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PANAMA PAPERS | A renúncia do primeiro ministro islandês e os Panama Papers

Nesta terça-feira os vazamentos dos chamados “Panama Papers” cobraram sua primeira vítima, renunciou o primeiro ministro da Islândia Sigmundur David Gunnlaugsson. A divulgação da existência de uma companhia “off shore” de sua propriedade e em seguida de sua esposa foi a gota d’agua para milhares de islandeses tomarem as ruas para exigir sua renúncia. Mais de 20 mil pessoas se mobilizaram no país, de uma população total de 320 mil habitantes.

Matías MaielloBuenos Aires

quinta-feira 7 de abril de 2016 | Edição do dia

Gunnlaugsson, um conservador de centro-direita, renunciou antes de ser votada uma moção de censura no Parlamento e horas depois de pedir ao presidente a dissolução do Parlamento. O número dois do governante Partido Progressivo, Sigurdur Ingi Johansson, disse aos jornalistas que sua formação política sugerirá a seus sócios de aliança o Partido Independência sua própria nomeação como primeiro ministro.

A continuidade das mobilizações poderiam levar abaixo esse plano. Por outro lado, as forças opositoras levantaram o adiantamento das eleições, entre elas a Aliança Socialdemocrata e o Partido Pirata. Esse último, segundo alguns pesquisadores seria o favorito no caso de uma nova eleição.

A de Gunnlaugsson, é a segunda queda de um governo de centro-direita na Islândia desde o início da crise capitalista de 2008. Em 2009, em meio a mobilizações populares e o colapso da economia, renunciava o primeiro ministro Geir H. Haarde do direitista Partido da Independência, que governava em uma coligação com a Aliança Socialdemocrata surgida em maio de 2007, mas que agora, é parte da coligação com o Partido Progressivo do atual primeiro ministro renunciante. As voltas da história.

A crise econômica em que então trouxe efeitos devastadores sobre as massas. Um terço da população perdeu suas poupanças, a taxa de desemprego aumentou, a moeda local caiu em 40% afetando diretamente o consumo das massas que dependem em grande medida de produtos importados. Enquanto isso, tanto ou igual em todo o mundo, os capitalistas seguirão fazendo negócios lucrativos.

O vazamento dos “Panama Papers” sobre a empresa off-shore, bancos credores que quebraram em 2008, propriedade de Gunnlaugsson e logo vendida a sua esposa, filha de um importante proprietário de concessionários da Toyota, é só uma pequena lembrança desse princípio capitalista para as massas.

Negócios são negócios

A onda de vazamentos dos mais de 11,5 milhões de documentos do escritório panamenho Mossack Fonseca vem tomando as mais diversas proporções. Mas além da hipocrisia de Obama dizendo que é “um novo lembrete de que a evasão tributária é um grande problema global” e a chamativa ausência de figuras de peso norteamericanas nas listas que se divulgaram, o certo é que os “Panama Papers” provocam indignação porque são um pequeno – talvez ínfimo – lembrete mundial do parasitismo dos capitalistas e seus agentes.

Os mesmos que se esforçam em evitar impostos são os que dia a dia exigem as massas a submeter-se a planos de ajuste, os mesmos que exigem “sacrifícios” aos trabalhadores e aos povos do mundo, tampouco, menores salário, flexibilização laboral, menos aposentadoria e muitos eteceteras. Nas listas divulgadas, quase ridiculamente parciais, se podem ver vários exemplos ilustrativos, para além da Islândia.

Segundo os vazamentos dos “Panama Papers”, ao menos 28 bancos alemães recorreram aos serviços do escritório panamenho Mossack Fonseca e criaram ou gestionaram para seus clientes mais de 1.200 empresas fantasmas. Os mesmos bancos cujo nome e interesse devastou a Grécia, onde atualmente as massas seguem sofrendo a “austeridade” administrada por Syriza para pagar a tremenda dívida “pública” a qual se enriqueceram aqueles mesmos bancos em sociedade com os capitalistas locais.

Temos também o empresário Petró Poroshenko, atual presidente da Ucrânia, que, segundo as informações publicadas a partir do vazamento de documentos do escritório panamenho, criaram-se três sociedades off-shor em agosto de 2014, no momento mais difícil da guerra no leste da Ucrânia na qual morreram milhares de pessoas. Como era de esperar, em uma conferência de imprensa em Berlín junto a chanceler alemã, Angela Merkel, a diretora do FMI Christine Lagarde, teve o cuidado de evitar qualquer crítica a Poroshenko e reafirmou que o FMI “luta contra a corrupção”.

Na América Latina, podemos ver um exemplo, no presidente argentino Maurício Macri, o “Golden boy” da nova direita latino-americana. Esta figura empreendedora é diretor de uma das empresas citadas pelos “Panama Papers”. Seu irmão participa de oito destas firmas no Panamá, assim como vários de seus funcionários. Este é o governo que se encontra aplicando um feroz ajuste sobre os trabalhadores e o povo, com tarifaços e demissões, exigindo “sacrifícios” para equilibrar a economia, e acusando os servidores públicos de não trabalhar para justificar milhares de demissões.

Poderíamos seguir com grandes e longos exemplos, mas ainda assim seria uma amostra muito pequena e simbólica, mas mostra ao final, a raiz na qual está fincado o capitalismo: sofrimentos, exploração e opressão por um lado, bons negócios pelo o outro.

Tradução: Beatriz Beraldo

Link original aqui.




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