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CHACINA OSASCO | “Aqui no bairro, ninguém tem dúvida de que foi a polícia”, diz moradora durante ato na cidade de Osasco

domingo 16 de agosto de 2015 | 20:22

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Neste Domingo, 16 de Agosto, ocorreu no bairro do Munhoz Júnior, na zona norte de Osasco (SP) o ato Contra o Genocídio na Periferia, chamado pela União dos Estudantes de Osasco (UEO) que reuniu cerca de 80 pessoas, entre militantes de movimentos sociais e moradores da região. Ocorrida em frente ao bar onde houveram a maioria das mortes, a manifestação foi uma resposta à chacina desta quinta-feira (13) e também uma demonstração de apoio e solidariedade aos familiares e amigos das vítimas.

O ato era composto em sua maioria por estudantes secundaristas da região de Osasco que em diversas falas denunciavam a falta de espaços de lazer e cultura para a juventude da periferia, o aumento da repressão policial e também a proposta de redução da maioridade penal que visa encarcerar toda a juventude, sobretudo os jovens pobres, negros e periféricos.

Segundo o relatório final da CPI Contra o Genocídio da População Preta, homicídio é a principal causa de morte dos jovens entre 15 e 29 anos, atingindo sobretudo o perfil de jovens negros, do sexo masculino, de baixa escolaridade e moradores da periferia. Perfil da maioria dos jovens assassinados em Osasco nesta quinta-feira, demonstrando como estes são os alvos prioritários da violência policial.

Segundo depoimento de moradora da região, que preferiu não se identificar, “aqui no bairro, ninguém tem dúvida de que foi a polícia”. Com um assassinato de um policial militar ocorrido na semana anterior, a chacina parece ser uma cruel resposta dos conhecidos grupos de extermínio da PM, e por conta disso, os próprios moradores já não confiam nos policiais. Um jovem secundarista morador de outra região de Osasco, que foi ao ato para demonstrar seu apoio contra a chacina, declarou ao Esquerda Diário: “Eu vim participar porque o que acontece nas quebradas é bastante tirania, e tirania é abuso de poder, os caras abusam do poder que eles tem”.

Os números do Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/Datasus) apontam que houveram 206 mil homicídios no País, entre 2008 e 2011 – média de 51,5 mil por ano ou de 141 por dia. Só em 2011 mais da metade dos 52 mil mortos por homicídio eram jovens (53,3%), dos quais 71,44% eram negros e 93,03%, homens. Esses dados vão de encontro ao relatório da CPI, que reconhece o genocídio da população negra e assume que o racismo, principalmente o racismo institucional, são fatores determinantes da violência e do encarceramento contra os jovens negros.

Odete Cristina, militante da Juventude às Ruas declarou que: “Ao mesmo tempo que a direita se articula com a elite e a classe média para saírem às ruas fazendo aparecer setores que reivindicam a intervenção militar no Estado, a juventude periférica sai às ruas contra o extermínio dos negros e pobres praticado pela polícia do Alckmin e do PSDB, a mesma que hoje na paulista tirava foto com os manifestantes.”

Mateus Pinho, também militante da Juventude às Ruas e morador de Osasco, disse: “Se por um lado, a direita e o PSDB propõe no congresso a redução da maioridade penal, por outro lado o PT articula a aprovação do aumento das penas do ECA. Ambas as medidas são ataques diretos à toda a juventude, sobretudo os negros e pobres, e visam encarcerar aqueles jovens trabalhadores da periferia que sobreviverem às chacinas como a que ocorreu quinta-feira aqui neste bairro.”

O momento mais emocionante do ato foi quando a mãe de uma das vítimas conversou com os manifestantes e disse que “Não vamos deixar isso impune, é o que eu quero não só pro meu filho, mas pra todos que foram assassinados. Agora eu tô aceitando a morte, mas não tô aceitando como foi essa morte. Nem do meu filho nem dos outros.”

Também estava presente no ato Marcelo Pablito, diretor do SINTUSP (Sindicato dos trabalhadores da USP) e responsável pela Secretaria de Negros e Negras e de Combate ao Racismo do sindicato, que declarou: “Acompanhei de perto a repercussão da chacina entre os trabalhadores e o medo dos moradores da região Oeste da grande São Paulo, diante de ameaças e da imposição do toque de recolher dos últimos dias. Essa mesma policia que assassina a juventude negra e trabalhadora da periferia é a que a reitoria da USP quer colocar no campus para controlar as atividades politicas dos trabalhadores e estudantes. Não podemos aceitar essa instituição racista que cumpre este papel repressivo, seja nas periferias ou nos locais de trabalho e estudo.”




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