×

GOVERNO BIDEN | Apoio de Biden à Israel: uma primeira experiência de massas com o novo líder do imperialismo

Visto por muitos setores progressistas como uma esperança de mudança, o novo mandatário americano mostrou sua verdadeira face no apoio à Israel em seu recente ataque ao povo palestino, evidenciando o que viemos denunciando no Esquerda Diário há tempos: que o imperialismo é a reação em toda linha.

sexta-feira 21 de maio de 2021 | Edição do dia

O sistema político americano vem passando por sua maior crise em décadas. Frente à crise econômica de 2008, cujos efeitos persistiram até hoje, se espalharam crises orgânicas* pelo mundo todo, gerando uma imensa crise política que fortaleceu os extremos. Nos EUA, essa crise atingiu em cheio, tendo sua expressão na eleição de Donald Trump. No entanto, a crise orgânica também teve suas expressões à esquerda. Hoje, a maioria da juventude americana é simpática ao socialismo, ainda que isso seja num sentido bem reformistas. Figuras progressistas e que falam de socialismo dentro do partido democrata, como Bernie Sanders e AOC, além de grupos como o Democratic Socialist of America (DSA) cresceram exponencialmente.

A política e o discurso racista, LGBTfóbica e machista de Trump, somada à desastrosa gestão da pandemia – onde hoje os EUA ocupam o posto de país com mais mortes por covid no mundo – aprofundaram o desgaste não só de Trump, mas do sistema político americano de conjunto. Isso se expressou no movimento Black Lives Matter, que é considerado a maior mobilização da história do país e consolidou profundas mudanças políticas na subjetividade da população norte-americana, sendo um giro à esquerda na juventude em amplos setores da sociedade estadunidense. Além disso, a retórica agressiva e as políticas unilateralistas de Trump, além do apoio descarado à líderes de direita odiados mundo afora, como Bolsonaro, fez com que o questionamento ao imperialismo americano também crescesse, tanto nos países de terceiro mundo como também nos centros imperialistas europeus e no próprio Estados Unido, aprofundando a crise da hegemonia mundial do imperialismo americano. Contribuiu para aprofundar o desgaste que as atenções mundiais se voltaram para o próprio processo eleitoral do país, que se reivindica “a maior democracia do mundo” mas que é absurdamente caótico e antidemocrático.

Tal desgaste interno e externo começou a se constituir num problema estratégico não mais apenas para o governo Trump, mas para a burguesia do principal país imperialista do mundo. Com a missão de desviar o movimento do Black Lives Matter para dentro do Partido Democrata e relegitimar o sistema poítico e o imperialismo americano é que se elegeu Joe Biden. Para isso adotou um discurso mais “progressista” em relação às pautas democráticas e também sobre a questão da desigualdade. Tentou apagar seu passado racista e machista e colocou como vice Kamala Harris, uma procuradora negra (que apesar de tudo era conhecida por ser bastante linha dura com os negros que não tinham atingido seu mesmo status social dentro do Estado burguês). Uma vez eleito, Biden também tenta aprovar um pacote de infraestrutura que promete criar diversos empregos.

Para ajudar em sua missão de desviar as mobilizações também contou com a ajuda da esquerda reformista americana, uma grande parte dela reunida no partido democrata. Toda sua ala progressista – liderada por Bernie Sanders - que até meados do ano passado denunciava como establishment do partido sistematicamente boicotava os candidatos progressistas em nome dos políticos tradicionais, de repente passou ao apoio acrítico a Joe Biden. Tal posição também arrastou o DSA e uma série de intelectuais progressistas como até mesmo Noam Chomsky, que falavam que a grande missão do movimento Black Lives Matter seria eleger o candidato democrata.

A vitória de Joe Biden também entusiasmou setores da esquerda e do “progressismo” em vários lugares do mundo, inclusive nas terras tupiniquins. Inclusive correntes do PSOL como o MES e a Resistencia apoiaram Biden, com Luciana Genro reivindicando a vitória da “luz contra as trevas”. O próprio Lula fez vários acenos ao novo presidente, reivindicando inclusive que esse chamasse um G20 para resolver a questão das vacinas, assim como também não era incomum ver setores de esquerda e do progressismo repetindo o discurso da grande mídia da necessidade de se encontrar um “Biden brasileiro”. A batalha pela independência de classe, pela construção de uma esquerda revolucionária e fortemente anti-imperialista ficou restrita a poucas vozes naquele momento, batalha da qual o MRT Esquerda Diário, junto com seu irmão americano Left Voice, tem orgulho de ter dado desde o início.

Claro que desde o primeiro momento Biden já deixou claro que a natureza do imperialismo americano ficou imutável. Desde o início deixou claro que pretendia ser mais agressivo com a China que seu antecessor e com um mês de governo bombardeou a Síria.

No entanto, a crise aberta com a posição do governo frente aso recentes ataques de Israel contra os palestinos pode ser uma primeira experiência de massas tanto nos EUA como a nível mundial com o novo mandatário. Os ataques de Israel geraram não apenas uma imensa mobilização entre os palestinos, que protagonizaram uma greve geral, mas também ações de solidariedade no mundo todo, inclusive no nosso país. Inclusive tal ação de Israel também sofreu amplo repúdio nos EUA, país que historicamente sempre foi o maior apoiador político de Israel e que inclusive havia uma grande opinião pública pró-Israel onde qualquer crítica ao genocídio perpetrado por esse país era taxada de antissemita – arrastando para essa posição vários setores da esquerda inclusive. Esse rechaço dentro dos EUA mostra o nível de profundidade da mudança de subjetividade fruto de, dentre outras coisas, do levante negro no ano passado, mostrando que para além dos fluxos e refluxos parciais das mobilizações, as mudanças na subjetividade da juventude, dos trabalhadores e dos setores oprimidos nesse país é bem mais profunda.

Ao mesmo tempo Biden ligava para Netanyahu no último sábado para reafirmar seu apoio ao direito de Israel “se defender”, mostrando até o fim como a eleição de Biden não mudou em nada a essência do imperialismo americano. Ainda que não seja possível mensurar isso ainda, tal postura do presidente americano tem o potencial de ser uma primeira experiência onde todos esses setores que colocavam suas expectativas em Biden vejam como esse não irá nem de perto atender às suas aspirações. O medo desse desgaste ser muito profundo, junto à pressão da ala “esquerda” do Partido Democrata (que são uma expressão distorcida desse giro à esquerda na subjetividade americana) fez com que o Biden pressionasse o primeiro ministro israelense a pactuar um cessar fogo, ainda que mantendo a posição de defesa de Israel. Tal acordo foi pactuado no dia de ontem.

Apesar do recuo parcial, o estrago já foi feito. Além disso não há garantia que Israel vá parar totalmente com as provocações e os ataques. Hoje, mesmo após o cessar fogo, Israel reprimiu palestinos em Jerusalém, o que pode aprofundar a crise atual. Tal experiência de massas com o governo mostram apenas como as posições anti-imperialista defendida pelos revolucionários eram totalmente corretas e abre espaço para que se inicie um rompimento de um setor de massas com o governo e que tirem conclusões anti-imperialistas e revolucionárias, reatualizando a perspectiva de construir partidos com independência de classe e fortemente anti-imperialistas nos EUA e em todo mundo, batalha na qual a Fração Trotskysta-Quarta Internacional leva em diversos países, com o MRT aqui no Brasil e o Left Voice nos EUA.

Ver também: O desastre capitalista e a luta por uma Internacional da Revolução Socialista




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias