratadas na reunião. Os efeitos dessa resposta do CRUESP nós veremos nos próximos dias, mas certamente podemos esperar um grande crescimento da greve das estaduais paulistas a partir desse anúncio de arrocho salarial por parte do CRUESP.




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