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OPINIÃO | A juventude pode tomar as ruas num novo junho contra Temer

Desde que explodiu um forte movimento de jovens no nosso pais, em junho de 2013, por nenhum momento nos resignamos, nunca abaixamos a cabeça. Diante do aprofundamento da crise política, do desemprego e das reformas de Temer contra nós devemos retomar as ruas: Podemos fazer um novo junho em aliança com os trabalhadores para vencer.

sexta-feira 27 de janeiro de 2017 | Edição do dia

O Facebook e as redes sociais foram tomados no final de 2016 por uma campanha para que o ano terminasse logo. Motivos ressaltados: o golpe institucional da direita, Judiciário e grande mídia; ataques ao nosso futuro, como a aprovação da PEC 55 que impôs o teto de gastos do governo com serviços como educação e saúde por 20 anos, a chamada de “PEC do fim do mundo” e outros ataques que ainda estão sendo articulados, como as reformas do Ensino Médio, Trabalhista e da Previdência; o avanço superestrutural nas eleições municipais em todo o país dessa mesma direita conservadora; tem motivos até internacionalmente, com destaque à eleição de Trump nos EUA, um misógino e racista confesso, que gastará ao menos U$ 14 bilhões em seu muro contra os imigrantes mexicanos.

E o tão esperado início de 2017 não resolveu a crise econômica, o desemprego cresce e os estados seguem afundando ou à beira da falência, nem a crise política nas alturas encontrou um fim: teve mais um episódio inusitado com a morte estranha de Teori Zavascki e um novo capítulo foi aberto. O ano também se abriu com rebeliõesnuma das crises carcerárias mais sangrentas que o Brasil já assistiu, com centenas de presos assassinados na disputa entre facções. Os novos governos querem mostrar serviço, como o governador Pezão no Rio, que assinou um acordo neoliberal com o governo Temer, planejando mais uma conta a prazo para a população pobre e os trabalhadores pagarem. Em São Paulo o tucano Doria está famoso pelo “trabalho duro” que está mostrando contra a juventude e as populações em situação de rua. Ele destruiu o maior painel de grafite a céu aberto da América Latina e isso gerou uma comoção nacional, com uma explosão de repúdio dos jovens e artistas nas redes sociais. Diana Assunção, ex-candidata a vereadora pelo PSOL e colunista do Esquerda Diário, fez um vídeo em denúncia a essa política higienista, que já ultrapassou 600 mil visualizações em dois dias, atraiu uma onda de ataques da direita à sua Página no Facebook e já está mobilizando uma ampla rede de apoio contra as ameaças de conteúdo machista e violento que está sofrendo, com figuras e grupos políticos lhe prestando solidariedade.

As ameaças que Diana recebeu mostram não só um cunho machista em geral, mas chamaram atenção pela naturalização e apologia à violência contra as mulheres que continham. Em um dos comentários havia uma alusão ao assassinato brutal de Eliza Samúdio pelo seu parceiro, o goleiro Bruno, e também um comentário que dizia que quando nós mulheres falamos em feminicídio já não podemos ser levadas a sério. Esse tipo de concepção é reforçada pelo Estado capitalista, que não garante direitos mínimos para que as mulheres tenham autonomia diante de seus parceiros e familiares. As posições conservadoras e nada laica de políticos ligados às igrejas também são uma carta branca a opressão de gênero, influindo em projetos como as “emendas da opressão” que proíbem o debate de gênero e sexualidade nas escolas. Mas em resposta as mulheres no Brasil e na América Latina, com destaque para a Argentina, estão se colocando nas ruas para denunciar que o machismo mata sim e que não aceitaremos nenhuma a menos. Se atacam uma podemos organizar milhares contra o machismo e o capitalismo.

De onde vem tanta desmoralização? Não somos do tipo que abaixa a cabeça

Desde que explodiu um forte movimento de jovens no nosso pais, em junho de 2013, quando fomos centenas de milhares nas ruas, por nenhum momento nos resignamos, nunca abaixamos a cabeça. As jornadas de junho que derrotaram o aumento das tarifas de ônibus apenas nos abriram um processo muito mais amplo de politização e resistência, que acompanhou cada movimentação que trouxe a crise econômica internacional e a crise política guiada pela Lava-Jato. As ocupações de escolas em São Paulo abriram uma segunda onda de luta e ensinaram a centenas de milhares de estudantes qual seria a melhor arma de resistência aos ataques do novo governo golpista. Não deu outra, contra a PEC do Fim do Mundo, a Reforma do Ensino Médio e os episódios dessa podre política tradicional uma nova onda ocupações chegou a mais de 1000 escolas e universidades públicas. Toda essa resistência foi histórica e com certeza ativou e marcou uma grande parcela da nossa geração: fomos sujeitos e mostramos nosso descontentamento com essa ordem que querem nos fazer engolir à força.

