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8 DE MARÇO | As jovens feministas: nos organizemos contra Bolsonaro, o patriarcado e os capitalistas

Um chamado as meninas e as jovens que em todo país se levantam contra o machismo e o patriarcado: nos organizemos contra o governo Bolsonaro e os ataques capitalistas.

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

quarta-feira 6 de março de 2019 | Edição do dia

Em todo o mundo as mulheres se preparam para a chegada do 8 de março, nosso dia internacional de luta, que se torna ainda mais necessário com o avanço da crise escancarando cada vez mais a relação entre o capitalismo e o patriarcado. Somos nós mulheres a maioria entre os pobres e explorados do mundo, seguimos com direitos básicos sendo negados, como o direito ao aborto, vemos crescer o número de casos de feminicídios e a desigualdade salarial. Para conseguir manter o equilíbrio de um sistema em profunda crise e implementar os ataques neoliberais, os capitalistas recorrem em diversos países a governos misóginos e reacionários da extrema direita, como Donald Trump nos EUA, Jair Bolsonaro no Brasil, Matteo Salvini na Itália, Ivan Duke na Colômbia e Rodrigo Duterte nas Filipinas.

Frente a estes carrascos, fica evidente que a juventude não deve absolutamente nada ao capitalismo, enquanto este promete e cumpre ataques substanciais às nossas condições de vida. Somos a geração que muito provavelmente não terá uma vida mais confortável que a dos seus pais, a geração que querem condenar a trabalhar até morrer para extensão dos lucros capitalistas. Logo, a palavra socialismo voltou a ser parte do imaginário de milhares de jovens por todo mundo, no coração do capitalismo imperialista mundial a maioria dos jovens entre 18 e 24 anos preferem o socialismo ao capitalismo. E ainda que essa palavra não esteja preenchida com todo conteúdo revolucionário dos mais de 200 anos de história do movimento operário internacional, ela é uma pequena demonstração de que o capitalismo não venceu, o motor da história segue vivo. Parte fundamental da consciência dos terríveis produtos do capitalismo é a raiva contra o patriarcado, e seu casamento perfeito com esse sistema buscando garantir que a crise seja sempre paga pela classe trabalhadora, da qual nós mulheres somos maioria e parte essencial na definição dos seus rumos.

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Esse conturbado momento político fez despertar um fenômeno internacional, onde milhares de meninas, jovens e trabalhadoras passaram a questionar o machismo e os efeito da crise sobre a vida das mulheres. Ao contrário do que afirmou o presidente do PSL, Luciano Bivar, estamos mostrando que política é sim para as mulheres. Não somente para as mulheres burguesas, como Tereza May, Angela Merkel ou Joice Hasselmann, que estão a serviço da implementação dos ataques capitalistas, garantindo a manutenção da opressão e da exploração. Mas daquelas mulheres que sempre foram deixadas de lado por esse sistema, as trabalhadoras e as jovens que estão na linha de frente dos principais processos de luta em todo mundo. Na América Latina gritando por Nenhuma a Menos e pelo direito ao aborto. Nos EUA, nas greves de professoras e contra o machismo e a xenofobia de Trump. Somos a cara dos Coletes Amarelos que sacudiram a França e abalaram o governo Macron, em toda Europa somos a linha de frente das greves operárias, das lutas contra a xenofobia, das manifestações contra as consequências das mudanças climáticas. Na Índia protagonizando a greve geral de mais de 200 milhões de pessoas. Entre diversos outros processos da luta de classes que começam surgir como uma resposta daqueles que sempre foram explorados e oprimidos por esse sistema decadente. E na linha de frente desse fenômeno, uma geração de meninas e jovens que aprenderam desde cedo a questionar o machismo e a opressão que as mulheres estão submetidas.

No Brasil do golpe institucional, a primavera feminista

No Brasil, essas jovens mulheres despertaram para política após junho de 2013, com a primavera feminista, e a onda de ocupações de escolas e universidades por todo país. Vimos o Brasil passar por um golpe institucional, pelas greves gerais de 2017, que foram traídas pelas burocracias sindicais e levou a implementação da reforma trabalhista. Ao mesmo tempo que empresas como a Rede Globo - apoiadora da ditadura militar, fiel defensora do golpe e da Lava Jato - mudavam seus programas e propagandas com conteúdos mais abertamente machistas, racistas e LGBTfóbicos. Uma expressão distorcida da nossa força, mas também uma tentativa aberta de cooptar todo potencial de questionamento das mulheres para estratégias de empoderamento individual e principalmente para gerar a ilusão de que é possível avançar nos nossos direitos ignorando que o país passava por um golpe institucional, que pelo contrário busca subordinar ainda mais todas as nossas riquezas para o imperialismo.

