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UNICAMP | Apenas Alunos na Unicamp: com a reitoria, contra os estudantes

A chapa Apenas Alunos para eleições do CONSU e CCG da Unicamp surgiu em 2016 com a proposta falaciosa de "pluralidade" e “integração entre diferentes ideologias” e hoje conta com um representante discente no Conselho Universitário (CONSU). Com um discurso vago e contraditório, eles apresentam propostas que dizem ser “compostas por diversos ideais”, mas que na prática se alia com a reitoria contra a autonomia do movimento estudantil.

quinta-feira 5 de outubro de 2017 | Edição do dia

Quando o Apenas Alunos se formou, seu único discurso era afirmar que tinha espaço para "todos os gêneros, identidades, classes sociais e ideologias políticas". A partir desse fato, é necessário que a gente se questione sobre o que essa tal pluralidade significa para entender a atuação da chapa: até que ponto esse discurso de “todas as ideias” não acaba servindo a um só interesse? No seu discurso contraditório, o Apenas Alunos fala, por exemplo, que não aceita nenhum tipo de discriminação e que quer a contratação permanente das trabalhadoras terceirizadas, mas ao mesmo tempo propõe “estímulo e abertura da Universidade para investimentos privados em projetos e pesquisas”, ou seja, mais relação da Unicamp com as empresas que, como sabemos, exploram funcionários diariamente de acordo com o gênero e raça (a exemplo do bandejão, onde a maioria das pessoas que têm seu trabalho precário é composta de mulheres negras) dentro da universidade. É possível defender menos trabalho precário defendendo mais empresas dentro da universidade? É possível conciliar esses interesses em nome da “pluralidade”?

“Pluralidade” que serve apenas a um interesse

O programa que o Apenas alunos defende para a universidade engloba a ampliação e reforma da moradia estudantil, maior número de bolsas para estudantes do ProFis, retomada das obras paradas (como a do Teatro-laboratório do IA), entre outras. No entanto, a chapa em sua atuação dentro e fora do conselho universitário estabelece uma política de diálogo dentro do CONSU com o reitor Marcelo Knobel, o que para alguns pode soar como democrático e sensato, mas na verdade é uma verdadeira aliança com a reitoria, sem enfrentar o que ela significa. Dentro do Conselho Universitário o AA se transforma nos representantes que Knobel gosta, que dialogam harmonicamente com a mesma reitoria que aprovou a redução das gratificações dos docentes e funcionários, a não reposição automática de professores, e que queria aprovar um aumento de 100% do Restaurante Universitário.

A chapa até propõe que os gastos da Universidade sejam transparentes, mas não exige nenhum espaço realmente democrático de atuação dos estudantes e dos trabalhadores para que possamos discutir e decidir, com o peso real que temos na universidade, o modo que orçamento deveria ser distribuído. Sendo assim, de que adianta propor transparência, se a maioria das pessoas que constrói a UNICAMP não terá autonomia para expressar sua opinião e decidir sobre os gastos? Essa contradição do Apenas Alunos não se desliga da concepção que seus membros têm do que deve ser um conselho universitário. Eles nunca denunciaram, por exemplo, o caráter antidemocrático do CONSU, como os estudantes e trabalhadores são minoria lá dentro apesar de serem a base da universidade, como esse órgão burocrático, como é hoje, não serve para os interesses da maioria da UNICAMP, apenas de uma casta privilegiada, passando completamente por fora das opiniões e decisões dos alunos e funcionários.

Desse modo, é evidente que apesar do seu discurso "inclusivo", essa chapa não está lado a lado da base da universidade, sim da reitoria, e, com isso, seus discursos ditos plurais tornam-se impossíveis de serem concretizados, não passando de uma mera demagogia. É completamente contraditório afirmar que está do lado das terceirizadas e defender financiamento privado. As empresas que investem na UNICAMP querem que o nosso conhecimento sirva para os seus lucros, e não à população que é quem realmente paga pela universidade, e o AA concorda e compactua com isso. Assim, é nítido que é inviável aliar as demandas dos estudantes com a reitoria que quer jogar a crise nas costas dos alunos e funcionários, tirando seus direitos.

