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ELEIÇÕES ARGENTINA | "As novas gerações tem que nascer para a vida política sem resignação”, entrevista com Raul Godoy

O ceramista e pré-candidato a deputado nacional da Frente de Esquerda Unidade, nesta entrevista conta quem é, o porquê votar a esquerda e chama a juventude a se rebelar e a construir uma grande força política para mudar tudo.

quarta-feira 24 de julho de 2019 | Edição do dia

Raul Godoy é uma referência histórica da fábrica de cerâmica Zanon, atualmente é deputado da província de Neuquén pela Frente de Esquerda (FIT - na sigla em espanhol) e concorrerá por uma cadeira no Congresso Nacional.

Nesta entrevista que deu ao La Izquierda Diaro na Argentina, parte de nossa rede internacional de diários, Godoy conta quem é; destaca a ampliação da unidade da esquerda nestas eleições, “uma unidade mais que necessária, porque reconhece a crise política e social que estamos atravessando”.

Denuncia o contraste entre os lucros milionários das multinacionais petroleiras e a pobreza e desigualdade que cresce na província de Vaca Muerta.

Assegura que votar na Frente de Esquerda Unidade (FIT - Unidad) é “uma importante mensagem aos poderosos e um ponto de apoio para nós que queremos enfrentar decididamente seus planos de ajustes e seus planos de fome”.

O ceramista fala para a juventude e a chama a não se resignar, a lutar para mudar tudo, a “se rebelar contra toda miséria, hipocrisia e caretice”. Godoy assegura que estão levando adiante uma campanha a plenos pulmões e convoca as mulheres, os trabalhadores e a juventude a se somarem a “fazer uma grande campanha da Frente de Esquerda Unidade”, mas também “a nossa luta pela estratégia de mudar essa sociedade”.

Quem é Raul Godoy?

Nasci e me criei em Centenário, uma localidade a alguns quilômetros da capital de Neuquén, terra de pioneiros e da melhor maçã, dizem. Tenho três filhas, duas nascidas em La Plata e uma em Neuquen, trabalhei na construção e tenho 25 anos de trabalho como operário ceramista. Hoje sou deputado de província pelo PTS, Partido dos Trabalhadores Socialistas, na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores.

Para mim foi um desafio ter saído da fábrica, depois de ser delegado e de ter estado a frente do sindicato como Secretário Geral, depois de rotativizar meu cargo, voltar a linha de produção e de repente dar um passo maior e entrar na bancada legisladora. Foi um desafio e uma grande responsabilidade.

Como o resto dos deputados e deputadas do PTS na Frente de Esquerda somos trabalhadores revolucionários que fazemos política e que nunca deixamos as ruas. Em Neuquen estivemos na linha de frente dos conflitos mais duros, com as trabalhadoras têxteis, os madeireiros, com as professoras, com os desempregados, com a juventude em defesa da educação e contra a repressão e criminalização dos jovens, junto a nossos irmãos mapuche, bancando a luta das filhas da maré verde e por consequência, em defesa das gestões operárias e a luta ceramista.

Nestas eleições se ampliou a unidade da esquerda. Uma unidade mais que necessária porque reconhece a crise política e social que estamos atravessando. Uma crise de caráter internacional que está repercutindo em nosso país. Está vindo um ajuste enorme atado aos planos do FMI e frente a isso não pode haver especulações, necessitava-se uma unidade para fortalecer a única alternativa anticapitalista que diz claramente que os empresários, as multinacionais petroleiras paguem pelas crises, e não o povo trabalhador.

Todos os candidatos falam de Vaca Muerta. O que acha?

Todos os políticos vieram tirar fotos em Neuquen. O que havíamos sempre lutado é que ainda tentem mostrá-la como modelo a seguir, o único exemplo que gerou Vaca Muerta foram ganâncias milionárias para os empresários e uma enorme desigualdade social. Isto vem se aprofundando e a maneira desenfreada por maiores ganancias empresariais já cobrou 8 vidas de trabalhadores petroleiros. Gerou-se derrames, contaminações, saques, temores na localidade de Sauzal Bonito. Judicializam e hostilizam as famílias e comunidades mapuches, como as do Campo Maripe. Inclusive toda obra pública que se projeta é em relação a Vaca Muerta, e todo o resto da província é deixada de lado.

Por isso dizemos que tem que mudar as prioridades, que toda a indústria hidrocarborifera tem que passar a serem estatais e gestadas pelos trabalhadores junto a profissionais das universidades públicas para botar todos os recursos naturais a serviço da comunidade.

A defesa das gestões sob controle operário é um dos eixos da campanha da FITUnidad?

Sim, toda a indústria ceramista na província de Neuquen, que gera os insumos para obras públicas está ameaçada. Se pensamos que se necessita casas, hospitais, escolas, de onde virá os ladrilhos, pisos, os revestimentos? Pensamos que a defesa das gestões operárias está de mãos dadas a luta por um plano de obras públicas, que gere empregos genuínos, que construa as 70.000 casas que fazem falta, quando a milhares de famílias vivendo em casas de alumínio. E é uma defesa da indústria ceramista da província e das 400 famílias que dependem desses postos de trabalho.

