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A agrupação Pão e Rosas terminou a primeira parte da oficina de debate sobre feminismo e marxismo ao calor do #NiUnaMenos, baseado no livro "Pão e Rosas: Identidade de Gênero e antagonismo de classes no capitalismo", de Andrea D’atri.

sexta-feira 10 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Este terceiro encontro, que se realizou em Ramos Mejía, recorreu principalmente ao capítulo cinco do livro, destinado ao rol e experiência das mulheres no primeiro estado operário da história. A semana de cumprir 100 anos daquele 8 de março que de iniciou a revolução russa, recuperar esta experiência é essencial pelo aporte das bolcheviques a luta das mulheres por sua emancipação.

No encontro anterior, havíamos abordado a contribuição do marxismo revolucionário, desde meados do século 19 até a primeira guerra mundial. Continuadoras dessa experiência seriam as bolcheviques russas.

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As mulheres russas frente a um novo século (XX)

O capítulo do livro em que esteve baseada a oficina, começa com uma inspiradora descrição das lutas e greves protagonizadas pelas mulheres trabalhadoras da Rússia no nascer do século XX. Nesses anos é que Alejandra Kollontai, adiantando-se a história, escreveu: "cada novo objetivo da classe trabalhadora representa um passo que conduz a humanidade até o reino da liberdade e da igualdade social: cada direito que ganha a mulher lhe aproxima da meta fixada de sua emancipação total".

Já em 1907, a militante bolchevique, proporcionará em seus textos de forma avançada, conta da degradação das relações sociais que sofrem as pessoas no seio da família, pela falta de autonomia material e portanto espiritual (no sentido de "subjetiva") das mulheres. Explicará como sobre essas célular familiares, se assenta o poder da sociedade e o Estado Capitalistaa. E deixará claro, o caminho a recorrer pelas socialistas, que levantam no alto das bandeiras da liberdade da mulher, como o horizonte de liberação da humanidade ligadas com a classe trabalhadora mundial.

Kollontai, sustentava que somente reformas radicais que afetem as relações sociais dariam um passo a libertação material e subjetiva das mulheres. Essas reformas radicais eram por exemplo que as obrigações familiares passassem a ser tarefas levadas a cabo pela sociedade e pelo Estado.

As bolcheviques, como Alejandra, foram continuadoras da tradição do marxismo revolucionário. Porém, se apresentou diante delas um novo mundo que nascia entre a guerra imperialista e a primeira revolução proletária. Com criatividade e audácia de ares libertários, deram respostas a grandes e novas realidades.

As mulheres na revolução

As trabalhadoras, principalmente as têxteis, deram início a revolução russa, quando o 8 de março (do calendário ocidental) protestaram reivindicando pão, paz e liberdade.

Imediatamente, e antes que os países mais adiantados do mundo, as mulheres russas conquistaram o direito ao voto, e ser votadas. Logo, perto da tomada do poder, em outubro de 1917, acenderam ao direito ao divórcio, ao aborto, a eliminação do poder civil, a igualdade entre matrimônio legal e concubinato. Quantos anos tiveram que passar para que somente alguns direitos se conquistem nos países capitalistas?

Wendy Z. Goldman, em sua valiosa investigação sobre o período, clarifica que "apesar das inovações radicais do código de 1918, os juristas assinalaram rapidamente ’que esta legislação não era socialista, e sim legislação para a era transicional’. Já que este código preservava o registro matrimonial, a pensão alimentícia, o subsídio de menores e outras disposições relacionadas com a necessidade persistente ainda que transitória da unidade familiar. Como Marxistas, os juristas estavam na posição estranha de criar leis que acreditavam que logo se converteriam em irrelevantes".

Criar estas leis era necessário, porém não suficiente para libertar as mulheres que estavam escravizadas ao trabalho doméstico, oprimidas pelos costumes ancestrais, que era necessário erradicar da cultura e da vida social. Uma transformação radical era necessária.

