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CRISE POLÍTICA | A oposição mostrou força nas ruas e o chavismo convocou em Miraflores

Nesta quarta-feira dezenas de milhares marcharam em Caracas e outros pontos do país, contra a suspensão do revogatório de Maduro. O chavismo, pela segunda vez, fez o seu para defender o governo.

sexta-feira 28 de outubro de 2016 | Edição do dia

Nesta quarta-feira dezenas de milhares marcharam em Caracas e outros pontos do país, contra a suspensão do revogatório de Maduro. O chavismo, pela segunda vez, fez o seu para defender o governo.

Esquerda diário Venezuela

Quinta-feira 27 de outubro

A oposição realizou a mobilização mais contundente nesta quarta-feira. Ao que parece, não alcançou a força que teve no primeiro de setembro passado, mas sim constituiu uma demonstração de forças determinante na qual a oposição buscava mostrar musculatura para realizar ações de rua às distintas votações que realizou a assembleia Nacional, que em si mesmas vem crescendo em efetividade prática no marco do conflito de poderes existentes.

Em Caracas, o grosso da manifestação da oposição se concentrou nas ruas do leste da cidade, seu principal bastião, e especialmente na rodovia Francisco Fajardo que liga o leste com o oeste do país. Foi no meio dessa via que os principais dirigentes da aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) realizaram seu ato político, falando seus principais porta-vozes.

Ou seja, se manteve na zona dos municípios que a oposição controla majoritariamente e não avançou ao oeste, centralmente ao município Libertador (que coincide com o Distrito capital), onde se encontram os principais poderes públicos centralmente o Palácio Miraflores, a casa presidencial. A oposição declarou que não marcharia até Miraflores para "dar tempo ao governo até 3 de novembro”, mas na verdade respeitavam um acordo já feito previamente inclusive com o próprio governo com a mediação do enviado do Papa, Monsenhor Emil Paul Tscherrig.
Enquanto se realizam estas demonstrações de força, se realizam por baixo aceleradas reuniões que chamam de “exploratórias” entre representantes do governo e da oposição, que tem se intensificado mais ainda com a chegada do enviado do Papa Francisco ao país no sábado passado.

O chavismo, por sua parte, também convocava pela segunda vez consecutiva outra marcha aos arredores de Miraflores que apesar de ser menor que a convocada pela oposição, não deixava de demonstrar que o governo ainda mantém uma base social, ainda que claramente esteve muito longe da que souber ter em sem momento Chavez.

Durante seu ato central, a oposição convocou nesta quarta-feira o que chamou de “uma greve de12 horas’” para A próxima sexta-feira em todo o país para manter “as ruas vazias” e o “país deserto”, assim como uma manifestação até Miraflores em 3 de novembro, de acordo com o anunciado pelo secretário executivo, Jesus Torrealba, em nome de toda a MUD.

Esclarecendo que quando a oposição fala de “greve geral” centralmente está se referindo a uma paralização patronal assim como fez em outros momentos, tendo um conteúdo centralmente político. O representante da MUD indicava que esta interrupção de atividades se fará “em protesto contra a violação do direto ao voto”, enquanto a Assembléia Nacional avança na “ via parlamentar para aprovar o afastamento do cargo (de Nicolás Maduro) por abandono do mesmo”.

A Fedecamaras, principal federação patronal do país, declarou nessa quarta-feira que cada empresa decidirá por si mesma se adere a “greve geral” anunciada hoje pela aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), mas claramente alinhada com a iniciativa da MUD chamando a “retomar o fio constitucional” e exortando à “imediata restituição do estado de direito”. Em abril de 2002, um protesto massivo antigovernamental que chegou ao palácio de Miraflores, onde a Fedecamaras teve um dos papéis principais, tornou-se um breve golpe de Estado contra o então presidente Hugo Chavez deixando dezenas de mortos.

Maduro entretanto, ante milhares de simpatizantes que realizaram uma marcha convocada pelo chavismo em caracas em seu apoio, chamava os trabalhadores e empresários a não atender ao chamado da greve geral de 12 horas feito por seus opositores. “Chamo ao trabalho, e com o trabalho derrotar aqueles que querem causar dano a nossa pátria, àqueles que querem preencher-nos de violência, àqueles que querem levar a pátria a desestabilização”, sustentou Maduro.

Entre a marcha convocada em Miraflores e o provável encontro entre a oposição e o governo.

A assembleia nacional tem previsto realizar uma reunião na próxima trerça-feira, assim que aprovar um processo para determinar a responsabilidade política de Maduro, a quem citou a ao comparecer na Câmara em 1º de novembro, no qual chama a “ruptura do fio constitucional” no país e “iniciar o procedimento declaratório de responsabilidade política do presidente da república”. Por isso que Capriles assegurou nessa quarta-feira que “a Assembléia Nacional na próxima terça pode declarar não só a responsabilidade política de Nicolás Maduro, mas também poderia declarar o abandono do cargo o que levaria a um novo processo eleitoral.

Em função desta sessão da Assembléia Nacional os dirigentes da MUD disseram que marcharão na próxima sexta-feira ao Palácio Miraflores para supostamente notificar Maduro, as decisões que adotar o parlamento. De acordo com Ramos Allup, presidente da NA, “em 3 de novembro vamos notificar Nicolás Maduro que foi declarado pelo povo venezuelano incorrer em responsabilidade política por abandono de cargo”.

Até a próxima terça-feira, nem dizer até sexta, muita água pode rolar em meio às altissonantes declarações da oposição. No meio disso se cruza a reunião planificada e anunciada pelo enviado do Papa para o próximo domingo 30 de outubro e inicialmente convocada para acontecer na Ilha Margarita.

Henrique capriles afirmou também nesta quarta-feira em nome da MUD que “não vamos à ilha de Margarita no domingo”. Mas ao que parece se trataria de um jogo de palavras demagógicas para mostrar tensão, pois a MUD já havia afirmado que dita reunião poderia ser realizada em Caracas ou outro lugar do país, menos em Margarita. Sendo que a Conferência Episcopal Venezuelana já anunciou via comunicado oficial, que a reunião entre a oposição e o governo de Maduro se realizará em 30 de outubro, sem especificar o local em que seria realizada, e que servirá para “pôr os pontos sobre a mesa” da agenda e não para dar “início ao diálogo”, e a este anúncio a MUD não fez nenhuma objeção.

Embora a situação política do país é tensa em meio a uma crise que se agudiza, a presença do enviado do Papa a Venezuela, o núncio na Argentina, Emil Paul Tscherrig, assim como dos mediadores internacionais encabeçados pelo espanhol José Luis Zapatero, não é por turismo político. Além disso, o vaticano tem uma vasta experiência em conflitos de maior envergadura com os recentes acordos entre Estados Unidos e Cuba de uma maior complexidade, decidindo se meter de cabeça na Venezuela.

Dessa maneira, não é de descartar que todas estas demonstrações de força tanto institucionais como ações de rua não seriam para estabelecer uma melhor relação de forças na mesa de negociação, demonstrando como se burlam e jogam com as calamidades, e quão longe estão de responder às grandes necessidades do povo.

Por isso, em meio a todas estas disputas entre as principais forças políticas do país não há nada progressivo para a classe trabalhadora além das distintas retóricas que usam tanto o governo de Maduro como a MUD. O povo vem sofrendo uma pesada crise que o governo com suas políticas de ajuste deixa descarregar sobre suas costas; por outro lado a direita da MUD, com sua política demagógica se posiciona para pescar em rio revolto mas encarna todo um plano reacionário e anti operário.




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