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RETORNO INSEGURO | “Aqui é uma escola particular, então quem decide é o cliente"

“(...)todo dia tem aluno tossindo, com coriza. Porque aqui é uma escola particular, quem decide é o cliente! Não importa o protocolo que façamos, o pai decidiu mandar a criança na escola, ela recebe. No fim o patrão não quer perder o cliente, né? Mesmo que exponha a gente que trabalha na escola.”

Sergio AraujoProfessor da rede municipal de São Paulo e integrante do Movimento Nossa Classe Educação

sábado 22 de maio de 2021 | Edição do dia

Foto: Agência Brasil - EBC

A reabertura insegura das escolas com a pandemia completamente descontrolada e sem que as comunidades escolares possam dizer como e quando as escolas devem reabrir, já levou a centenas de mortes de trabalhadores da educação. Nas escolas públicas temos instalações completamente precários e inseguros – fruto de anos e mais anos de desmonte e sucateamento da educação pública no país – poucos banheiros, sem ventilação adequada, sem quadro de funcionárias da limpeza suficiente para limpar e sanitizar os espaços entre tantos outros problemas. Os educadores se expõem em transportes lotados e seguem se expondo no trabalho. Porém, ainda assim os governos impuseram a reabertura das escolas para atender aos interesses dos empresários das escolas privadas.

Mas tampouco o dia a dia dentro das escolas particulares é tão seguro para os educadores e alunos. Essa semana uma professora de uma rede particular da cidade de São Paulo nos procurou relatando como os protocolos de segurança que devem ser rigidamente seguidos pelos funcionários só é cumprido até o momento em que entra em conflito com “as vontades dos clientes”, ou seja, com os pais dos alunos.

“Pra nós professores tem uma série de protocolos, tapete higiênico pra limpar os pés, temos que trocar de roupa quando chegamos do transporte público etc etc, e temos um e-mail que também foi enviado aos país que diz que se o filho estiver com qualquer tipo de sintoma não é para enviar para a escola. Mas todo dia tem aluno tossindo, com coriza. Porque aqui é uma escola particular, quem decide é o cliente! Não importa o protocolo que façamos, o pai decidiu mandar a criança na escola, ela recebe. No fim o patrão não quer perder o cliente, né? Mesmo que exponha a gente que trabalha na escola.”

Esse pequeno relato é uma pequena mostra de como os patrões não dão a mínima para as vidas dos educadores. Desde que seja para manter os alunos e garantir seus lucros não tem nenhum problema expor os professores ao risco. Ou então ter que submetê-los a uma rotina de ter que fazer um teste de covid praticamente a cada três semanas, como nos contou essa professora de outra escola na Zona Norte da cidade de São Paulo:

“Nós estamos em maio e começamos a dar aula em fevereiro. Só esse ano eu já fiz 7 testes.” Eu cheguei no laboratório e o médico perguntou assim, você é professora ou bancária? Ah porque aqui só vem professor e bancário todo dia para ser testado. Estamos com nosso corpo exposto o tempo inteiro e pros donos das nossas escolas é natural que a gente esteja o tempo inteiro se submetendo à um teste. Eu tenho convênio e consigo fazer teste. Mas o que não tem convênio está ferrado! Ou tira do próprio bolso, quando tem dinheiro, ou não faz. E se estiver assintomático segue trabalhando, torcendo pra não estar contaminando outras pessoas, porque é não tem o que fazer.”

Esses relatos de duas escolas diferentes mostram para a gente que esse novo “normal” da educação no país expõe as vidas de educadores e alunos também das escolas particulares. A reabertura insegura das escolas é uma política que já levou a morte centenas de trabalhadoras da educação. E está somente a serviço de garantir os lucros dos patrões em cima das nossas vidas.




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