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Alemanha: "Na crise, tentam dividir nossa classe e colocá-la em competição"

Charlotte Ruga, enfermeira, obstetra e militante da Organização Internacionalista Revolucionária RIO (organização irmã do MRT na Alemanha) acaba de falar no Ato Internacionalista 1º de Maio – 14 países, uma só voz da Rede Internacional La Izquierda Diario. Enquanto a Alemanha é retratada como um bom exemplo do combate à pandemia, Charlotte expôs a real situação do classe trabalhadora no coração do imperialismo europeu e a centralidade de construir uma organização revolucionária que supere as burocracias funcionais ao discurso de unidade nacional patronal.

Marie CastañedaEstudante de Ciências Sociais na UFRN

sexta-feira 1º de maio de 2020 | Edição do dia

Na Alemanha, o maior imperialismo europeu, as consequências dos efeitos da desaceleração econômica, combinada com a atuação da chanceler Angela Merkel e sua organização União Cristã Democrata da Alemanha à serviço dos banqueiros e empresários e seu racismo estatal, tem fortalecido a extrema-direita auto declarada fascista da AfD (Alternativa para a Alemanha), que obteve um grande triunfo eleitoral no estado da Turíngia, onde obteve 23,4% dos votos do pleito e perdeu o porto por apenas 5 votos.

Nesta conjuntura, os ataques aos imigrantes se multiplicam, como em fevereiro na cidade de Hanau, quando dez imigrantes ou filhos de imigrantes turcos foram assassinados em um bar. Este ataque racista gerou amplo repúdio, em especial entre a juventude, onde os imigrantes e filhos de imigrantes amargam os empregos mais precários e muitas vezes são obrigados a abandonar a universidade.

Charlotte evidenciou quão falsa é a imagem construída de Alemanha de bom exemplo no combate à pandemia do coronavírus, em uma live no começo do mês relatou a situação das enfermeiras que são testadas positivas para o coronavírus e são assintomáticas, que são obrigadas a voltarem a trabalhar. Até mesmo na Alemanha, faltam EPIs, insumos, reagentes para testes, e como disse ela "aqui os trabalhadores também pagam pela crise: 770 mil empresas estão funcionando em jornada reduzida, com mais de 3 milhões de desempregados. Enquanto isso, as empresas recebem centenas de bilhões de euros em pacotes de resgate e subsídios, pagos com dinheiro do bolso dos trabalhadores.“

Em países imperialistas, é central que a construção de uma organização revolucionária passe por denunciar cada ação abutre de seu governo e burguesia, por isso Charlotte denunciou que „o capital alemão planeja novos ataques contra a classe operária do sul da Europa, como o fez na Grécia com o ajuste da Troika.“ Assim como demarcou a defesa de que „a classe operária alemã não tem interesse em que seus irmãos de classe da Itália paguem pela crise dos capitalistas!“

Relatou também como a crise golpeia com mais força os setores oprimidos, com o Estado policial armado servindo justamente para persegui-los, como aconteceu em Hamburgo, onde um acampamento de refugiados foi desalojado e enquadros racistas da polícia aumentam todos os dias. Também expressou como aumentou a violência contra as mulheres e a penúria despejada nelas dentro de casa com o fechamento de creches e escolas.

As que são mas golpeadas, também são a linha de frente da luta contra a pandemia, explicitou a falta de pessoal, EPI e leitos que definem seu dia a dia como trabalhadora da saúde e pontuou: „Lutamos pela estatização do sistema de saúde de conjunto, sob controle dos trabalhadores. Queremos impedir que nós trabalhadores paguemos a crise, enquantos os capitalistas sigam obtendo lucros!“ Os dados são concretos: enquanto são garantidos 600 bilhões para os empresários e banqueiros, 3 bilhões são destinados à saúde.

Charlotte deu destaque para os trabalhadores da empresa metalúrgica Voith, onde 500 operários, se colocando contra o fechamento da fábrica, que registrou um lucro de 100 milhões e 7 milhões em isenções fiscais no ano passado. Argumentou que „propomos que todas as fábricas que fechem sejam nacionalizadas sem indenização e sob controle operário“, um programa para que nenhuma família fique na rua, em uma fábrica que poderia ser readequada para produzir respiradores, tão necessitados a nível mundial.

Charlotte também afirmou que "lutas como a da Voith mostram uma perspectiva de saída desta crise para a classe trabalhadora internacional“. Com a crise econômica turbinada pela crise do coronavírus, 300 mil pessoas se declararam desempregadas no mês de abril e 10,1 milhões de pessoas tiveram suas jornadas de trabalho reduzidas em um modelo inovador de exploração, a dita flexibilização, onde um fisioterapeuta ou metalúrgico se transforma em caixa de supermercado, com salário reduzido e sem nenhuma garantia, com empresas „trocando“ funcionários livremente. Este exemplo operário é portanto de grande valor.

Charlotte também denunciou que as demandas dos operários da Voith são completamente ignoradas pela burocracia sindical, deixando-os isolados, estas são dirigidas pelas organizações reformistas SPD e Die Linke, que atuam enfileiradas na unidade nacional dos patrões, na qual a classe trabalhadora e os setores oprimidos pagam as contas.

Expressou também a experiência que levam à frente com o site Klasse Gegen Klasse, buscando erguer uma voz independente da classe trabalhadora, com redes KGK para organizar os trabalhadores, os jovens, as mulheres e os imigrantes. E convidou todos a se somarem às batalhas contra a pandemia e o capitalismo defendendo um programa de emergência para que os capitalistas paguem pela crise.

Concluiu com a ideia de construir "uma força real da classe operária rumo a um partido revolucionário, que lute pelo socialismo no país de Marx, Engels, Liebknecht e Luxemburgo.“, remetendo ao legado dos fundadores do socialismo científico e daqueles que defenderam o internacionalismo operário até seu último respiro. O “Socialismo ou Barbárie“ de Rosa Luxemburgo é assim atualizado hoje, em todo o mundo.




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