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IMPERIALISMO E A VENEZUELA | Abre-se um canal de dialogo entre Washington e Caracas

sexta-feira 17 de junho de 2016 | Edição do dia

A 46º Assembleia Geral da organização, que aconteceu nesta quarta-feira em Santo Domingo, teria como temas principais o “Fortalecimento institucional para o desenvolvimento sustentável das Américas” e a crise financeira da Comissão de Direitos Humanos do organismo. Sem dúvida, rondava o conclave a preparação da próxima reunião extraordinária do Conselho Permanente em Washington, em 21 de junho, que debaterá novamente a situação venezuelana.

O esperado é que o imperialismo e seus aliados voltem a exercer pressão, logo após a OEA ter se pronunciado a favor do dialogo entre governo e oposição sobre o referendo revogatório, mas sem apelar a chamada “Carta Democrática”. Referindo-se ao próximo encontro de 21 de junho, o Secretario de Estado Norteamericano, John Kerry declarou que “a invocação do artigo 20 da Carta Democrática Interamericana invocada pelo secretario geral Almagro dará lugar a um debate de muito mais envergadura sobre a Venezuela. Os Estados Unidos estão prontos e dispostos a participar”.

Afirmou também que: “Os Estados Unidos se unem ao secretario geral Luis Almagro e a outros da comunidade internacional fazendo um chamado ao governo da Venezuela para que liberte os presos políticos, respeite a liberdade de expressão e de reunião”, alem de reivindicar “aliviar a escassez de alimentos e medicamentos, e honrar os próprios mecanismo da Constituição, incluindo um referendo revogatório pontual que faz parte do processo institucional”. Para não ter duvidas, outro alto funcionário remarcou que “em nossa opinião, limpo e pontual significa este ano” (Washington Post, 14/06).

A ministra das Relações Exteriores, Delcy Rodriguez rechaçou tais declarações e acusou Almagro, Secretario Geral da OEA, de “uma posição intervencionista sobre os assuntos internos da Venezuela”, alem de ser “mandatado por Washington” (El Universal, 15/06). Outro governos fizeram coro a este rechaço incluindo Nicarágua que reivindicou a renuncia de Almagro de seu posto a OEA.

Apesar de tudo, mais tarde Kerry e a chanceler Rodriguez se reuniram e entraram em acordo sobre iniciar conversas em outro nível. Segundo o New York Times(14/06) ”Kerry foi mais conciliador depois de sua primeira reunião bilateral com Rodriguez, dizendo que os Estados Unidos não apoiariam um impulso de Almagro para suspender a Venezuela da OEA alegando violações da “Carta Democrática” do grupo regional. “Os Estados Unidos não estão tomando esta posição, nós não estamos impulsionando uma suspensão. Creio que não seja construtivo”.

O representante de Washington para realizar esses contatos será o subsecretário de Estado, Tom Shannon, diplomático especializado na America Latina que já serviu com Bush e Clinton. Do seu lado, Nicolás Maduro, qualificou a reunião de “positiva” e declarou que Venezuela e Estados Unidos iniciaram uma nova etapa de dialogo com novos canais de comunicação e reiterou o convite a designar embaixadores para recompor as relações diplomáticas bilaterais.

Como lembrou a chanceler Rodriguez, ao novo Conselho extraordinário da OEA assistirão também os membros da Comissão da UNASUR que trabalharam para facilitar os contatos entre governo e a MUD em Santo Domingo,integrada pelos ex presidentes José Luis Rodriguez Zapatero (Estado Espanhol), Leonel Fernandez (República Dominicana) e Martin Torrijos (Panamá).

Faltando apenas uma semana para o encontro, o anuncio da abertura de dialogo direto com Washington e o convite, aos três ex presidentes para informar sobre o realizado, parecem abrir um parênteses de negociação. Isto significaria um respiro para o governo de Maduro e um passo para um bloco Latino americano mais negociador, frente a “linha dura” de Almagro, parte da direita continental e o imperialismo Espanhol, ainda que a ameaça da “Carta Democrática” e outras sanções intervencionistas segue pairando no ar.

