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DOSSIÊ DIA DOS PROFESSORES | A necessária batalha dos professores contra a direita e o capitalismo

Crise do capitalismo, avanço da direta, ataques à educação em todas as esferas, os professores no olho do furação. O que podemos fazer?

domingo 15 de outubro de 2017 | Edição do dia

Não é novidade para nenhum professor que o sistema - capitalista - no qual vivemos tem como objetivo único a obtenção de lucro. Para isso, aquelas oito pessoas que possuem quase toda a riqueza - e os meios de produção - do mundo transformam absolutamente tudo em uma fonte para obtê-lo. Com a educação não seria diferente. Muitos de nós entendemos a educação como uma fase de aquisição de todas as ferramentas já desenvolvidas pela humanidade para a compreensão profunda da sociedade e da natureza, como uma capacitação dos novos membros da sociedade para o aprimoramento permanente da produção necessária para a vida e para o progresso humano - que passa por um desenvolvimento do senso crítico e questionador.

Porém, não é bem assim que os capitalistas a veem. O que podemos observar são duas formas de "educação" voltadas para a garantia lucrativa de alguns: uma destinada para a elite, mercadoria caríssima de alta qualidade que só tem acesso quem pode pagar, que visa a excelente formação dos novos grandes donos do mundo, do conhecimento, do poder econômico e político, e futuros exploradores das massas. Do outro lado, a educação da população, da ampla massa trabalhadora, que tem como objetivo único a qualificação necessária para exercer o trabalho produtivo alienado, para formar um amplo exército de explorados, mão de obra o mais barata possível para produzir os mais amplos lucros aos capitalistas.

A esperança de todos nós era de que, progressivamente, a desigualdade iria diminuir e as coisas poderiam vir a melhorar, ainda que na rede pública de ensino as condições continuassem precárias. Mas com a chegada da crise econômica capitalista, essas esperanças se converteram em seu inverso com o fortalecimento mundial da direita empresarial, reacionária, que elegeu a educação como inimiga número um a ser atacada. Pra que sejam os trabalhadores a pagar a conta dessa crise ainda sem solução, todos os avanços, que paulatinamente foram sendo conquistados com muita luta dos de baixo - e demagogia dos de cima -, estão retrocedendo em uma paulada só.

Após o golpe institucional dado por essa direita no nosso país, qual a primeira grande reforma aprovada? Justamente a PEC 55, que, se não foi o fim do mundo, deu o primeiro passo para o fim da educação pública ao congelar os gastos - já escassos - pelos próximos vinte anos. Em consequência dela: demissões, parcelamento de salário, "Uber Professor", fechamento de salas, e mais uma série de ataques precarizantes que cada professor sabe listar pela sua própria escola.

Além desses ataques de cunho econômico, visando retirar o dinheiro da educação para colocar no bolso dos capitalistas, a direita também avança sobre os professores na esfera ideológica e moral. Para passar o trator e fazer da educação terra arrasada, fértil pra iniciativa privada - e mais lucros, é preciso calar a voz de sua defesa: os professores e e estudantes. Vozes que, aliás, desde o início da crise econômica se fez ecoar em claro e bom som em grandes lutas por todo o mundo. Nesse sentido é que surgem movimentos reacionários como o "Escola Sem Partido", que busca impor uma mordaça aos professores, cerceando diretamente o que podem dizer dentro de sala de aula, impedindo que expressem aquilo que pensam, aquilo que são, e que exerçamos o mais prazeroso de nosso ofício: provocar o questionamento, o pensamento crítico, a reflexão e criação de ideias. Este movimento é um chamado a assediar e perseguir professores progressistas para nos acuar.

Mais do que isso: projetos como esses visam também retirar dos estudantes o direito ao conhecimento crítico, ao debate sobre gênero, raça, classe, mas também a história, filosofia, sociologia, e a arte. Com isso, buscam "educar" uma massa acrítica, letrada no básico da alfabetização em português e matemática, e na capacitação profissional hiperfragmentada que será oferecida no local daquelas matérias através da Reforma do Ensino Médio. Não é conveniente a formação de jovens pensadores que reivindiquem seus direitos sociais, ou que ocupem escola por uma educação de qualidade, que se organizem para estar ao lado das greves operárias. A juventude trabalhadora ideal para a direita é cega, surda e muda, conformada a ocupar todos os postos de trabalho terceirizados e semiescravos que a reforma trabalhista legou ao nosso país.

Querem com esses ataques à educação nos domesticar para esse futuro sombrio que a direita vem buscando implementar no Brasil, mas também na Argentina com Macri, nos EUA com Trump, na França com Macron e por aí vai. Essa é a saída que os capitalistas estão dando pra crise que diminuiu seus lucros exorbitantes, e impor uma nova ordem de ainda mais profunda superexploração aos trabalhadores, e para isso precisam consolidar o sentimento de que não há nenhuma outra saída, de que nada pode ser feito, de que a luta está perdida.

Irão conseguir? Não tão facilmente, e um bom exemplo disso é a grande luta que vem se desenvolvendo no Rio Grande do Sul. Os professores saíram em greve pelo básico direito ao salário integral, mas acenderam novamente a chama que brilhou forte na greve geral do dia 28 de abril: é possível vencer essa direita. Com mais de um mês de uma luta que a cada dia recebe maior apoio de toda população gaúcha, os docentes arrastaram atrás de si os municipários que também entraram em greve, e agora os rodoviários que a preparam no estado de greve.

Professoras e professores, essa luta é um grande exemplo para todo o país, é um ponto de apoio para todos nós. É fundamental que nossa categoria não apenas a cerque de toda a nossa solidariedade e apoio ativo, mas que a seu modo combatamos a direita em cada um de seus avanços. Assim como fomos grande contingente nas históricas paralisações nacionais deste ano, precisamos nos organizar em cada escola, exigir de nossos sindicatos que organizem também a luta - antes tarde do que nunca, e tomar para nós a tarefa de enfrentar o Escola Sem Partido, a Reforma do Ensino Médio, nos preparando fortemente para a batalha decisiva que será a Reforma da Previdência.

Podemos vencer, e não vamos parar por aí. Desde já é preciso saber que enquanto não vivermos em uma sociedade onde toda a produção seja voltada para as necessidades humanas - e não para o lucro - não será possível ver uma educação única para todos, pública, gratuita e da mais alta qualidade. Não será possível ser educador sem adoecer no local de trabalho, sem se desiludir frente a uma situação tão miserável contrastando com todos nossos sonhos e aspirações. Não há lugar no capitalismo para uma educação verdadeiramente emancipadora, e em sua atual fase de decadência com esses recentes ataques, não é possível dizer ao menos que haja lugar para qualquer concepção que tenhamos de educação.

Essa é uma das mais importantes lições que podemos transmitir à nova geração: não abaixar a cabeça frente a nenhum retrocesso, e lutar bravamente pelo novo.




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