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quinta-feira 20 de julho de 2017 | Edição do dia

Quando o feminismo fala de “empoderamento feminino”, costumo pensar em muitas coisas. Parece uma abstração que vai tomando forma de acordo com a afinidade ideológica da companheira que o adota.

Tem muitos debates sobre o tema, por exemplo sobre uma maior participação das mulheres no congresso, como busca de uma “sensibilidade de gênero”.
Eu não acho que ser mulher seja garantia de solidariedade e empatia com as demandas de milhões de outras como nós. Por exemplo, a governadora de Buenos Aires responsável pelo desalojo das trabalhadores esta manhã, Eugenia Vidal, é uma mulher.

Lembro também de muitas mulheres que durante a campanha eleitoral dos Estados Unidos se declararam ao lado de Hillary Clinton, fosse por ser o “mal menor” diante de Donald Trump ou com a convicção de que com uma mulher a frente da maior potência do mundo poderia trazer melhorias para nossas vidas.

“A batalha de Pepsico” – como esta sendo chamada a resistência de quase doze horas das trabalhadoras e trabalhadores – aconteceu na Argentina, a quilômetros das nossas principais capitais no Brasil. Entre tantos escândalos de corrupção e ataques aos trabalhadores - como a aprovação da reforma trabalhista na última semana – até poderia passar desapercebida por aqui, mas esta luta tomou as capas da imprensa argentina já há um mês e alguns meios de comunicação internacionais começaram a olhar para saber a que se deve essa resistência que parece tão heroica e aferrada.

O diretor de cinema Ken Loach e o premio nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, entre muitas outras personalidades, fizeram um chamado para somar solidariedade a esta luta.

Na minha opinião, parte do heroísmo que erradia tem a ver com estas operárias que estão à frente. Não há maior empoderamento para uma mulher trabalhadora do que se colocar a frente das lutas por seus direitos, organizadas em igualdade com seus companheiros de classe, mas com a sensibilidade que só quem vive a dupla opressão e a violência patriarcal pode agregar.

Este é o caso das trabalhadoras de Pepsico contra a multinacional que deixou 600 famílias na rua, assim sem mais nem menos. Estas mulheres também estavam na Paralisação Internacional de Mulheres no 08 de Março, nos protestos “Ni una menos” na Argentina e denunciam a violência do trabalho que vivem em mãos da patronal e agora também da polícia.

Por isso, sobre a questão do rol da mulher na sociedade e que tipo de feminismo temos que construir, creio que devemos buscar uma mudança radical neste sistema patriarcal que tira a vida de milhões de mulheres e para isso, a sensibilidade deve ser de classe em primeiro lugar.

Essa é uma discussão pouco abordada dentro do atual movimento de mulheres no Brasil. O retrocesso do neoliberalismo e as traições do PT – que chegou a rifar as nossas demandas , como o direito ao aborto, em prol de um acordo com a bancada evangélica para eleição de Lula - levou com que muitas companheiras dessem as costas ao movimento operário e deixar de falar na luta contra o patriarcado em termos de “classes sociais”. Pelo contrário, surgiram tendências reformistas que alentam por exemplo, maiores penas para enfrentar individualmente a violência contra as mulheres.

Não podemos falar de empoderamento feminino enquanto foram cortados os orçamentos para serviços básicos como saúde e educação com a PEC 241 e aprovada a Reforma Trabalhista que jogará milhões na miséria e precarização sabendo que são as mulheres, particularmente as mulheres negras, as que mais sofremos com este tipo de medida.

Por isso nós mulheres devemos estar à frente das lutas, das lutas por nossas demandas e também de toda a classe trabalhadora, ombro a ombro com nossos companheiros homens, construindo uma aliança estratégica para conquistar nossa emancipação e o fim de toda opressão.

O Esquerda Diário esteve na madrugada de segunda para terça feira junto à companheiras e companheiros da Juventude Faísca, Movimento Nossa Classe e agrupação de mulheres Pão e Rosas nas portas de várias fábricas da PepsiCo pelo país, impulsionando uma campanha internacionalista em apoio a esta luta que é uma verdadeira escola de como resistir aos ajustes dos governos e seus capitalistas. Precisamos tirar lições desta batalha para enfrentar também aqui os ataques que querem descarregar sobre nossas costas e assim como em PepsiCo, nós mulheres temos que nos colocar a frente ombro a ombro com nossos companheiros.

O desafio que temos adiante é estender a luta das mulheres para lutar por igualdade de condições com todos os oprimidos e explorados, no caminho da revolução social.

Tradução e adaptação do texto "La lucha de PepsiCo y el “empoderamiento” de las mujeres" feito por Cristina Tristan




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