Atuação contra a autoorganização dos estudantes

A atuação do Apenas Alunos no Consu vem provando, desde que o seu representante assumiu uma das 5 cadeiras reservadas aos estudantes, como o seu discurso e suas propostas não passam de uma falácia. Enquanto no site e na página do Facebook da chapa aparecem lindos discursos de inclusão, de que eles querem a máxima participação de todos os alunos e que toda opinião é bem-vinda, no Conselho Universitário atacaram a autonomia dos estudantes em escolher seus poucos representantes e colocando nas mãos da reitoria o processo. Além disso, ainda transformaram as eleições para CONSU e CCG em eleições online, o que dificulta ainda mais a participação dos alunos na votação, visto que não há espaços democráticos de discussão das propostas no cotidiano dos estudantes.

Na última sessão do CONSU, na terça-feira (03/10), na qual foi decidido retirar a pauta do aumento do bandejão, o representante do Apenas Alunos foi a favor da retirada contanto que ela pudesse voltar posteriormente, pois ele não se colocou contra o aumento. Em um momento ele chegou a falar até que quem tem condições deveria pagar mais que o preço atual do bandejão, se mostrando totalmente cúmplice do ataque que a reitoria queria passar, dividindo os estudantes e usando o mesmo argumento que a Folha de São Paulo usa para dizer que deveria ter mensalidades nas universidades públicas, para privatizá-las posteriormente. Além disso, durante a sessão, ele defendeu que o aumento para funcionários deveria ser separado do aumento para alunos e votou a favor do corte nas gratificações aos professores e funcionários, querendo dividir ainda mais as categorias. Enquanto isso, estudantes e trabalhadores, juntos, do lado de fora do CONSU, gritavam bem alto: “A nossa luta unificou: é estudante junto com trabalhador” para mostrar que a luta é uma só, contra qualquer tipo de precarização.

Reproduzindo um discurso completamente demagógico, o AA está apenas de um lado, e não é o dos estudantes e nem o dos trabalhadores. É do lado da Unicamp Livre, que apoiou a chapa nas eleições e que estava com o MBL a favor da aprovação do Escola sem Partido na Câmara de Campinas. É a favor da reitoria que está punindo de forma racista diversos estudantes que lutaram pela real melhoria da universidade na greve de 2016, da qual a chapa passou longe e que garantiu, de fato, as cotas étnico-raciais. O Apenas Alunos pode dizer o quanto quiser em suas páginas que desejam falar pelo máximo de estudantes, mas aqui não nos enganamos e afirmamos com toda certeza que eles não nos representam.

Porque não somos apenas alunos e com que perspectiva queremos transformar a universidade?

O Apenas Alunos diz falar por todos, diz que quer representar todos e que tem espaço para todo tipo de ideologia dentro da chapa. Mas seu modo de atuar aliada à burocracia universitária racista e elitista da Unicamp mostra que eles não existem para defender os interesses dos estudantes que não compactuam com uma universidade restrita, que vende seu conhecimento para as empresas lucrarem mais e mais enquanto relegam às mulheres negras os piores cargos de trabalho da universidade.

Não queremos representantes no Consu que sirvam para compactuar com os ataques daquele conselho antidemocrático e reacionário. Nossa perspectiva é de uma atuação que esteja sempre ligada à autorganização dos estudantes e aos trabalhadores, que se enfrente com a estrutura universitária e todos seus ataques para precarizar e privatizar a universidade pública. Queremos uma universidade que abra suas portas à toda juventude, por isso defendemos o fim do filtro social e racial do vestibular junto à permanência estudantil de qualidade para todos que precisam, principalmente para as mães trabalhadoras e estudantes. Defendemos que todos os trabalhadores terceirizados devem ser efetivados pela universidade e que quem decida sobre as questões da universidade sejam aqueles que a constroem todos os dias de acordo com seu peso real e não esse conselho que tem até representantes da Fiesp, mostrando a que interesses ele serve.

Queremos enfrentar a reitoria e o Consu que existem para gerir uma universidade para poucos e assim colocá-la a serviço dos trabalhadores e da população, e não dos lucros das grandes empresas. Queremos que o conhecimento produzido aqui seja livre e possa ser ligado a resolver as mazelas sociais que atingem a população. Por isso dizemos que não somos “apenas alunos”, somos jovens que acreditam que para transformar a universidade de classes é preciso que nossa atuação enquanto estudantes seja independente da reitoria e dos seus aliados, e se coloque lado a lado com os trabalhadores de dentro e fora da Universidade. Assim, queremos não só transformar a UNICAMP, mas toda a sociedade de classes. É com essa perspectiva que atuamos na universidade e convidamos todos a debater conosco e ser parte dela.




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