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OPINIÃO | Ascensão e queda de Cunha: um espelho para um regime político que cansou de se ver

Algumas linhas sobre Eduardo Cunha, sua ascensão meteórica e queda pífia. E como aprendemos desse processo a lutar contra todos Cunhas não somente esse Eduardo.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

terça-feira 13 de setembro de 2016 | Edição do dia

Para PC Farias, Eduardo Cunha era “um ás” conforme relata o colunista da Folha Mário Sérgio Conti. A vida política deste às fluminense foi mais duradoura do que a de seu patrocinador na política. De arrecadador de fundos para a campanha de Collor, a presidente (privatista) da Telerj, a radialista da base de apoio a Garotinho, a aliado e líder do PMDB em apoio de Dilma (2014) a imbatível e todo-poderoso presidente da Câmara. Chantagista de escrúpulos mínimos. Algoz de Dilma. Herói para o MBL e outros golpistas de FIESP. Garantidor do golpe institucional. Aplaudido. Execrado. Cassado. Abandonado ao relento com só dez míseros votos. Cunha é um espelho do regime político brasileiro.

O que trouxe de novidade à política pátria não foi nenhuma recôndita maldade especial, nenhum trato particular com Mefistófeles. Foi um espelho. Um espelho, daqueles de circo. Distorcido, de aumento. Talvez uma caricatura. Uma exacerbação de traços visíveis. Sua diferença frente a tantos Cunhas, como ele mesmo lembrou em seu derradeiro apelo aos mais de 160 deputados com processos no STF, é ter sido exatamente o mesmo que muitos outros só que ter sido o líder, o Ali Babá entre os (muito mais que) 40 ladrões.

Houve quem apostasse que seu poder residia em um especial poder sobre a mídia. Porém o latifundiário da palavra “deus” e “jesus” na internet oferece uma faceta que é comum a tantos outros políticos que não é isso que o diferencia, como argumentamos em um outro artigo, nem mesmo pode-se afirmar que Cunha era um líder somente do baixo-clero, nesta interessada leitura onipresente na mídia do que seria o “centrão” articulado desde sempre pelos poderosos. Cunha não era um pequeno, foi líder do maior partido de apoio a Dilma, influente político de um dos estados onde o PMDB tem mais força, o PMDB carioca.

Em junho de 2015, em meio a intermináveis manobras de Cunha escrevíamos que seu poder não residia em especiais habilidades ou em uma “ofensiva conservadora” mas na debilidade do PT, debilidade do PSDB e outras figuras mais “clássicas” do PMDB. Sua ascensão é explicada pela debilidade do PT desde 2013 e mais dramaticamente nas eleições de 2014 e uma oposição que ainda não lhe podia suplantar. Como uma aranha caranguejeira-macho fecundou o impeachment para depois morrer e ser comido em nome da prole futura.

Dias depois de consumado o golpe na Câmara o silencioso STF ergueu sua voz contra Eduardo Cunha. Peças se moveram. Tentou, manobrou, quase se safou. Mas precisava servir de alimento de “justiça” e “combate à corrupção” para moralizar o golpe institucional. O espelho não servia mais, mostrava um golpismo grande demais quando é hora de sobriedade e “bola pra frente”. Agora é hora de mostrar um regime refeito, com novas e mais restritivas leis contra a esquerda do que aquelas propugnadas por Cunha e sancionadas por Dilma, é hora de ataque aos direitos dos trabalhadores com força e intensidade maior do que Cunha já garantiu.

É hora, para nós inimigos do Eduardo, mas de todos Cunhas, de aprender que o combate a figuras como ele não se dá dando as mãos e em blitzkrieg de cafezinho como tanto tentou Lula. A luta contra a direita exige total independência política de todas variantes patronais. É preciso combater o regime político, seus privilégios, suas restrições à esquerda e não somente seus espelhos.




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