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LEGALIZAÇÃO DO ABORTO | A “revolução das filhas” na Argentina: uma força que pode incendiar o Brasil

Na mídia argentina, o peso das mulheres jovens na luta pela legalização do aborto, que tingiu o país de verde e já conseguiu arrancar desde as ruas sua aprovação na Câmara, contra o peso da Igreja e dos conservadores, ganhou um nome: “revolução das filhas”.

quinta-feira 26 de julho de 2018 | Edição do dia

Foto: Martín Rosenzveig

Uma jovem geração de mulheres, de 14, 15 anos, tem convencido suas mães, avós, tias, de que basta de mortes por abortos clandestinos e tem sido parte fundamental da luta que se iniciou algumas décadas atrás na Argentina e que hoje toma as ruas, os locais de trabalho, os colégios e universidades. Por onde se vai, o verde da maré que está sacudindo o país se vê nas mochilas, bolsas, nos pulsos das mulheres e também dos homens em defesa do direito ao aborto legal, seguro e gratuito.

Essa geração que se estima em 65% os jovens que não tenham tido aulas de educação sexual, em um país onde o Estado sustenta a Igreja - a qual impõe seu ensino confessional e que é uma das responsáveis por que as mulheres sigam morrendo, com agulhas de tricô e clínicas clandestinas que lucram aos montes, em condições de medo - ainda assim grita com toda força para que o aborto seja lei, querendo decidir sobre os seus corpos.

Tendo sido parte de uma forte mobilização por Ni Una Menos, contra os feminicídios, e impulsionado o chamado às paralisações no 8 de Março, esse movimento de mulheres efervescente e imparável pode arrancar nas ruas a legalização do aborto e tem força para ir além, apontando uma saída no décimo ano da crise capitalista internacional, quando Macri e seus governos, junto ao FMI, querem descarregar a crise sobre os trabalhadores, o que recai com ainda mais força sobre as mulheres trabalhadoras, com seus tarifaços. O exemplo das mulheres argentinas tem de ser ponto de apoio contra todos os ataques e servir de exemplo na luta pela legalização do aborto no Brasil.

Façamos como as argentinas: direito ao aborto legal, seguro e gratuito já

No Brasil, uma a cada 5 mulheres de 40 anos já abortou e dezenas hoje são processadas pelo Estado, como no Rio de Janeiro, sendo principalmente as mulheres negras. A direita conservadora, os golpistas e a bancada fundamentalista dizem ser a favor da vida, mas não apenas permitem as milhares de mortes todos os anos, sendo quinto motivo de morte materna no país, como buscam dia-a-dia precarizar as condições de vida da maioria das mulheres e dos trabalhadores, assim atacando o direito à maternidade. Ou seja, querem que sejamos mães a qualquer custo, mas desde a gestação à educação dos filhos o Estado não garante condições básicas. A Reforma Trabalhista, que permite que gestantes e lactantes trabalhem em condições de insalubridade, é um exemplo disso.

A etapa aberta por Junho de 2013 no Brasil teve na juventude um ponto de apoio fundamental, com as mulheres, os negros e LGBTs na linha de frente em escancarar as contradições do regime de 88, com a crise, lutar por seus direitos na chamada Primavera Feminista contra o PL do Cunha e do PT, que atacava o direito ao aborto até mesmo nos poucos casos permitidos, e enfrentar os governos ajustadores, como o PT e o PSDB, com centenas de ocupações de escolas, nas quais as estudantes negras se tornaram um símbolo de enfrentamento e fizeram do grito “lute como uma menina” uma marca. Desde manifestações pelos shortinhos nas escolas aos slams, tranças e blacks, o direito ao corpo e à identidade desperta a atenção de amplos setores da juventude, tendo até mesmo que a Globo golpista, que dá as mãos aos setores mais conservadores para nos atacar, buscar expressar de maneira distorcida em suas novelas essas lutas.

Também a juventude ocupou milhares de escolas e universidades em resposta aos golpistas do Congresso e do Judiciário e à PEC do Fim do Mundo e se ligou aos trabalhadores, quando entraram em cena com sua força, parando tudo no 28 de Abril em 2017. Esses processos tiveram nas entidades estudantis dirigidas pelo PT e PCdoB e nas centrais sindicais um enorme freio, traindo e garantindo uma verdadeira trégua aos golpistas seguirem com seus ataques. O mesmo PT que, quando governo, não legalizou o aborto e teve figuras emblemáticas do reacionarismo como o pastor Marco Feliciano à frente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, abre espaço a que os capitalistas avancem com a Reforma Trabalhista e a Lei de Terceirização contra as mulheres trabalhadoras e negras.

No próximo dia 8, a votação no Senado argentino deve ser um ponto de apoio na luta pela legalização do aborto, para trazer essa maré verde para que o aborto seja lei, com as mulheres na linha de frente por suas vidas. Nós, do grupo internacional de mulheres Pão e Rosas, somos parte desde cada local de trabalho e estudo, nas fábricas, como foi a assembleia de mulheres na Madygraf, na ocupação de escolas e universidades, de impulsionar essa luta na Argentina, encabeçando também a FIT, com os parlamentares do PTS, partido-irmão do MRT no Brasil, como a única bancada que votou com unanimidade por esse direito.

Aqui no Brasil, queremos nos apoiar nesse exemplo para também batalhar em cada local onde estamos para que sejamos milhares nas ruas no próximo dia 8 em defesa de que o aborto não apenas deixe de ser crime, como seja um direito, exigindo que nossas entidades estudantis como a UNE e a UBES rompam com sua passividade e organizem em cada escola e universidade essa luta, para destapar uma verdadeira revolução das filhas também aqui. Nas escolas, mais do que nunca, é necessário se enfrentar com a censura dos conservadores com o Escola sem Partido, que tem em Alexandre Frota, que já relatou estupro em rede nacional, uma de suas caras, junto à permissão do ensino confessional pelo STF golpista, para batalhar pela educação sexual. Além disso, também as centrais sindicais golpistas precisariam estar organizando as mulheres trabalhadoras, e também os homens, por esse direito elementar que coloca uma verdadeira questão de saúde pública no país, e a partir daí unificar contra o conjunto dos ataques, como a PEC do Teto dos Gastos que também ataca a saúde das mulheres e seria um verdadeiro entrave à garantia do aborto. Isso tudo como parte do enfrentamento ao plano de ajustes que, independente do candidato eleito em Outubro, teremos de enfrentar nas ruas, já que ao não romper com a Responsabilidade Fiscal e o pagamento da dívida, significará um governo de ataques na crise econômica.

É a serviço de lutar pela legalização do aborto no Brasil, batalhando em cada centro acadêmico que dirige, sindicato em que está, para organizar plenárias e assembleias de mulheres e convocar os estudantes e os trabalhadores a um forte ato no dia 8 que o PSOL deveria colocar sua militância, seus parlamentares e figuras públicas. Confiando na força das mulheres que estamos vendo na Argentina e no ódio que os setores oprimidos no Brasil carregam para lutar, podemos não apenas acabar com a intromissão do Estado sobre nossos corpos, que significa milhares de mortes todos os anos, como lutar também por contraceptivos gratuitos oferecidos pelo Estado, pela separação da Igreja e do Estado e pela anulação de todos os ataques dos golpistas.

A juventude pode ser uma potência, com nossa revolução das filhas brasileiras, para incendiar o país e fazer um tsunami verde na América Latina em aliança com os trabalhadores!




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