Sobre aborto e a Maré Verde qual a sua opinião?

Aqui está cheio de candidatos conservadores que se escondem e dizem que é melhor não falar sobre esse tema; nisto quero ser categórico, cada dia que passa sem se aprovar o aborto, legal, seguro e gratuito estão condenado a morte mais uma mulher. A Frente de Esquerda esteve sempre do mesmo lado, na Câmara Legislativa, no Congresso, e nas ruas lutando pelos direito ao aborto e nossa lista está cheia de referências da Maré Verde e do movimento de mulheres. Por isso dizemos que as jovens não tem que aceitar que temos que esperar, essa força demonstrada nos últimos anos tem que ser imparavel.

O que opina sobre o Serviço Cívico Volutario em Valores impulsionado pela ministra Bullrich?

Os mesmos políticos que hipotecam o futuro da juventude para pagar o Fundo Monetário Internacional, querem disciplinar e militarizar os jovens e os setores mais vulneráveis.

Os jovens que não tem trabalho e não puderam estudar, não necessitam que sejam formados nesses valores, nos valores dos assassinos de Santiago Maldonado, os que perseguem em seus bairros, os que reprimem os que lutam por seus direitos. O que se necessita é prioridade para a educação, meios para poder estudar e empregos de verdade.

Por que votar na FITUnidad?

O voto na Frente de Esquerda Unidade é uma clara mensagem ao poder político. Aos que mantém por décadas a desigualdade, a pobreza e a miséria. Aos que querem perpetuar a miséria do nosso país nas mãos de multinacionais que roubam nossos recursos, contaminam e aprofundam a dependência. A todos, governistas e oposição, que defendem os privilégios de poucos e querem seguir pagando a dívida ilegítima ao FMI.

O que diria aos jovens que votarão pela primeira vez?

A juventude tem que se rebelar contra tanta miséria, hipocrisia e caretice. Durante as últimas décadas os partidos tradicionais se encarregaram de governar para os empresários: privatizaram tudo, entregaram nossos recursos naturais, roubaram a aposentadoria de nossos avôs, roubaram nossa saude e precarizam a escola pública, para os que querem estudar não há materiais e nem oportunidades.

As novas gerações tem que nascer para a vida política sem resignação para lutar por seu futuro. Eu diria para os jovens que não estão condenados a ser mão de obra barata e escrava a serviço do poder politico. Os políticos tradicionais vendem um Boca vs. River para eleger entre os mesmos que vão mudando de camiseta, para manterem um cargo e garantir os privilégios de poucos.

A Frente de Esquerda pelo contrário é a única alternativa para essa juventude que não se resigna, para essa maré verde de meninas que inundaram as ruas e se fizeram escutar, aos que não estão dispostos a aceitar a pobreza e em quem da raiva a desigualdade. Nao guardemos essa enorme força porque não há nada que esperar.

Por isso estamos convencidos de que o voto na Frente de Esquerda será uma importante mensagem aos poderosos e um ponto de apoio para enfrentarmos decididamente seus planos de ajuste e seus planos de fome. Por isso queremos convidar essa juventude a que tome partido nessas eleicoes, a que se somem e sejam parte.

A Frente de Esquerda está impulsionando uma campanha a plenos pulmões.

Como podem se somar os que querem colaborar?

Recentemente os grandes partidos patronais governistas e a oposição reduziram o espaço público se rádio e televisão pela metade, o que prejudica especialmente as forças de esquerda; e, por outro lado oficializaram o financiamento empresarial das campanhas eleitorais. Ou seja que as campanhas de todos os partidos tradicionais tem patrocinadores e são patrocinados pelos grandes empresários, legalizando o que antes era apontado como truques.

A Frente de Esquerda, pelo contrário, faz uma campanha a plenos pulmões sem dinheiro dos empresários. Mas contamos com algo muito valioso que são os milhares de simpatizantes e colaboradores que tomam a campanha em suas mãos, que a levam aos locais de trabalho e estudo, aos bairros.

Por isso necessitamos que muitos mais se somem e sejam parte para defender as 40 cadeiras da Frente de Esquerda que são tribunos de denúncia e lutam sempre do mesmo lado, em defesa da causa dos trabalhadora e os direitos das mulheres e juventude.

Podem fazê-lo compartilhando nossas publicações, passando-as a seus amigos e familiares, compartilhando os materiais que mais gostarem em seu local de trabalho, com seus companheiros de faculdade e participando das atividades que impulsionamos.

Queremos que as mulheres, os trabalhadores e a juventude se somem a fazer uma grande campanha da Frente de Esquerda Unidade, mas também que se somem a nossa luta estratégica para mudar a sociedade.




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