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ABSURDO | Agressões a profissionais de saúde: a cara do obscurantismo em tempos de COVID-19

No momento em que a população mais precisa destes trabalhadores, verdadeiros "heróis de guerra" que arriscam-se para salvar vidas em hospitais e laboratórios (muitas vezes sem equipamentos de proteção e prevenção), atitudes como esta geram revolta e fazem questionar: que papel deveria ter o Estado e a mídia para evitar esses acessos de "histeria"?

sábado 21 de março de 2020 | Edição do dia

"Estou morrendo de medo, como vamos vir trabalhar e ajudar a salvar vidas se não deixarem? As pessoas precisam muito de nós agora", afirma profissional de saúde ao site Uol. Outra profissional também relata na matéria: "estava de branco na estação Paraíso esperando o trem quando jogaram uma marmita em mim do andar de cima".

Ao longo da última semana em São Paulo, diversos profissionais da saúde têm sido hostilizados e até agredidos a caminho dos hospitais de São Paulo em que trabalham. Vários moram longe do emprego e usam transporte coletivo, o que assusta outros passageiros por causa da covid-19.

Atitudes como as relatadas causam revolta e só mostram como a falta de instruções e de medidas de prevenção e combate à pandemia podem levar a expressões absurdas. Estas vão desde uma histeria coletiva, gerando agressões como estas, até uma parte da população que nega a doença, influenciada inclusive pelo próprio presidente e por líderes religiosos como Malafaia, que pretende "salvar a todos" com seus cultos. Um dos casos relatados na matéria, inclusive, é de uma senhora que faz o "sinal da cruz" e "cara feia" ao ver um enfermeiro.

O governo e as mídias deveriam estar cumprindo o papel de instruir a população, sem esconder dados ou subnotificar casos. Isso passaria também pelo Estado fornecer testes massivos para todos, não só aqueles que já estão em estado grave, como tem sido feito. Esse é o único exemplo positivo de como evitar o contágio, conforme foi feito na Coreia do Sul, testando a população e fornecendo tratamento aos positivos, e não a estratégia do isolamento, que em muitos casos significa mandar as pessoas para morrerem em suas casas e contaminarem seus parentes. Para isso, é preciso que todos os laboratórios e indústrias privados estejam a serviço da população e sob controle daqueles que trabalham e pesquisam ali, e não nas mãos de empresários que só visam o lucro. Outras indústrias poderiam também colocar sua produção a serviço da população, como o exemplo na Inglaterra das automobilísticas que podem produzir respiradores, mas é preciso que os trabalhadores se organizem para impor estas medidas, pois se depender apenas da vontade de seus empresários isso não será feito em larga escala.

Neste momento, mais que nunca os trabalhadores da saúde precisam estar cercados de toda solidariedade possível. E isso foi o que ficou evidente em atitudes como os aplausos nas janelas para estes profissionais que ocorreram em diversos lugares do país. Mas muito mais que isso, é preciso também que toda a população exija dos sindicatos e organizações de classe que se encampe uma campanha e pela contratação de funcionários da saúde terceirizados e desempregados como efetivos, para que seja possível abrir mais leitos de UTI (que devem incluir todos os da rede privada se tornarem públicos) e também para que possam diminuir a jornada de trabalho sem redução de salário, para que tenham menos tempo de exposição ao vírus. Além disso, não podemos aceitar as péssimas condições de trabalho destes profissionais, sem nenhum equipamento de segurança, o estado também precisa tomar cargo disso. Medidas emergenciais como estas são o mínimo necessário para que, nesta crise, não sejamos nós os trabalhadores a pagar a conta.




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