×

#28A | A mídia e a greve: ao lado de Temer escondendo a luta e com medo dos trabalhadores

Vimos em toda a grande mídia a tentativa de jogar para baixo a greve que paralisou o país de norte a sul. Por trás disso, a tentativa de vender as reformas do governo e o medo do levantamento da classe trabalhadora.

sábado 29 de abril de 2017 | Edição do dia

“Pequenas ações” era o termo que se destacava em grande parte das manchetes dos veículos de comunicação, como Folha e Estado de S. Paulo, para se referir à maior greve do país em décadas. Uma Entrevista na CBN abriu espaço para o escolhido por Temer para ser o porta-voz oficial do governo em tentar dizer que a greve foi um “fracasso”. Na Rádio Bandeirantes e na Rádio Eldorado deram voz para o prefeito-empresário tucano de São Paulo, João Doria, que usou seu espaço na mídia patronal para chamar os grevistas de “preguiçosos” e afirmar que “recebiam cem reais” para comparecer aos atos.

Também tentaram minimizar os efeitos causados pela greve o tempo inteiro. Aliás, já faziam sua “previsão do futuro” antes, com colunistas como o reacionário Merval Pereira, d’O Globo, dizendo que a greve seria um “feriadão” para emendar com o fim de semana e o feriado do 1 de maio. É redundante dizer que ele estava errado, pois enquanto os piquetes se espalhavam pelo país todo, as praias estavam vazias. Também repetiam insistentemente o que estava funcionando ou funcionando “parcialmente”, como fizeram com o metrô de São Paulo, que somente juntando todos os chefes pelegos conseguiu abrir essa ou aquela estação em toda a cidade, o que não serviu para minimizar em nada o impacto da greve.

Mentiras de todo o tipo

A tentativa da mídia burguesa era a de atualizar a máxima de Goebbels, ministro da propaganda do regime nazista, que resumiu a sua filosofia de doutrinação na seguinte frase: “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. E assim se comportou a imprensa, tentando dizer o que qualquer um podia constatar ser uma grande mentira. Que tudo funcionava normalmente.

Para isso, cada qual tentou de sua forma. Alguns enfocavam nos poucos serviços que “funcionavam parcialmente”, outros tentavam – com dificuldade, é claro – sua tática de entrevistar “pessoas comuns” que foram “prejudicadas” pela greve, para tentar colocar sua política anti-trabalhadores na boca do povo. O mais recorrente, no entanto, foi um curioso discurso de mostrar que as ruas estavam vazias. Ora, é evidente: as ruas estavam excepcionalmente vazias, o que é uma comprovação incontestável do sucesso da greve. Ninguém foi ao trabalho.

Então, pulando desesperadamente de um argumento para o outro, eles tentavam dizer que as pessas não foram para o trabalho apenas porque não conseguiam, impedidas pelos “grupos sindicais” (tratados, aliás, como verdadeiras gangues por essa imprensa e seus entrevistados). À noite, quando o sucesso estrondoso da greve era impossível de ser ignorado, esse passou a ser o principal argumento, que está sendo repetido nesse sábado exaustivamente, como por exemplo no Estadão, que tenta dar seu ar de “imparcialidade” com a manchete “Silêncio das ruas teve duplo sentido”. Aí, entrevistam o “especialista” Samuel Pessôa, da FGV, que diz do alto de seus diplomas e estudos: “Fazer greve é parar porque você quer impor um prejuízo para o seu patrão; é usar um instrumento de barganha na relação conflituosa entre capital e trabalho, mas essa foi uma greve puramente política, contra algumas medidas do governo Temer: não ir para rua, nesse caso, não é greve, é feriado.

Ora, mas como assim? Fazer greve é justamente querer impor um prejuízo a seu patrão (que são aqueles que “puxam as cordinhas” da marionete Temer que faça suas reformas e ataque nossos direitos). E, como alguns patrões já confessaram melancolicamente, o prejuízo não foi nada pequeno. A greve foi política, como qualquer greve é. Uma greve contra um patrão e sua exploração individual é política, como o foi em uma escala muito maior a greve de todos os trabalhadores contra toda a classe dos patrões e suas reformas. O “feriado” deu um prejuízo de bilhões para os capitalistas.

Diminuem os protestos, propagandeam as reformas

O desespero midiático em diminuir à greve é proporcional ao que tem sido, nos últimos meses, seu desespero para tentar “dourar a pílula” das reformas de Temer. Eles mentiram sobre a reforma trabalhista, e continuaram mentindo sobre os ataques aos direitos. Depois do desespero de Temer ao ver que sua base começava a vacilar diante do descontentamento de massas causado pelos seus ataques, ele até fechou um acordo com Silvio Santos para que fizesse propaganda das reformas. Ontem, no fim do dia, o Planalto divulgou na página oficial de Temer no Facebook um vídeo do apresentador Ratinho, do SBT, propagandeando as reformas.

Eles estão todos “juntos e misturados” para defender com unhas e dentes os ataques contra nós. No fim do dia, Temer saiu de seu esconderijo de onde olhava com aflição ao grande levante operário e deu uma declaração com tom muito parecido aos dos analistas da imprensa que o defende.

No dia seguinte, continua a campanha contra a luta dos trabalhadores

Hoje, no dia seguinte, continua a disputa de todos esses veículos de imprensa para repetir mil vezes sua mentira na esperança de que se torne verdade. As manchetes dos principais jornais são expressivas:

O Globo diz “Protesto de centrais afeta transportes e tem violência” e no subtítulo “sindicalistas bloqueiam vias e estradas. No Rio ônibus foram queimados”.

A Folha traz foto de um vidro de uma casa com a janela quebrada e a manchete “Greve atinge transportes e escolas em dia de confronto”, com o subtítulo “atos de rua contra reformas de Temer foram pontuais; aeroportos funcionaram normalmente”.

No Estadão a manchete é “Greve afeta transporte e comércio e termina com atos de vandalismo”. Na foto, vidros de bancos sendo quebrados.

Todo um discurso com a intenção de minimizar os efeitos da greve, de taxar todas as ações como sendo feitas por “pequenos grupos radicais” e de mostrar os grevistas como vândalos. Nenhuma fala das indústrias paradas aos milhares, nenhuma denuncia a brutalidade policial, nenhuma mostra como os trabalhadores foram sujeitos dessa ação política de extrema força contra o governo e seus ataques. Todos dão voz às avaliações do governo de que a greve foi um “fracasso”, mas não dão voz aos trabalhadores. Para ver como são defensores dessa desses patrões, basta ver a diferença fundamental entre a cobertura – antes e depois – dada à greve do dia 28, e a cobertura e inclusive a convocação ativa feita para os atos pelo impeachment.

A mídia burguesa continua cumprindo seu papel: mentir, distorcer, omitir, criminalizar. Tudo em defesa dos capitalistas, seus governos, seus ataques e seus lucros. Nós, por nossa vez, estamos cumprindo o nosso papel: de uma imprensa operária e militante, a dar voz para os trabalhadores e suas lutas. Se o dia 28 foi uma demonstração incrível de força de nossa classe, que na medida de nossas forças contribuímos em cada local para construir e também para divulgar, podemos esperar que os ataques dos patrões vão se redobrar diante de nossa resistência. Por isso, é hora de irmos por mais, preparando uma greve geral que vá até a derubada de Temer e seus ataques e possa impor uma Constituinte com a força de nossa luta.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias