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REALISMO SOCIALISTA | ’Acumulação cultural primitiva’ X Realismo socialista

Foram lançados em DVD 3 clássicos do cinema soviético que correspondem ao hediondo período do realismo socialista. Por iniciativa da UMES (União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas), esses documentos cinematográficos do stalinismo cultural podem ser agora vistos e estudados pelo público brasileiro.

segunda-feira 2 de novembro de 2015 | 17:18

Precisamos aproveitar esta oportunidade para ampliarmos as fontes das nossas pesquisas e prosseguir com o debate. É sempre útil nos debruçarmos sobre o ultrajante legado do jdanovismo. Além de expormos o que é nocivo para artistas de esquerda e militantes da cultura, precisamos formular uma reposta marxista a ser dada contra os ataques da opinião pública burguesa que intencionalmente confunde arte revolucionária com realismo socialista.

É importante que os militantes trotskistas brasileiros estudem a “Hollywood vermelha" (“vermelha" refere-se apenas ao sangue, criminosamente derramado, não guardando nenhuma relação com ideologia política revolucionária). A expressão “Hollywood" pode ser usada aqui pela simples razão do cinema soviético subordinado ao jdanovismo não se diferenciar esteticamente da linguagem cinematográfica burguesa. Eliminando a dialética e o experimentalismo da forma, os filmes da era stalinista constituem-se em narrativas artificiais e numa fotografia que engrandece de modo idealista a figura do “herói do trabalho". Portanto, o que prevalece não é a invenção, mas o happy end. O que fica não é a câmera enquanto instrumento que ajuda na construção cultural de um Estado operário, mas um instrumento de ângulos viciados em que esconde-se atrás um cineasta artisticamente castrado ou conivente com a sua condição de escravo da burocracia.

"Os Tratoristas" (1939), de Ivan Pyryev, "Lênin em Outubro" (1937) e "O Fascismo de Todos os Dias" (1965), ambos de Mikhail Romm, são filmes produzidos durante o período de aparelhamento da cultura na então URSS. Jdanov, embora falecido em 1948, foi o líder e “esteta" soviético que teve sua influência nefasta em torno do realismo socialista estendida por anos a fio. Assistir e debater a estes e outros filmes, assim como ler romances e refletir sobre cartazes, pinturas e esculturas orientadas pelo jdanovismo, não seria sob o ponto de vista da esquerda revolucionária a busca por uma “autocrítica" no plano da arte; tal como querem stalinistas que se encontram dentro ou fora do armário. Refletir sobre o realismo socialista hoje é uma necessidade histórica para dizer que não é possível falar em arte revolucionária com a existência de tesouras. Não é possível criar quando existem ordens externas que além de mutilar e manipular a obra de arte, são expressões políticas da contra-revolução. O operário de ontem, e o operário de hoje, sempre tem a perder diante de uma concepção estética que o manipula e reprime os seus impulsos criativos.

Se como muitos já disseram, Jdanov era mais stalinista do que o próprio Stálin, felizmente nem toda a arte soviética esteve sob a sua rédea. A Revolução russa de 1917 apresenta um legado cultural dos mais férteis no século XX. Além das contribuições estéticas da arte de vanguarda passarem necessariamente pela URSS da década de vinte, existiam concepções culturais que precisam ser relidas em nossos esforços militantes. Trotski, cuja visão cultural não prevaleceu na União Soviética, falava da necessidade de “acumulação cultural primitiva". Não é apenas o atraso econômico que a Revolução socialista combate mas o atraso espiritual. Uma cultura revolucionária precisa ser construída para despertar a personalidade humana. Educar e assegurar liberdade para criar é o oposto de manipular e coagir.

O modo de vida socialista efetiva-se quando a classe operária está no poder. Porém, a luta cultural enquanto aspecto não menos importante da luta política, precisa efetivar-se mesmo quando a burguesia ainda está no poder. A crise econômica que o país atravessa não pode ser respondida apenas com melhores condições materiais, mas com informações artísticas, literárias e científicas que são convertidas em acumulação cultural. Aos trabalhadores cabe perceber (e denunciar) formas artísticas adulteradas por interesses que descaracterizam a necessidade emancipadora da arte. Não apenas o stalinismo e o fascismo recorrem a isso. Olhemos para o cinema comercial norte americano: será que os filmes de super heróis não seriam panfletos do imperialismo norte americano? Por que a imprensa capitalista não cai de pau também nestes filmes? Entre a cultura de massa norte americana e o realismo socialista soviético, existem sutis mudanças de tom, enfoque e conteúdo.

Nas escolas, nos centros culturais e nas nossas publicações devemos junto aos camaradas debater, dentre outras coisas, as heranças desastrosas do realismo socialista. Este debate poderá contribuir para um entendimento verdadeiramente revolucionário e independente da arte.


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