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TRIBUNA ABERTA | Alunos e artistas são desrespeitados no Festival da UERJ

O Festival #UerjHupeResistem, ocorrido no dia 03 de maio, foi uma iniciativa muito importante de cultura e protesto contra o sucateamento da universidade e do Hospital Pedro Ernesto. Tendo atraído mais de 3000 pessoas o evento contou com diversas atrações como Dado Vila Lobos, Passinho Brasil, El Efecto e várias outras atrações. Um sucesso sem há dúvidas, a exceção ficou por conta da produção contratada pela Asduerj - Associação dos Docentes da UERJ. Isso porque, além de terem monopolizado a produção e organização do festival, alguns professores se utilizaram de um autoritarismo desnecessário com alunos que ajudaram a construir o evento.

Valdemar SilvaMestre em Serviço Social - UERJ

sexta-feira 6 de maio de 2016 | Edição do dia

Fotos: Guilherme Carvalho

Para melhor atender estes problemas com os alunos, é necessário voltar ao início dos preparativos: a pedido de alguns professores da Asduerj, foi criada uma equipe de alunos de vários cursos, com o objetivo de assumir a divulgação do festival e ajudar na organização. Quando os alunos envolvidos assumiram esse compromisso faltando 3 semanas para o festival, o evento no Facebook não tinha nem mil pessoas confirmadas, enquanto no dia, estiveram presentes cerca de 3 mil pessoas. Dias antes, foram esquematizados setores onde cada aluno, que voluntariamente se propôs a participar da organização, iria ficar com uma escala de horários que não houvesse sobrecarga, foram distribuídas pulseiras para as pessoas envolvidas na produção e na segurança.

Em dado momento, um professor do Ibrag, que se entitulou membro da Asduerj, chegou de forma extremamente autoritária gritando aos estudantes que estavam fazendo a segurança do acesso ao palco da Concha Acústica: “Vocês estão proibidos de entrar na parte interna da Concha, vocês são apoio externo, não entrem lá em hipótese alguma, pois estarão avacalhando o evento”. Este professor que deu a ordem, saiu imediatamente sem dar chance de resposta. Os alunos então decidiram abandonar a organização do evento. Entendemos que a forma que ele se expressou com os estudantes não condiz com a luta em prol da UERJ, principalmente com os que estiveram à frente da construção desse festival, em especial os alunos do curso de Comunicação Social, que administram a página Ocupa Uerj. Após esse fato, os alunos decidiram voltar pra falar com ele e, deixaram claro que ele foi extremamente arrogante e que não havia necessidade para tal comportamento. Deixaram claro também que sem a ajuda dos estudantes, o evento não teria a dimensão que teve, ele se fez de desentendido e disse que não lembrava ter agido de tal forma (minutos antes) e pediu desculpas.

Não parou por aí. Membros das mídias ativistas independentes, Redes & Ruas, midiacoletiva.org, Mariachi, Coletivo Carranca e a Coletiva-MIC, também sofreram com o autoritarismo e burocracia: foram censurados e impedidos de cobrir o evento na parte interna da Concha Acústica, onde os participantes concederiam entrevistas. Nem mesmo membros da página Ocupa UERJ puderam cobrir o evento na parte interna. A
monopolização da cobertura ficou por conta da TV UERJ, uma mídia que não representa o movimento grevista dos estudantes. As mídias independentes tentando fazer seu trabalho tentaram subir no backstage. Um dos integrantes dessas mídias conseguiu entrevistar o Dado Vila Lobos, mas foi expulso por conta disso.

Confira trecho do relato de um colaborador das mídias independentes "Redes & Ruas, midiacoletiva.org, Mariachi, Coletivo Carranca e a Mídia Independente Coletiva-MIC": Aqui quem fala é um mídia independente, aluno da UERJ e paciente do Hospital Universitário Pedro Ernesto. O ápice do absurdo se constata ao percebermos que transformaram um festival com ideal de lutas em um mero espetáculo monopolizado midiaticamente, digo isso porque em nome de uma gravação exclusiva da própria produção do festival, ativistas foram excluídos e tiveram que se expor ao ridículo de ter que invadir os bastidores já que não tinham autorização para chegar perto de artistas que iriam se apresentar. É muito revoltante, pois saímos de nossas casas e largamos os nossos trabalhos com a ideia de entrevistar e fazer o link entre alunos dos colégios estatuais ocupados, artistas e membros da universidade, porem não foi assim que esse dia terminou. Foi lamentável e vergonhoso!

É importante expor que a Asduerj contratou uma produtora terceirizada, exclusivamente para o evento. Já realizamos no ano passado um Festival no qual não foi necessária nenhuma produtora para organizar e apresentar os artistas e que também foi um sucesso. É contraditório ainda por conta de um dos objetivos desse grande evento ter sido a arrecadação de alimentos para os trabalhadores terceirizados da Uerj, que estão sem receber seus salários há meses.

Esta produtora, fez com que o show da bateria "Demônios da UERJ" fosse cortado pela metade por conta do tempo e, quase impediram a incrível apresentação teatral dos alunos da Escola Estadual Martins Pena. Entretanto, contrapondo essa burocracia e quebrando as regras, a galera do "Passinho Brasil" convidou todos à subirem no palco e transformaram a Concha Acústica num imenso baile funk, um momento memorável que talvez tenha sido o ápice do festival.

Outro momento constrangedor, foi na apresentação da "El Efecto", onde a banda cedeu o microfone para um dos secundaristas da Escola Estadual Clovis Monteiro fazer fala. Porém, uma pessoa da produtora contratada pela Asduerj, apontou o dedo para esse aluno e arrancou o microfone de sua mão, impedindo a conclusão de sua fala.

Nesse contexto, ficam duas perguntas: para uma organização tão desastrosa, era mesmo necessário contratar uma produtora? Qual a lógica de fazer um evento de lutas que arrecada alimentos para os terceirizados da UERJ, mas que terceiriza a produção? Porque tratar estudantes que voluntariamente se dispuseram a construir isso junto de forma tão desrespeitosa? Porque não tratar a organização do evento de forma horizontal onde todos decidem e não só apenas os professores?

Portanto, deixamos aqui nosso repúdio a todas essas lamentáveis situações ocorridas num momento tão importante para a comunidade acadêmica da Uerj. O festival do dia 3 de maio de 2016, assim como o que os alunos organizaram em dezembro de 2015, mostrou que existe uma linha imaginária na mente de certos professores, na qual os alunos são meios utilitários de suas "lutas", mas que são ignorados e tratados numa escala hierarquizada quando querem mostrar sua voz. Não queremos ser mão de obra, somos sujeitos desta luta e é assim que devemos ser tratados.




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