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ESQUERDA ESTADO ESPANHOL | “Anticapitalistas” expulsa metade de seus militantes da Andaluzia por suas posições críticas ao Podemos

Um setor da militância andaluz dos “Anticapitalistas” (ex-Esquerda Anticapitalista) denunciou na última quarta-feira sua expulsão da organização por ter se oposto ao “pacto de cúpulas” nas eleições na Andaluzia. Esta pacto foi conduzido entre a euro-deputada Teresa Rodriguez, referência do “Anticapitalistas” e a maior liderança do Podemos, Pablo Iglesias.

Diego LotitoMadri | @diegolotito

sexta-feira 10 de abril de 2015 | 00:01

Os militantes expulsos representam metade da militância de Anticapitalistas na Andaluzia. Entre os expulsos estão três dos cinco membro da executiva regional da organização e quadros com mais de 15 anos de militância na organização.
Segundo denunciaram nesta quarta-feira em uma conferência de imprensa, o motivo de sua expulsão foi sua oposição ao “pacto de Cupulas” de Teresa Rodriguez, integrante da direção de “Anticapitalistas”, e Pablo Iglesias, para negociar um chapa comum nas eleições regionais e na eleição do “Conselho Cidadão Andaluz” do Podemos.

Em declaração a eldiario.es, Rubén Quirante, membro da direção andaluz até sua expulsão opinou que a coordenação confederativa de Anticapitalistas os expulsou do partido “sem lhes informar com um mês de antecedência, tal como disposto nos estatutos do movimento”.

Em relação ao pacto Rodriguez-Iglesias, Quirante afirmou que sua oposição se deveria a que avaliava “o Podemos se desviando rumo às instituições e criando falsas ilusões, se esquecendo de suas origens e da mobilização sustentada nas ruas”.

Os membros do setor expulso são parte de um setor crítico das bases do Podemos na Andaluzia. Este setor se rebelou e formou uma chapa alternativa a aquele pacto, chamada “Andaluzia pela base”. Esta chapa se apresentou à sociedade no final de janeiro denunciando os “pactos dos de cima” e defendendo um programa de “ruptura democrática e econômica profunda para que as ‘pessoas de baixo’ decidam sobre suas próprias vidas”.

As posições críticas ao acordo com Iglesias eram, segundo o setor expulso, majoritárias nos “Anticapitalistas” da Andaluzia. Porém a direção confederativa resolveu apoiar os setores afins ao aparato e pactuar com a cúpula do Podemos.
“Fomos expulsos por defender um Podemos que recuse o pagamento da dívida, defenda a reforma agrária ou simplesmente proponha expropriar os bancos que provocaram esta crise”, denunciaram em um comunicado.

O giro reformista de Esquerda Anticapitalista e sua dissolução no Podemos

Esquerda Anticapitalista (IA na sigla em espanhol) foi muito importante para o surgimento do Podemos. Este grupo nasceu no final de 2008 depois de ter atuado por quase uma década diluída no partido Esquerda Unida, atuando como “Espaço Alternativo”. As principais figuras do IA são Rodriguez e o agora eurodeputado Miguel Urbán, ambos participaram do Podemos desde sua fundação a partir de um acordo com Pablo Igleias, Iñigo errejón, Juan Carlos Monedero e outras pessoas do núcleo duro de Iglesias.

A recente dissolução do IA para poder se integrar no Podemos respondia às exigências impostas pelas resoluçõesaprovadas na Assembleia Cidadã do Podemos. Nesta Assembleia foi votado um veto à “dupla militância” e um impedimento a estes militantes de ocuparem cargos na direção do novo partido ou assumirem candidaturas.

Frente a esta situação, meses atrás a direção do IA foi se preparando para tratar do problema. No começo de novembro seus principais porta-vozes já davam declarações à imprensa de que em seu próximo Congresso a IA teria “uma mudança de regime jurídico” de organização para o “novo marco” decidido pelo Podemos.

Deste modo o segundo e último Congresso da Esquerda Anticapitalista dedicou, por maioria, em se transformar em associação “Anticapitalistas” e dissolver-se no Podemos. Esta resolução encontrou resistência de 20% da militância (entre eles os que agora foram expulsos na Andaluzia, militantes de Madrid e outras regiões).

A direção do IA tentou apresentar este giro como se fosse uma mera “mudança jurídica”, e minimizou diferenças estratégicas que haveriam entre eles e o núcleo de Pablo Iglesias e a estratégia reformista do Podemos. O “pacto de Andaluzia” foi uma boa prova de como não havia grandes diferenças. Uma opção por cima, que ao menos na Andaluzia, tinha tirado um precioso apoio “dos de baixo”.

“A ‘mudança jurídica’ esconde na verdade uma mudança total da política, já não se busca construir uma alternativa ao capitalismo através das lutas sociais mas entrar nas instituições do regime capitalista para, no melhor dos casos, reforma-lo de dentro”, escreveu a respeito o historiador Antonio Liz, ao fazer um percurso dos desvios na política da IA desde sua fundação até sua dissolução como partido.

A expulsão da metade dos militantes na Andaluzia ocorreu a pouco mais de um mês, em 21 de fevereiro, pouco depois de que tinha terminado o congresso, porém o fato só veio a público agora. “Entendíamos que divulgar esta notícia em meio ao período eleitoral podia ser negativo para o Podemos e não temos interesse em prejudicar o Podemos”, foi o que afirmou o porta-voz do Anticapitalistas, Quirante, ao site eldiario.es.

Em um artigo recente dois dirigentes do Anticapitalistas, Brais Fernández e Raúç Camargo defenderam a dissolução da IA dizendo que “no fim das contas, Podemos termina se constituindo como uma estrutura partidária clássica, enquanto o ‘partido original’ Esquerda Anticapitalista, se transforma em movimento, buscando adaptar sua forma organizativa aos novos tempos. Uma ironia hegeliana: o que aparece como novo envelhece rápido, enquanto o que é aparentemente velho se renova.”

Entretanto, o que é verdadeiramente irônico é que no momento em que a IA deixou de ser “partido” para se “renovar” em “movimento” tenha recorrido a métodos tão pouco democráticos com expulsar metade de sua organização andaluz por esta ter se oposto à subordinação ao programa e aos métodos do “verticalista” Pablo Iglesias.




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