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GOVERNO BOLSONARO | A primeira crise de proporções do governo Bolsonaro

Nem assumiu ainda e o governo Bolsonaro já vive sua primeira crise. As denúncias de que um assessor de seu filho Flávio Bolsonaro teria feito movimentações suspeitas em dinheiro vivo a partir da sua conta bancária, incluindo o pagamento de um cheque de 24 mil para a primeira dama, coloca Bolsonaro em uma situação delicada. Ao mesmo tempo, as tratativas para montar uma base de apoio sólida no Congresso também estão questionadas por uma crise no seu próprio partido.

Thiago FlaméSão Paulo

sábado 8 de dezembro de 2018 | Edição do dia

Fabricio José de Queiroz, policial militar reformado, amigo de Bolsonaro desde a década de 1980, assessor e do círculo de confiança de Flávio Bolsonaro, foi pego pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) efetuando transações suspeitas. Suspeitas por que efetuadas em espécie e geralmente abaixo do valor de 10 mil reais, uma forma de fugir do controle da fiscalização. Em um ano teria movimentado mais de um milhão de reais (R$1,2 milhão) em dinheiro vivo.

O paladino da moral e da denúncia da corrupção petista começa a mostrar que tem o telhado de vidro. Suas explicações e de seus filhos não convencem. Sobre o cheque destinado a sua esposa, afirmou que foi o pagamento de parte de uma "dívida de 40 mil reais" que teria emprestado ao seu amigo. Mas os valores não batem, novas explicações são exigidas de todos os lados. Além disso, seu filho Flávio afirma que Queiroz era da sua mais "estrita confiança" e que "não conhece nada que o desabone": como diz Nassif, Al Capone também tinha colaboradores "de sua mais estreita confiança".

Pelo caráter defensivo das primeiras declarações do clã Bolsonaro – e o cancelamento da agenda dessa sexta-feira pelo novo presidente, um movimento que revela ter sentido o baque – podemos esperar novas declarações corrigindo versões comprometedoras, como a de Flávio Bolsonaro, que defendeu em público seu ex-assessor e suas "razões plausíveis" (ainda sem ter revelado do que se tratavam).

Trata-se da primeira crise importante do governo, e que pode ganhar novas proporções. O que estaria por trás destas primeiras denúncias contra Bolsonaro, no momento em que ele está em uma situação delicada, da montagem da sua base de apoio no congresso?

É difícil ainda vislumbrar o conjunto do movimento que esta por trás destas denúncias, mas vale como um lembrete ao clã Bolsonaro: “pau que dá em Chico, dá em Francisco”. Ou seja, os mesmo métodos da Operação Lava Jato que foram utilizados contra Dilma, Lula e o PT, podem também se voltar contra Bolsonaro, para condicionar os atos de seu governo. O bonapartismo judiciário, apesar das declarações de "recolhimento" de Dias Toffoli, segue fazendo política, e política pró-ajustes e pró-imperialistas, diga-se de passagem.

Lembremos que recentemente o presidente do supremo deu declarações, ao lado de Bolsonaro, sobre a importância da reforma da previdência, se pronunciando sobre tema que deveria estar fora da atuação do Supremo Tribunal Federal. Recentemente, em visita aos EUA, Eduardo Bolsonaro afirmou que o governo terá dificuldades de aprovar a reforma da previdência. Eis que agora seu outro filho, Flávio, é o pivô do potencial do primeiro escândalo do novo governo.

No front parlamentar do novo governo, as coisas não vão melhor. Como têm apontado vários analistas, a negociação com as bancadas temáticas não seria suficiente para montar uma base consistente, e deixar as cúpulas partidárias de fora das negociações poderia paralisar as pautas de interesse do governo no Congresso. Ao mesmo tempo, apesar de todo o discurso moralista, Bolsonaro já está se curvando ao fisiologismo do Congresso.

A montagem de um bloco de partidos tendo o DEM de Rodrigo Maia como principal articulador, visa isolar o PSL, partido do futuro presidente. E já existe insatisfação dentro do PSL, que está sendo preterido pelos partidos do Centrão na montagem dos ministérios. Essa insatisfação escalou na última semana em uma disputa aberta, com direito a troca de ofensas entre Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann, deputada por São Paulo.

Com tantas dificuldades, a capacidade de articulação politica de Bolsonaro já esta sendo colocada à prova. E isso que os momentos mais difíceis, como a aprovação da reforma da previdência, ainda estão por vir.

Ainda é cedo para saber quem vai sair fortalecido dessas disputas dentro dos pólos de interesse que competem pela influência dentro do governo. De um lado, os métodos bonapartistas da Lava Jato se fortalecem, dando mais relevo ao papel de Moro (que agora controla o mesmo Coaf que sinalizou a movimentação financeira atípica), que pode se lançar a tentar ser mais que um super-ministro, mas um quase primeiro ministro de um governo acossado pela justiça.

De outro lado, ainda que os generais mais próximos de Bolsonaro possam também sair chamuscados se o escândalo avança, podem também se fortalecer no interior do governo, ao representarem um bloco mais coeso que os demais. No entanto, as disputas também existem entre os militares. Lembremos como Villas Boas se pronunciou sobre Bolsonaro, o acusando de messiânico em entrevista à Folha de São Paulo. É digno de nota que Moro buscou um general aliado de Villas Boas para comandar a Secretaria de Segurança Pública, da mesma forma que Toffoli.

A primeira crise de proporções do governo é a primeira investida séria do bonapartismo judiciário para disciplinar o governo de extrema direita a organizar de imediato a aplicação da reforma da previdência para o início de 2019. As alegações de "dificuldade" pelo clã Bolsonaro já recebem sua primeira resposta ameaçadora do capital financeiro e do judiciário pró-imperialista, que através de Dias Toffoli faz campanha pela reforma.

Em meio a essas disputas, se visualizam as brechas por onde pode voltar a emergir o movimento de massas, quando um governo tão pouco coeso, ainda com rachaduras em todo lado, tente aprovar medidas impopulares no Congresso, em primeiro lugar a reforma da previdência.

Frente a essas crises, ou o movimento de massas se coloca como um fator independente na cena politica, ou quem vão sair fortalecidos serão os pólos de poder mais autoritários do governo Bolsonaro.




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