Tudo isso aconteceu enquanto o autoritarismo judiciário avançava para ditar os rumos da política, tendo sua máxima expressão na prisão arbitrária de Lula, e nas eleições mais manipuladas da história desse país, que levaram a vitória de Jair Bolsonaro. Os tiros que assassinaram Marielle permanecem impunes como uma das feridas do golpe institucional, mas também como um recado dessa extrema direita que ascendeu ao poder sobre qual o lugar que eles desejam para as mulheres, os negros e os LGBTs. Nos levantamos para questionar a moral e a ordem, lutamos contra a cura gay, o estatuto do nascituro, contra os feminicídios, os estupros e pelo direito ao aborto. Nos enfrentamos com os reacionarismos de Felicianos, Malafaias, e Cunhas. Ocupamos milhares de escolas e universidades pelo nosso direito à educação, para conhecer a nossa história.

Leia também: Demagogia de Bolsonaro não engana: a reforma da previdência ameaça a vida das mulheres

Agora nos deparamos com um governo que ideologicamente busca questionar cada avanço em nossos direitos nos últimos 500 anos, para implementar seus projetos de profundos ataques. A mãe de todas as reformas, a reforma da previdência para nos fazer trabalhar até morrer, em nome de manter o pagamento de uma dívida que só serve para enriquecer banqueiros e empresários. A reforma trabalhista para legalizar um país onde os trabalhadores não tem direitos, enquanto o desemprego permanece altíssimo. Os ataques na GM e as demissões na Ford são um dramático exemplo dessa situação. Nas escolas e universidades de todo o país, querem o Escola sem Partido para combater a "ideologia de gênero", para censurar a voz daqueles que ousam se levantar para questionar as estruturas de um país construído sob o sangue negro e indígena, e a opressão milenar as mulheres. Defendem ensino religioso, o avanço da privatização e da lógica de um conhecimento cada dia mais voltado para os interesses dos empresários, de preferências os dos países imperialistas.

O projeto de país que querem implementar é um Brasil de ainda mais miséria e escravidão para população trabalhadora. Querem aumentar o poder dos latifundiários, das igrejas, e dos capitães do mato que assassinam a população negra. O poder daqueles que o programa dos governos petistas jamais foi capaz de questionar, foi para eles que o PT rifou nossos direitos, transformando-os em pilares de seus governos. Disso é necessário traçar duas conclusões: a conciliação de classes não serve para defender os interesses das mulheres e da classe trabalhadora, já que a burguesia lucra ainda mais com a opressão e se alimenta da exploração. E também do necessário questionamento ao papel das burocracias que transformaram nossas entidades estudantis e sindicais em aparatos descolados das nossas demandas, avançar para entender que a unidade não pode ser com aqueles que defendem o golpe e as reformas, acreditando que apenas o parlamento é a saída. É em base a esses elementos que debatemos com as companheiras do PSOL sobre qual o papel esse partido poderia estar cumprindo, ao invés ser o articulador da oposição meramente parlamentar, junto à Rede de Marina Silva e do Itaú, e o PSB de Jonas Donizette, linha de frente da implementação da Reforma da Previdência nos municípios. O PSOL se furta de cumprir este papel, e em vez de organizar em cada local de trabalho e estudo e exigir das grandes centrais sindicais e estudantis um plano de lutas de fato, sua política segue funcional à conciliação de classes petista, inofensiva frente aos ataques da extrema-direita, ainda que extremamente atacada pela extrema-direita, com Marielle Franco, assassinada há mais de 11 meses.

A tentativa de golpe imperialista na Venezuela mostra os anseios mais profundos do imperialismo de Donald Trump para interferir politicamente na América Latina, e tem no governo Bolsonaro um fiel capacho das suas intenções. Sem dar nenhum apoio político ao governo Maduro temos que rechaçar essa ingerência imperialista. Se triunfa um golpe de Estado na Venezuela, conduzido pelos Estados Unidos, os governos da direita e da extrema direita, como Bolsonaro no Brasil, sentirão fortaleza para aplicar os mais duros ajustes neoliberais contra os trabalhadores, sob a tutela de Trump. E nós mulheres somos o principal alvo desses ataques.