A desmoralização e pessimismo que vimos ser propagados nas redes não condiz com a força e o potencial que temos para travar novas batalhas. Mas essa campanha tem impulsionadores interessados e não é mera espontaneidade. A juventude conseguiu fazer em um curto espaço de tempo, se comparado aos trabalhadores que o fizeram em décadas, uma experiência com o PT, seu aliado PCdoB e suas direções nas entidades de massas. Se em junho de 2013 vimos o PT, numa tentativa de não desestabilizar seu governo na época, acusar de fascismo nossa ida às ruas, nas recentes ocupações vimos uma cara supostamente oposta, onde pela via da UNE disseram ser também oposição à Temer. No entanto logo vimos que o único interesse desse partido e seus defensores era participar das ocupações para controlá-las por cima e falarem em nosso nome sem terem sido eleitos. Enquanto isso impediam a nossa articulação nacional a partir de um comando, com representantes das delegações eleitos pela base. Isso tudo para atender seus objetivos estratégicos de desgastar Temer e se colocar como alternativa para as eleições de 2018 ao invés de combater os ataques de fato. Para isso nós defendemos um plano de lutas que colocasse as entidades de trabalhadores, como a CUT e CTB, em ação para juntos e com mais força enfrentarmos e derrotarmos o governo Temer. A negação do PT em enfrentar os golpistas se confirmou e, pior ainda, virou aliança com eles, como vemos na eleição da presidência da Câmara. Aí está a fonte de tanta propaganda para a nossa desmoralização. Esses setores petistas criam uma narrativa de que a direita é tão poderosa e tão grande que a única coisa que nos resta a fazer é… se aliar a eles. E eles são realmente poderosos, mas enquanto não buscarmos uma alternativa ao petismo que tanto se aliou à eles durante anos, dificilmente vamos conseguir combatê-los de fato.
Hoje temos um grande desafio: retomar nossas ferramentas de organização, fazermos ecoar as vozes dos oprimidos e nos aliarmos aos trabalhadores para vencermos.

Junto à juventude negra devemos combater o racismo do Estado

O Brasil inteiro ficou chocado com a violência e os saldos de mortos das rebeliões nas prisões do Norte, mas o que os governantes e a elite querem esconder é que a crise carcerária mostra que a juventude é o alvo do racismo da polícia e do Judiciário, não se trata de uma eventualidade, é apenas uma face de uma realidade cotidiana em todo o país por parte do Estado.

A direita liberal defendida, por Kim Kataguiri, reproduz o mesmo racismo genocida do Estado quando diz que a culpa da crise está no tipo de gestão adotada, para incentivar a privatização e o trabalho com “indicadores”. Não se trata de meros números ou de quem executa as gestões dos presídios atualmente, mas com qual objetivo o faz: é parte de um sistema de repressão e aniquilamento. Além disso, as pesquisas também mostram que os presos em sua maioria não concluíram a educação básica, isso reafirma a ideologia capitalista empregada pelos governos de encher as prisões enquanto destrói cada vez mais a educação e serviços básicos públicos.

A prática diária de violência policial contra a juventude negra nas periferias é genocida e caminha junto do encarceramento em massa e a superlotação dos presídios. E o policial tem como principal aliado o poder Judiciário, já que mais de 40% dos presos sequer tem o direito fundamental de ser julgado e muitos são acusados sem testemunhas. Essa é uma cara podre e escancarada destes que buscam uma imagem de heróis nacionais, enquanto esbanjam privilégios e trabalham pela manutenção do regime político de corrupção e exploração. Outra porta de entrada às prisões é a suposta “guerra às drogas” e a arbitrariedade com relação ao tráfico. Os chefes do crime organizado são poupados nos negócios sujos e corruptos enquanto aumentou mais de 300% a prisão por tráfico, acusando jovens com porte de quantidades ridiculamente pequenas, visivelmente de usuários. A legalização das drogas é um debate e ação necessários se queremos avançar de fato contra esse problema estrutural.

A defesa da Educação Pública e o combate a Temer depende de nós

Uma das primeiras medidas do governo golpista foi o decreto, como Medida Provisória, da Reforma do Ensino Médio, que tem mais de 500 emendas e será a primeira medida votada no Senado após o recesso, tendo como prazo final para tramitação o dia 2 de março. Essa reforma que afetará milhares de escolas públicas, retirando o direito à formação de estudantes, atacando o trabalho de professores e aumentará ainda mais o abismo entre a escola e o sonho de milhões de jovens pelo ensino superior.

O ataque às escolas e às universidades é consciente e está em prol de um projeto maior: extinguir a educação pública. Governos como o das décadas do PSDB em São Paulo são mostras do coração desse projeto: precarizar a educação para aumentar as iniciativas privadas. Com a Reforma do Ensino Médio esse projeto decolará e trará muitos outros trunfos: A área profissionalizante, por exemplo, será diretamente a entrega da juventude aos postos de trabalho para mão de obra barata e poderá contar com o “apoio” de iniciativas de caráter privado.

