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INTERNACIONALISMO | Amando os ‘hermanos argentinos’, ou, como o internacionalismo na prática rompe tradições que a elite criou

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

segunda-feira 2 de maio de 2016 | Edição do dia

“Cara, que maneira tua viagem, vi no teu face! Não acreditei quando vi, logo os argentinos do nosso lado. Os argentinos! Quem diria!”

Batalhando contra o sono no café da manhã, depois de emocionante, porém exaustiva viagem ao noroeste argentino para participar de atos promovidos pelo PTS em repúdio ao Golpe no Brasil, uma voz de um companheiro de trabalho me acordava para o copo descartável de café na minha frente, e, também para mais uma lição da importância das jornadas internacionalistas dos últimos dias que compartilhamos alguns companheiros brasileiros que fomos a aquele país com milhares de militantes, trabalhadores e jovens que nos receberam com o carinho de irmãos de combate que se reencontram, mesmo nunca tendo se conhecido antes.

As línguas, as tradições, a história, separam povos. As classes dominantes reforçam estes elementos sistematicamente para melhor exercer seu domínio. Para erguer campos de concentração em ilhas gregas para conter os refugiados, para usar esportes, artes, e tudo que suas mãos alcançarem para dar um sentido a seu país, debaixo de seu domínio e negócios.

Não há uma nacionalidade na face da terra que os brasileiros são ensinados a odiarem mais que os argentinos. A rivalidade na Libertadores não ajuda muito. Entra a competição Maradona ou Pelé, tango ou samba, e um longo etc explorado depois para ajudar a mobilizar contra alguma liberação do comércio ou algum outro interesse dela, e não nosso.

O internacionalismo de combate promovido por nossos “hermanos” do outro lado da fronteira ajuda a uma parcela da classe trabalhadora e da juventude que o MRT chega com sua militância nos locais de trabalho e estudo a avançar a superar esta imposição das classes dominantes. O Esquerda Diário conseguiu difundir a dezenas de milhares a iniciativa da deputada do PTS/FIT Myriam Bregman para que a Câmara de Deputados daquele país votasse o repúdio ao golpe em nosso país, mostramos as iniciativas para que fosse votado o repúdio ao golpe em entidades estudantis e de trabalhadores naquele país, e depois também conseguimos fazer chegar a dezenas de milhares de pessoas as iniciativas promovidas, desde o grande ato em Buenos Aires (o maior realizado fora do Brasil) às iniciativas de norte a sul do país. Da fronteira com a Bolívia em Jujuy a patagônica Neuquen, passando por Rosario, Cordoba e outras cidades. Estas iniciativas foram difundidas por meios ligados ao petismo e seguramente chegaram em outros milhares.

Não podia haver dia melhor que o primeiro de maio para dar um passo ao contrário do que quer a classe dominante, para retomar aquela lição gravada na tradição de luta dos trabalhadores desde 1848 com o Manifesto Comunista escrito por Karl Marx e Friedrich Engels: “proletários de todo mundo, uni-vos”.

O dia internacional dos trabalhadores foi instituído pela luta dos trabalhadores em todo mundo para relembrar e continuar a batalha dada pelos mártires de Chicago. Um deles, antes de ser enforcado, George Engel, disse: “meu mais ardente desejo é que os trabalhadores saibam quem são seus amigos, quem são seus inimigos.”

A classe dominante tenta nos dividir, nos fazer nos odiarmos. Mas ela não hesita em se inspirar em seus irmãos de classe do outro lado da fronteira. É assim que os editoriais dos grandes jornais brasileiros dizem “Temer tem que fazer que nem Macri”.

Só aos trabalhadores o internacionalismo está proibido. As ideias da elite, suas mercadorias, seus capitais devem fluir livremente, rezam suas cartilhas. Os povos não. Os sírios, e outros refugiados encarcerados na Europa “democrática” que o digam. Os sírios só podem contar com a solidariedade da juventude e dos trabalhadores europeus, não com Merkel, Hollande. E há esperançosas novidades aí, como a greve estudantil na Alemanha contra a xenofobia, a guerra e pelo livre trânsito dos refugiados.

A elite brasileira aprende com a elite argentina não só por causa de interesses comuns, mas porque compartilham histórias comuns, de genocídio de índios, de racismo com negros ou índios, de ditaduras sangrentas. O noroeste argentino marcado por um Estado apoiado em visível patriarcardo e na Igreja, me ressoava como a Câmara de deputados brasileira, a classe dominante jujeña, salteña ou de Tucumán, herdeira dos engenhos de cana açúcar soava tão familiar, suas polícias racistas davam mais uma mostra tão familiar de nossas terras. Quando falei em Amarildo se ouvia Ismael Lucena e tanto outros nomes. Quando me contavam de Belén presa por um aborto em Tucumán, soavam milhares de nomes de brasileiras.

As diferenças entre nós de baixo não são pequenas, da feijoada ao locro vai uma certa distância, bem como do funk à cumbia. Mas desta pluralidade não se faz competição, raivas, pode-se fazer irmandade. Irmandade de classe, ainda pequena, de setores de vanguarda cá e lá. Mas demos alguns passos nos últimos dias, retomando velhas tradições. Vemos nas histórias de vida e mais que isto nas convicções internacionalistas que carregamos os marxistas do PTS, do MRT e toda Fração Trotskista que na América Latina e na Europa expressaram o repúdio ao golpe no Brasil em meio ao primeiro de maio.

Convicções que não são um segredo de seita religiosa mas algo natural que cada trabalhador aqui ou lá aprende na prática desde que superemos estes preconceitos que a elite inculca. Dar batalha para um internacionalismo que não seja de papel, mas de combate, de prática política ajuda a retomar, um grãozinho disto que nos faz muito mais que marxistas, mas a semente de uma esperança a um novo futuro para a humanidade se libertando do capitalismo, suas fronteiras, sua exploração, e toda sua opressão.




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