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TURQUIA | A luta das trabalhadoras da Avon na Turquia

O governante Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), islamista, tem tomado bandeira da discriminação contra a mulher. No entanto, as trabalhadoras jovens estão na vanguarda da luta de classes, como na Avon.

sexta-feira 17 de junho de 2016 | Edição do dia

Dia após dia, o Partido da Justicia e do Desenvolvimento islamista (Adalet ve Kalkınma Partisi) que governa a Turquia, impõe um sistema político cada vez mais autoritário, junto a condições de trabalho muito duras e precárias.

Localizada à 50 km de Istambul, Gebze se encontra entre as principais zonas industriais do país. Sua zona industrial mais organizada é o lugar onde se levam a cabo enormes investimentos internacionais, subvencionadas pelo governo. Entre essas empresas está a gigante de cosméticos norte-americana Avon. Como em outros lugares da zona, suas trabalhadoras são submetidas a duras condições trabalhistas. Em 19 de maio oito operárias foram despedidas, logo de que decidiram unir-se ao sindicato de base independente, Depo, Antrepo, Gemi Yapımı ve Deniz Taşımacılığı İşçileri Sendikası, (DGD-SEN, loja, naval e construção marítima da União dos Trabalhadores dos Transportes ). Quatro dias depois, começaram a realizar piquetes fora da planta.

A sindicalização é a única razão de sua demissão. Nenhuma das demitidas recebeu alguma advertência por “conduta pouco ética”. De fato, algumas tinham sido recompensadas pela empresa por sua diligência no trabalho. Foram demitidas só por rechaçar as condições de contratação externa: a falta de segurança no trabalho, baixos salários, excesso de horas extras, problemas de saúde. A empresa alemã Klüh, que entrou como terceirizada em dezembro de 2015, piorou as coisas na Avon, obrigando a todas as trabalhadoras terceirizadas (recém incorporadas ou com postos de responsabilidade) a passar um período probatório de 2 meses. Klüh também se concedeu o direito a transferir as operárias a qualquer setor. Este foi o golpe final que levou as trabalhadoras a organizarem-se.

As operárias mantiveram a vigília sobre um sol escaldante, porém com a moral alta graças as numerosas visitas e solidariedade de outros trabalhadores em greve e grupos de mulheres. Os cartazes dizem: “Nossa beleza vem da força e a força, da resistência”, e “Tire o batom, aumente a voz”.

As trabalhadoras tem criticado a gigante da cosmética por reivindicar a autonomia das mulheres: “Os representantes de vendas independentes de Avon, que supostamente ´empoderam’ as mulheres, estão na verdade integrados a um sistema que põe todo o risco sobre seus ombros”. Por outro lado, as empregadas da companhia estão submetidas a excessivas horas extras, condições de trabalho pesado e insalubre, lesões do trabalho nas articulações da costas, pescoço e pulsos, assédio moral, perseguição…”. A maioria recebe o salario mínimo, a pesar de estar trabalhando há mais de dez anos na empresa.

Uma operária diz: “Ganhei dois prêmios como melhor empregada, porque era boa na comunicação com a gente. Porém não me agrada trabalhar na fábrica, era um trabalho esgotante com descansos muito curtos. Nunca sabia quando poderia voltar para casa, porque nos faziam trabalhar horas extras”. Também contou que enquanto os empregados de Khül (cerca de 160) recebiam o salário mínimo (US$ 450 mensais), os contratados diretamente pela Avon cobravam u$s 860.

A Avon não quer mulheres “fortes” em qualquer parte do mundo. Na zona industrial de Calamba, Filipinas, emprega diretamente à 150 trabalhadoras, enquanto que 350 são terceirizadas. A estas últimas as pagam um salário mínimo de u$s 146. Quando se sindicalizarão, 16 delegadas foram demitidas, dias antes do Natal, em 2015.

De fato, Avon vê as mulheres dos países capitalistas periféricos apenas como uma lista interminável de mão de obra barata. Neste sentido, sua “consciência social” do Ocidente “civilizado” está em plena harmonía com o autoritarismo dos islamistas neoliberais: Recep T. Erdogan, presidente turco e líder da AKP, tem insistido inúmeras vezes às mulheres a ter ao menos três filhos e, recentemente, sugeriu que “a planificação familiar e a anticoncepção não são para famílias muçulmanas”.

As trabalhadoras da Avon rechaçam fortemente a camisa de força imposta pelo capital, o estado e o patriarcado. Sua vigília se sustenta por mais de vinte dias. Em 10 de junho foram as oficinas centrais da empresa para expressar suas demandas, e foram assediadas pelos chefes homens, que lhes disseram que “terminarão com toda essa porcaria e buscarão maridos”. As operárias responderam sentando de forma espontâneo frente ao escritório principal.

Também estão organizando uma campanha nas redes sociais, com a hashtag #BeautyForAPurpose (beleza com um propósito), e estão lançado um petição on line em inglês.

As organizações sindicais da Turquia devem recorrer a estas jovens trabalhadoras precarizadas, se é que tenham a esperança de desafiar ao governo do AKP, que os últimos doze meses de seus quatorze anos no poder há aumentado a níveis inimagináveis sua hegemonia sobre o aparato do estado e a população.

Barış Yıldırım é ativista em Istambul




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