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MOVIMENTO ESTUDANTIL | A necessidade de um movimento estudantil combativo e organizado

Artur LinsEstudante de História/UFRJ

segunda-feira 5 de outubro de 2015 | 23:54

A universidade não está a parte da sociedade, nela também se reflete as desigualdades do capitalismo, isso se torna nítido quando percebemos que os estudantes cotistas e trabalhadores são os mais prejudicados pela ausência de uma assistência estudantil que garanta o básico para, pelo menos, o estudante viver dignamente sem precisar trabalhar e assim podendo dedicar seu tempo durante a graduação aos estudos de forma saudável.

Na crise econômica atual, quando o governo e tanto a oposição de direita vêm cometendo uma série de ataques ao trabalhador e à juventude para garantir o lucro dos empresários, a universidade não ficou ilesa: a “Pátria Educadora” do governo Dilma cortou 12 bilhões da Educação Pública, enquanto manteve e até aumentou os repasses públicos às universidades privadas através do FIES.

Desde fevereiro, por exemplo, a UFRJ teve que adiar o calendário acadêmico pois as unidades precisavam ser fechadas devido ao fedor do lixo acumulado, resultado da greve dos terceirizados, que pararam suas atividades devido ao atraso e ao não pagamento do salário. Isso aconteceu porque a UFRJ não fez o repasse às empresas contratadas, que por sua vez não efetuaram o pagamento do salário dos terceirizados.

Meses depois seria a vez dos estudantes iniciarem uma greve que duraria 3 meses. Essa greve foi mais uma resposta dos estudantes contra os ajustes fiscais do governo Dilma. Lutamos pelo término das obras no alojamento, por assistência estudantil, contra o corte das verbas da educação, etc. No entanto, não fomos ouvidos uma única vez pelo ministério da educação e saímos dessa greve não só sem nada do governo federal, como o governo ainda aumentou o valor dos cortes na educação!

A maioria das obras que foram prometidas pelo reitor Roberto Leher a serem finalizadas até 2016 já eram obras inacabadas de outras gestões da reitoria. Além da promessa de concluir a reforma da ala feminina do alojamento até novembro, a reitoria se comprometeu com obras que já estavam em processo, nada novo foi ganho - veja um texto sobre aqui.

Por um movimento estudantil combativo e militante

Essa greve não nos proporcionou ganhos imediatos materiais porém aprendemos bastante por outro lado. Vimos que era uma greve necessária e justa, nós estudantes não podemos pagar pela crise que os capitalistas provocaram. Vimos também entidades representar os interesses do governo no movimento estudantil, atuando para frear e trair qualquer mobilização contra o governo Dilma, como é o caso da UNE que há anos é um braço do governo PT e, durante a greve na UFRJ, posava ao lado de Kátia Abreu, representante dos ruralistas e latifundiários que massacram os sem-terra e os indígenas.

No entanto, a gestão do DCE, desde o início do ano, quando os cortes foram anunciados, não estimulou seriamente assembleias de base para que a situação na universidade, envolvendo a exploração dos terceirizados e as condições precárias dos estudantes, fossem debatidas democraticamente e organizadas desde a base, para que a greve fosse realizada com força e como ocupação.

Muito pelo contrário, a direção do DCE da UFRJ não construiu nenhuma assembleia de base até decretar a greve, a política se baseou em apenas no chamamento de assembleias gerais, tendo as assembleias locais de curso esvaziadas. Disso resultou que em vez de ter sido uma greve de ocupação que pudesse despertar o movimento estudantil nacionalmente contra os cortes na educação, resultou numa greve rotineira, nesse sentido enfraquecendo aos poucos a força da greve.

Tudo isso mostra o esgotamento de um movimento estudantil pragmático, desorganizado, com dificuldade de mobilizar e estimular a combatividade dos estudantes frente à situação crítica imposta pelo governo federal. Precisamos criar uma nova tradição de movimento estudantil, que seja amplamente democrática e que impulsione assembleias de base para organizar a luta contra as opressões e a desigualdade social presentes na sociedade capitalista.

Necessitamos de agitação política cotidianamente e não apenas quando se precisa de votos para se eleger no centro acadêmico. A derrota da greve na UFRJ nos mostrou que é urgente um novo modelo de luta, que aprenda com os erros passados para que tenhamos sucesso no futuro. Uma juventude aliada à luta da classe trabalhadora, antigovernista e anticapitalista se faz necessária para que nossas lutas possam vencer, com o apoio dos trabalhadores e do povo.

Retomar as entidades estudantis para a luta

Os centros acadêmicos, sendo instrumentos de organização estudantil, devem impulsionar a iniciativa e consciência dos estudantes, estimulando debates e atividades questionando o modelo institucional elitista, racista e antidemocrático de nossa universidade, superar a burocratização das gestões de DCEs governistas, aparelhados pela UNE, que já são uma realidade nacional há muito tempo e que precisa ser superada por um novo movimento estudantil que não será nada rotineiro, e sempre estará ao lado da classe trabalhadora explorada.

Nesse sentido, nossa luta deve ser pela abertura do livro de contas da universidade, pela eleição dos chefes de centro via voto direto. O estatuto da UFRJ coloca tanto estudantes quanto servidores numa posição submissa em todas as tomadas de decisão, ocupando apenas 15% dos órgãos colegiados. Para que se democratize de fato a universidade, nós da Juventude ÀS RUAS defendemos uma estatuinte que jogue no lixo o estatuto herdeiro da ditadura militar e substitua estas regras “feudais” de poder por um governo universitário tripartite entre servidores (efetivos e terceirizados), professores e com maioria estudantil aonde cada cabeça valeria um voto.

Pela efetivação dos terceirizados sem necessidade de concurso público para acabar com a precarização e super-exploração do trabalho dentro da UFRJ, que fez com que milhares de trabalhadores ficassem sem receber no início do ano. Pela expansão e aumento do valor das bolsas com o piso de um salário mínimo e por bandejão em todos os campi para que todos possam ter condições de estudar e acabar a evasão.

Por cotas proporcionais e fim do vestibular para que todo filho de trabalhador, de baixa renda ou negro, possa ter acesso a uma educação superior pública e de qualidade sem precisar se endividar com o FIES. Creches para todas as mulheres da comunidade universitária, incluindo estudantes, professoras e trabalhadoras efetivas e terceirizadas, pois a universidade tem o dever de garantir às mulheres mães e trabalhadoras meios para que elas possam estudar e assistir às aulas.

Para isso defendemos a renovação política dos centros acadêmicos e DCEs Brasil afora, para que uma organização combativa e orgânica da juventude sempre esteja preparada para lutar de forma eficiente e forte.

Ou seja, é fazer o que nenhuma gestão de CA ou DCE faz atualmente, que é acompanhar politicamente os estudantes no cotidiano, é muito discurso para pouca prática. Se faz necessária uma gestão militante e que dê espaço para o estudante ser protagonista de sua luta.

O amanhã será nosso!




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