Educação, tarefas domésticas e família na revolução

Leon Trotsky em 1923 problematiza em "Questões do modo de vida" as transformações do meio familiar, como assumir uma educação coletiva e a socialização das tarefas domésticas. Ali afirmas que "a preparação material das condições para um novo modo de vida e uma nova família, não pode separar-se tampouco do trabalho da construção socialista. O Estado dos trabalhadores necessita maior prosperidade (...) a roupa suja deve estar a dever de uma lavanderia pública, a alimentação a cargo de refeitórios públicos, a confecção de roupa deve se realizar nas oficinas. As crianças devem ser educados por excelentes professores pagos pelo estado e que tenham uma real vocação para o seu trabalho. Então a união entre o marido e mulher se liberou da influência de todo o fator externo ou ocidental e já não poderá ocorrer que um deles absorva a vida do outro. Uma igualdade genuína será o fim a ser estabelecido. A união dependerá de um mútuo afeto".

A criatividade dos revolucionários era tão superior que até chegaram a delinear a ideia de criar cidade para crianças, autogovernadas e assessoradas por professores e trabalhadores de saúde.

"A revolução tratou heroicamente de destruir a antiga casa familiar corrompida, instituição arcairca, rotineira, asfixiante, que condena a mulher da classe trabalhadora aos trabalhos forçados desde a infância até a sua morte. A família, considerada como uma pequena empresa fechada, devia ser substituida, segundo a intenção dos revolucionários por um sistema acabado dos serviços sociais (...). A absorção completa das funções econômicas da família pela sociedade socialista, ao unir toda uma geração pela solidariedade e a assistência mútua, devia proporcionar a mulher, e em consequência, ao casal, uma verdadeira emancipação de jugo secular". Assim era como refletia Leon Trotsky, na Revolução Traída, a dinâmica revolucionária onde se destroem as reacionárias relações sociais de dominação do passado, e começa, a sentar-se as bases de outras novas, radicalmente opostas.
Porém dar passos em uma verdadeira emancipação não era possível em meio a miséria socializada, consequência da guerra civil e guerras imperialistas. A única possibilidade se encontrava no desenvolver da revolução internacional.

As mulheres no stalinismo

Com o stalinismo começou a etapa de reação sobre o que haviam sido as conquistas da revolução. Limitou-se a socialização dos serviços de viveiros, lavanderias e refeitórios, se desenterrou um culto a família, e se estabeleceu o matrimônio civil como única forma legal de união frente ao Estado, e até se suprimiu a seção feminina do Comitê Central do Partido Bolchevique, voltou-se a penalizar a homossexualidade, a criminalizar a prostituição e a proibir o aborto.

Primeiro a oposição de esquerda, e logo a IV internacional fundada por Trotsky, continuou a tradição do marxismo revolucionário, e as bolcheviques, nesse grito que dizia "Voz a mulher trabalhadora", enquanto enfrentava desde as forças imperialistas até a burocracia contra revolucionária de Stalinismo.

100 anos

Um século depois daquela experiência tem toda a sua vigência. Nem sequer os mais desenvolvidos estados capitalistas concederam direitos semelhantes. Porém, tendo em conta as condições do momento, foi o lugar em que mais alto se chegou no terreno de ideia e a imaginação, já que até questionar o "modelo do amor romântico burguês, que não é nada menos que o sentimento de propriedade modificado as relações pessoais, coisificando as pessoas e e gerando inveja e violência ". E onde os bolcheviques "ousaram imaginar e criar relações sociais despidos de coerção, a repressão, o despotismo e a mesquinhez família" (D’Atri, amor e revolução).

Neste próximo 8 de Março, preparamos um dia de luta, onde apostamos desde o Pão e Rosas que se desenvolvam comissões de mulheres nos lugares de estudo e trabalho, para impulsionar e exigir uma grande paralisação nacional pelos nossos direitos, para freiar os ataques que já estamos padecendo. Porém também é um dia em que se deve nas ruas e em outras iniciativas comemorarmos os 100 anos do início dessa grandiosa revolução que nos faz conscientes de que se elas se atreverem, nós também nos atrevemos.




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