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MARX | A religião e seu papel ideológico em tempos de crise

Em sua "Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel" Marx expõe a questão religiosa dentro de sua historicidade na seguinte passagem: "A religião não faz o homem, mas, ao contrário, o homem faz a religião: este é o fundamento da crítica irreligiosa.

terça-feira 5 de maio de 2020 | Edição do dia

A religião e seu papel ideológico em tempos de crise.

Em sua "Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel" Marx expõe a questão religiosa dentro de sua historicidade na seguinte passagem: "A religião não faz o homem, mas, ao contrário, o homem faz a religião: este é o fundamento da crítica irreligiosa. A religião é a autoconsciência e o autosentimento do homem que ainda não se encontrou ou que já se perdeu". Marx reflete sob um viés materialista histórico de formação da religião. Esta, resultado de um processo histórico de desenvolvimento das relações sociais. A religião surge de uma necessidade material do humano: existir num mundo carente de espiritualidade, um mundo de miséria, de fome, de exploração. Mas a religião não é a resolução dessa necessidade, pelo contrário, seu protesto, de forma a entorpecer a mente humana, levando-a à aceitação do mundo como está.

Eis, então, a seguinte passagem: "A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo". A religião é a subjetividade que reflete o mundo objetivo. É resultado direto deste e, ao mesmo tempo, a manifestação da insatisfação humana. Porém, essa insatisfação não vem em forma de luta, uma luta de classes, mas sim como consolação, geradora da aceitação passiva, por isso, o ópio do povo.

Os discursos prometedores do reino dos céus, da felicidade eterna, da paz celestial são todos falácias. Para que possa haver felicidade real, é necessário o fim da religião. Mais que isso, o fim da necessidade da religião.

Porém, o Capitalismo precisa da miséria religiosa, e além disso, lucra com esta miséria. Não é por acaso o surgimento das igrejas neopentecostais, como a Universal, a Igreja Mundial, dentre outras mais. Estes empresários aproveitam o desespero humano, diante de tanta ignomínia e sofrimento. Vendem o seu produto, a fé. Cobram o dízimo que é pago pela carência humana. Enfim, transformam a religião em uma mercadoria

O fato é que a religião, antes de tudo, é um aparelho ideológico do Estado, uma instituição burguesa de dominação hegemônica. Com o desenvolvimento histórico da luta de classes, torna-se impossível a atenuação dos antagonismos apenas pela força de coerção. Faz-se necessário, então, uma outra forma de dominação de classe. O discurso religioso acaba por se tornar uma arma sobre a qual a burguesia repousa.

Em tempos de crise econômica, esse discurso precisa ser reforçado. A crise é um momento de agravação dos antagonismos de classe que podem levar à superação das relações burguesas de produção. Mais do que nunca, o terreno social é fértil em condições objetivas de revolução proletária. Diante de um movimento organizado, nenhuma força armada pode conter esta resultante histórica. Nunca a convenção da exploração da classe trabalhadora pela burguesia foi tão precisa.

A atual crise do sistema financeiro vem acompanhada pela pandemia de Covid-19 que assolou o globo em poucos meses. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro chegou a incluir igrejas e templos como serviços essenciais, ou seja, durante a quarentena, estas instituições iriam funcionar normalmente. Assim como as outras empresas, estas, que vendem a fé dogmática, também viram seus lucros ameaçados pelos efeitos do isolamento social. A burguesia põe os seus lucros acima das vidas. Diante disso, esta mesma burguesia utiliza a instituição que garante sua posição no processo produtivo, por consequência, seus interesses: o Estado. Este, permite o funcionamento das demais instituições que cumprem seu papel no processo da luta de classes, atendendo aos interesses da classe economicamente e politicamente dominante.

É claro que Bolsonaro não dá a mínima para o genocídio que poderia causar, mas sabe o quão essencial é a igreja em momentos como o atual. Cresce a fome, a miséria e o desemprego, por consequência, cresce a revolta dos oprimidos, que pode evoluir de um simples desconforto do trabalhador à derrubada sistemática desse modelo de sociedade, uma vez organizados de forma coesa e consciente os trabalhadores!




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