O dólar voltou a subir e o risco-país atingiu 2.112 pontos. O Banco Central Argentino vendeu 367 milhões de dólares e o sangramento não para. O governo anunciou o adiamento do vencimento da dívida, uma inadimplência seletiva. A pilhagem se aprofunda. Medidas necessárias para evitar o colapso.
quinta-feira 29 de agosto de 2019 | Edição do dia
O dólar saltou na quarta-feira para 60,17 pesos argentinos, apesar da venda de 367 milhões de dólares em reservas e do leilão de 60 milhões de dólares em nome do Tesouro. A pilhagem de recursos não para. O Governo anunciou o adiamento dos vencimentos da dívida (inadimplência seletiva) e o início do diálogo com o FMI para estender os prazos de vencimento. Ou seja, jogar para o futuro os pagamentos da dívida.
O que fazer para interromper a pilhagem de recursos?
Inverter as prioridades: Não ao FMI. Dinheiro para o trabalho, saúde e educação
O governo propõe discutir no Congresso um projeto de lei para estender os termos da dívida local sem retirada de capital.
O candidato a presidente pela Frente de Esquerda - Unidade (da qual o PTS, organização irmã do MRT na Argentina, faz parte), Nicolás del Caño, criticou as medidas anunciadas pelo ministro da Economia, Hernán Lacunza.
Del Caño declarou: "eles abrem o Congresso para salvar os especuladores, renegociando a dívida ilegítima".
Abren el Congreso para salvar a los especuladores re-negociando la deuda ilegítima. Hay que discutir medidas que terminen con la fuga de capitales y el chantaje de los mercados. Sólo la nacionalización del sistema bancario y del comercio exterior pueden empezar a frenar el saqueo
— Nicolas del Caño (@NicolasdelCano) August 28, 2019
A dívida é um fardo pesado. O próximo governo terá de enfrentar pagamentos no total de 166 bilhões de dólares em quatro anos, a uma média de 41,513 bilhões de dólares por ano, ou seja, quase 10% do PIB irá para as mãos do capital financeiro por ano.
O candidato da Frente de Todos (Frente eleitoral de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner) questionou repetidamente o endividamento do macrismo, mas foi responsável por repetir que a dívida será paga sem analisar suas irregularidades. Isso significa pagar uma dívida que inclui o título de 100 anos emitido pelo ex-ministro das Finanças Luis Caputo.
A história da dívida argentina é cheia de ilegalidades. A dívida pública aumentou exponencialmente durante a ditadura. O juiz Jorge Ballestero emitiu uma decisão onde foram verificados 470 crimes na conformação da dívida pública durante a ditadura com base em uma denúncia de Alejandro Olmos Gaona. Por que temos que continuar pagando essa dívida ilegal?
A Frente de Todos, para ser consequente com suas críticas ao endividamento macrista, deveria pelo menos suspender os pagamentos e realizar uma auditoria da dívida. Mas não. Eles estão determinados a pagar cada dólar ao custo de atacar as maiorias populares.
A esquerda propõe inverter as prioridades e garantir recursos para melhorar a educação, a saúde e não os especuladores. Não ao FMI. Na matéria a seguir, a redação do La Izquierda Diario, mostra as razões para entender porque não pagar a dívida:
La deuda es una estafa: razones para entender por qué no hay que pagarla
Por um banco único estatal
Nicolás del Caño twittou que "um único banco estatal, como propomos a partir da Frente de Esquerda, não apenas impediria a fuga de capitais, mas é o caminho para proteger pequenos poupadores que sempre são enganados como aconteceu em 2001 com o corralito". (Corralito foi uma política onde congelaram-se os depósitos dos poupadores e estabeleceram-se limites semanais para a retirada de fundos, similar com as medidas tomadas pelo Plano Collor no Brasil)
Os bancos são os grandes vencedores dessa crise; nos últimos doze meses, eles faturaram 241,4 bilhões de dólares. A fuga de capitais até agora este ano atingiu 13,832 bilhões de dólares
Em julho, houve uma saída de investimentos em carteira relacionados à “bicicleta financeira”. Apenas dez bancos concentraram 82% das operações de compra e venda de dólares, incluindo Santander Río, HSBC, BBVA Francés, Citibank, BNP Paribas, Galicia, ICBC, Banco Provincia, Banco Nación e JP Morgan Chase.
Temos que nacionalizar o sistema financeiro e criar um único banco estatal. Essa é a única maneira de evitar a evasão e a fuga organizada pelos capitalistas e garantir o valor dos ativos para os pequenos poupadores. Seria também uma ferramenta para crédito barato para moradias populares ou para o pequeno comerciante afogado pela crise.
Pelo monopólio estatal do comércio exterior
Nicolás del Caño disse que “devemos discutir medidas que acabem com a fuga de capitais e a chantagem dos mercados. Somente a nacionalização do sistema bancário e do comércio exterior podem começar a parar os saques.”
Una banca estatal única como proponemos desde el @Fte_Izquierda no sólo evitaría la fuga de capitales, sino que es la forma de proteger a los pequeños ahorristas que siempre son estafados como pasó en el 2001 con el corralito.
— Nicolas del Caño (@NicolasdelCano) August 28, 2019
Um pequeno grupo, apenas 200 empresas, que compõem a cúpula econômica responde por quase 70% das exportações. Muitas empresas remarcaram os preços após a desvalorização, como grupos nacionais argentinos que são também multinacionais (Techint ou Arcor), empresas de cereais (Cargill, Bunge, AGD, Vicentín, Dentfus, Toepfer, Molinos Río de La Plata e Nidera), empresas do setor automotivo e de mineração.
O monopólio do comércio exterior permitiria a administração de dólares provenientes de exportações com base nas necessidades dos trabalhadores e não decidida por exportadores que especulam com uma taxa de câmbio mais alta.
Além disso, essas medidas exigem um conjunto de medidas de emergência para evitar os ataques aos salários e a contínua piora das condições de vida dos trabalhadores. Como destacou Nicolás del Caño, “juntamente com medidas emergenciais, como o aumento imediato de salários, pensões e planos sociais, a proibição de demissões e o cancelamento de tarifas. Nós devemos discutir as prioridades do povo trabalhador !! ”
Junto a medidas de emergencia como el aumento inmediato de salarios, jubilaciones y planes sociales, la prohibición de los despidos y la anulación de los tarifazos. Hay que discutir las prioridades del pueblo trabajador!!
— Nicolas del Caño (@NicolasdelCano) August 28, 2019