Também se vê favorecido o setor da oposição encabeçada por Capriles, que em recente passagem pelo Sul do continente, insistiu na linha de exigir a celebração do referendo revogatório este ano em suas reuniões com Macri, Temer e o presidente paraguaio Cartés.

Para ele, não é casual o descontentamento manifestado pela ala de Ramos Allup e outros da oposição. O editorial de El Nacional(15/06) se queixava das “surpresas na OEA” e mostrava sua desconformidade ante “um fenômeno inesperado que estoura em forma de incerteza, ontem soubemos de uma reunião que não estava na agenda de nossa modestas mentes[...] dialogaram sobre a convocação de um referendo revogatório do presidente Nicolás Maduro.” [...]” o certo é que algo sucedeu no caminho ao fórum porque Kerry não saiu do encontro com cara de contrariado senão que, para surpresa de todos, anunciou que Washington “não estava buscando sancionar Maduro” e que tão pouco pediria “ a suspensão da Venezuela da OEA porque não cremos que seja uma medida construtiva”.

É esperar para ver. O governo de Obama não abandona a pressão, mas combina a oferta de negociação com a latente ameaça de sanções, tendo em conta uma relação de forças em que uma linha mais dura a Venezuela não parece ter consenso suficiente a nível continental.

De fato, a iniciativa de Almagro em justificar sanções desde a OEA, é funcional a estratégia de Obama. Como felicita o Washigton Post, seu papel em pressionar o governo Maduro permite superar “ um recorrente dilema da política exterior dos Estados Unidos. Como pode incentivar seus sócios locais a dirigir a mudança política e a segurança regional, antes de colocar a carga nos ombros americanos e, nesse processo, alimentar ressentimentos contra a intromissão dos Estados Unidos?”.
É por isso que o jornal de Washington considera “herói desta historia” o secretario Luis Almagro. Este diplomático “progressista” uruguaio foi chanceler de “Pepe” Mujica, entre 2010 e 1015, funções nas quais estabeleceu “boa sintonia” com os Estados Unidos. Foi eleito para o comando da OEA quase por unanimidade em 2015, com o notório respaldo yanque. Nesta ocasião, o departamento de Estado dizia do ex chanceler que este teria “a capacidade de conduzir a Organização de Estados Americanos(OEA) na direção correta durante sua gestão” e poderia ser o líder “disposto a tomar as decisões duras necessárias para reformar” a entidade e restaurar “ sua estatura no hemisfério e tornaria mais reativa a necessidade dos países membros”.

Claro que a iniciativa de Almagro se apoia no novo clima politico regional, com governos de direita como os de Temer e Macri no Brasil e Argentina, além de Kuczynski no Perú, um dado não menor no novo protagonismo da OEA, em detrimento da UNASUR.

Alem disso, o curso do governo de Maduro, que apela para medidas autoritárias e repressivas como o “Estado de exceção” e a política econômica, enquanto paga pontualmente a divida externa, e condena a escassez e carestia de vida ao povo trabalhador, permite ao imperialismo e a direita latino americana fazer gargarejos com a demagogia democrática para encobrir seus objetivos reacionários.

O governo de Maduro não defende uma linha anti imperialista, como pretende sua oratória. O que discute é postergar o referendo revogatório ate março de 2017, para assegurar a continuidade da camarilha governante ate o fim do período e impor seus próprios termos a uma “transição” pós-chavista, ou seja, o caminho ate um regime burguês normal segundo as necessidades da ordem semicolonial, acordo difícil de alcançar em meio a explosiva e polarizada crise econômica, social e política que vive o pais como mostra as constantes tendências aos protestos sociais, como na cidade de Cumaná esta terça-feira. Um difícil pacto, que em todo caso, necessitara da participação do grande arbitro da política venezuelana: as FANB.




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