Organizar em nossas escolas e universidades: um feminismo socialista contra o conservadorismo e os ataques de Bolsonaro

Enquanto feministas socialistas, nós do Pão e Rosas estamos construindo nas escolas, nas universidades, fábricas e demais locais de trabalho o debate sobre como construir a verdadeira unidade entre a classe trabalhadora e a população pobre e oprimida. Defendendo um programa que questiona o pagamento do roubo da dívida pública, ao invés de achar que é necessário algum tipo de reforma da previdência. Um programa que questiona a lógica empresarial desse sistema em decadência, que provoca Brumadinhos e Marianas, tragédias capitalistas. Um programa que permita que nos organizemos para responder a cada um dos ataques que preparam contra nossos direitos, pois nossa luta é para revolucionar cada milímetro desse sistema de opressão e exploração. Pelo nosso direito a livre construção de sexualidade e de gênero, contra a castração moral com vítimas fatais defendida por Bolsonaro e seus aliados, nós defendemos o livre amar. Por tudo isso, estaremos nas ruas no dia 8, junto às mulheres de todo o mundo, e no dia 14, exigindo justiça por Marielle. Lado a lado com as jovens, as meninas, as trabalhadoras, e nossos companheiros homens, lutando não somente pelo nosso direito ao pão, mas também as rosas.

No Carnaval, além do emocionante desfile da Mangueira, cantando a história dos heróis jamais falados, da luta do povo negro e indígena, das mulheres guerreiras que construíram nosso país, de Marielle e tantas outras lutadoras negras. Também tomamos às ruas contra a moral conservadora e retrógrada de Bolsonaro e seus aliados. Nosso grito pela liberdade sexual, contra o machismo, o racismo e a LGBTfobia ecoou em pelas ruas, junto aos milhares bloquinhos por todo país, e mostraram o enorme potencial de luta presente em cada um de nós. Essa força que espontaneamente se expressou na maior festa tradicional do nosso país, agora também precisa de um lugar para ser cada vez mais consciente na vida de todas nós.

Por isso, nós do Pão e Rosas também batalharemos em algumas das principais universidades do país para que os centros acadêmicos e DCEs organizem um democrático congresso de estudantes que permita nos organizarmos em cada universidade, que elegerá representantes em cada curso a partir de um amplo debate capaz de envolver o conjunto dos estudantes e debater cada um desses temas tão fundamentais em nossas vidas. Imaginem a força que poderia ter se num espaço assim possamos votar um chamado aos sindicatos de trabalhadores para organizar um plano de lutas em comum contra a reforma da previdência? Organizar panfletagens e discussões que envolvam não somente os estudantes universitários, mas que unificasse os professores e os secundaristas contra o Escola sem Partido? Um plano que nos permitisse ir panfletar nas fábricas, ou abrir as portas das universidades para compartilhar o conhecimento produzido ali com os trabalhadores que as sustentam? E que junto pudéssemos pensar qual a melhor forma de organizar nossa luta contra a reforma da previdência que quer nos obrigar a trabalhar até morrer? Esse é um dos combates que nós do grupo de mulheres Pão e Rosas iremos dar junto aos companheiros da juventude Faísca, buscando fazer com que essa força das jovens mulheres feministas que nos últimos anos ficou cada mais explosiva, possa confluir com a das trabalhadoras e com o conjunto da nossa classe para lutar contra cada ataque planejado por Bolsonaro.

Nos organizamos para combater a extrema direita e seu programa reacionário e neoliberal, inspiradas nas grandes mulheres que fizeram história, como a maior dirigente mulher do movimento revolucionário internacional, Rosa Luxemburgo.

Vem junto com o feminismo socialista do Pão e Rosas, organize-se conosco!

“Imagino o efeito que teria, para milhares de mulheres e meninas de todo o mundo que agora se levantam como uma força imparável contra o patriarcado, saber que Rosa ainda era uma estudante secundarista quando se uniu ao movimento revolucionário clandestino na Polônia, passando a partir daí a exalar energia comunista em cada uma de suas ações e discursos, buscando atingir a todos como uma trovoada.”

Diana Assunção no Prólogo de Rosa Luxemburgo: pensamento e ação




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