Para as universidades o cenário também é dramático, viemos de uma crise importante das universidades federais há anos e esse ano explodiu a ameaça de fechamento da UERJ, uma das universidades públicas estaduais mais importantes do país. Isso nos lembra que também o projeto seguido por governos do PT contribuiu com esse ideal a partir da combinação entre precarização das universidades federais, pela via do REUNI, e a ampliação do ensino superior privado, enquanto fez muita demagogia com a ampliação do acesso. O financiamento privado pela via do PROUNI e FIES fez com que o crescimento da educação privada batesse recordes sem precedentes, bem como o precário ensino à distância, o que explica o fortalecimento da rede kroton-Anhanguera, que se tornou um dos maiores monopólios de educação privada do mundo.

Nenhum governo está comprometido com o direito elementar da educação pública, ao contrário querem destruí-lo, mas as ocupações que fizemos em nossas escolas e universidades nos mostram que podemos nós gerirmos nossos locais de ensino junto aos trabalhadores e devemos confiar em nossas próprias forças. Devemos seguir o exemplo dos estudantes da UERJ, que se uniram aos trabalhadores e à população para defender a universidade.

Qual resposta daremos à crise nacional?

Os ataques aos nossos direitos mais básicos e democráticos mostram que no projeto de país desses governantes e políticos da ordem nós jovens nunca caberemos, não nos serviu o projeto petista, nem PMDBista ou o tucano, afinal todos estes e também o projeto supostamente radical e anti-sistema que MBL, Bolsonaro e cia apresentam apenas são filtros diferentes para um mesmo objetivo: impedir uma ruptura com o sistema de exploração e opressão que vivemos.

Por isso dizemos: a democracia que existia antes do golpe também não foi feita para nós. É uma democracia que veio como um desvio do grande levante que os trabalhadores e setores oprimidos fizeram contra a Ditadura Militar e assegurou uma “transição pactuada” com os militares, que até hoje mantém privilégios e estão impunes pelas torturas, sequestros e assassinatos que cometeram contra os militantes da esquerda. Que democracia é essa onde exercemos nosso direito de dois em dois anos, num sistema eleitoral onde os ricos determinam os vencedores, e a corrupção é generalizada? Que democracia é essa onde trabalhador que faz greve é demitido? Onde os pobres e negros são assassinados pela polícia? Diante da enorme crise política que se abriu no país, da deterioração gradual das condições de vida dos trabalhadores e da juventude, precisamos lutar por uma democracia muito superior à existente anteriormente, daí a necessidade de se lutar por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, onde o povo possa debater as principais questões do país, passando pela corrupção, pela investigação independente e punição dos corruptos, pelo não pagamento da dívida pública, pela defesa das riquezas naturais e contra a privatização da Petrobrás e muitas outras demandas. Tudo isso visando a constituição de um governo dos trabalhadores e da juventude. Isso tudo só será possível se confiarmos apenas em nossas forças.

A crise de representatividade, que para nós jovens se abriu desde 2013, aumenta e novas roupagens se apresentam, polarizam os discursos, mas não buscam de fato romper com o capitalismo. Mas nós jovens estamos sim por dentro da política e ansiosos por algo novo e apaixonante que dialoguem com nossas aspirações de transformação, ao contrário do que dizem os coxinhas e vemos os petistas reproduzirem de que ficamos apenas assistindo ao vivo do Facebook os acontecimentos e não somos sujeitos. Uma prova disso foi a perda de uma significativa base da Luciana Genro quando esta virou militante pró-golpe e Lava-Jato, o que se expressou na sua grande derrota eleitoral e também a imensa base de jovens que levaram milhões de votos à Marcelo Freixo do PSOL, contra Crivella no Rio. Mas as eleições são apenas termômetros, a nossa ânsia ganha profundidade nas ruas.

Queremos uma alternativa radical à altura dessa crise e sabemos que tempos incertos como o que vivemos hoje abrem espaço para novas ideias. O capitalismo dá mostras todos os dias de porque não merece mais existir: toda a fome e miséria que aumentam muito com a crise, a violência, a crise imigratória, a falta de perspectiva que querem nos impor, quando sabemos que existe 8 pessoas concentrando mais riqueza do que tem a metade da população mundial. Basta! Devemos fazer um novo junho no Brasil, tomarmos o exemplo das milhões de pessoas que tomaram às ruas no mundo contra o símbolo do imperialismo mundial que é Trump e também nos apoiarmos na força da juventude negra do Black Lives Matters nos EUA, nas centenas de milhares de jovens que se levantaram na França contra a reforma trabalhista e toda a juventude que toma as ruas na América Latina contra os ataques que a direita quer impor.




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