×

Babi DellatorreTrabalhadora do Hospital Universitário da USP, representante dos trabalhadores no Conselho Universitário

quinta-feira 16 de julho de 2015 | 12:16

Mãe de três filhos, Tatiana Camilato, 31 anos, saiu para fazer um aborto clandestinamente no Jacarezinho e não voltou mais. Tatiana tinha medo de não conseguir o emprego pra sustentar a família, como relatou sua irmã "Eu não tenho saída, preciso fazer isso, sou mãe solteira". Foi levada à uma Unidade de Pronto Atendimento no Engenho Novo por uma mulher desconhecida, com nome e telefone falsos, mas não resistiu e morreu.

Tatiana estava com os dentes muito quebrados, um corte na testa e arranhões pelo corpo. No ano passado, Jandira Magdalena dos Santos, 27 anos, também saiu para fazer um aborto e não voltou mais. Seu corpo foi encontrado carbonizado. Essa é a violência cruel que as mulheres encontram enquanto o aborto continuar a ser um crime. E mesmo nos casos em que é permitido por lei, as mulheres enfrentam inúmeras dificuldades e humilhação.

O caso de Jandira escancarou que existe uma máfia, inclusive com a participação da própria polícia, lucrando com a opressão e exploração em que vivem as mulheres. Pressionadas, por um lado, pelo patrão que ameaça demitir em caso de gravidez, pelo Estado e a polícia que perseguem e criminalizam as mulheres que recorrem aos abortos clandestinos e, por outro, pela necessidade de se manter empregadas e sustentar seus filhos. Num país que privilegia cortes de verbas pra saúde e educação, criminaliza as mulheres que abortam enquanto não oferecem creches e exames simples como o Papanicolau pra garantir a saúde das mulheres.

Tatiana e Jandira não são exceções, pois 1 em cada 5 mulheres no Brasil já realizou ou realizará um abortou. Todos os anos cerca de 860 mil mulheres realizam aborto, sozinhas, no desespero da clandestinidade, pois sabem que podem entrar nas estatísticas da Organização Mundial de Saúde que denuncia que 1 brasileira morre a cada 2 dias em decorrência de complicações nos abortos clandestinos.

Muito além de convicções religiosas e da vontade individual, é preciso parar este verdadeiro assassinato de mulheres através da legalização do aborto para que seja um direito para todas as mulheres, realizado de maneira segura, sem burocracias e gratuita no SUS.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias