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GREVE DOS CORREIOS | A greve dos Correios acabou: 9 ideias para nossa categoria seguir avançando

Primeiras lições da greve dos correios

terça-feira 29 de setembro de 2015 | 13:37

1 – Enfrentar o governo Dilma é fundamental

O governo federal de Dlima/PT mostrou mais uma vez que não está do lado dos trabalhadores. Enfrentamos a intransigência de um governo que, apesar da aparente polarização com a direita, está junto a ela descarregando ataques ao conjunto da classe trabalhadora e do povo pobre. A crise econômica segue provocando desemprego, inflação alta, e a proposta dos patrões e do governo é reduzir salários e direitos, impondo a terceirização, atacando o seguro desemprego, as aposentadorias. O que foi oferecido nas campanhas salariais de diversas categorias foi aumento abaixo da inflação, redução de jornada com redução de salários, como nas montadoras e na Petrobras, redução de benefícios. Como se nós, trabalhadores, fossem os culpados e tivessem que pagar pela crise, enquanto os políticos e grandes empresários salvam seus lucros. A nossa greve foi uma mostra de força da nossa classe, ainda que poderia ter sido mais forte se não fosse os limites impostos pelas direções sindicais. Precisamos seguir organizados para defender nossos direitos como ecetistas, mas nos unirmos ao conjunto da classe trabalhadora para lutar contra os ataques que estão querendo descarregar sobre nós.

2 – A diretoria da ECT está contra os trabalhadores e a população

A diretoria da ECT, uma empresa estatal que deveria estar a serviço dos trabalhadores e da população, cumpre o papel de defender a mesma lógica do governo. Ou seja, figuras como Wagner Pinheiro, presidente da empresa, e toda a alta cúpula, recebem salários milionários para privatizar os Correios aos poucos, através de subsidiárias e terceirização, do mesmo modo que a Petrobras, enquanto pioram as condições de trabalho e tentam reduzir os direitos dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, escondem as operações financeiras e alegam lucro baixo e prejuízos, mas não explicam como podem patrocinar diversos megaeventos, como Olimpíadas e Rock In Rio, nem de onde vem seus salários que passam de R$ 44 mil, sem contar benefícios e abonos que só eles recebem as nossas custas. Por isso as únicas propostas apresentadas pela empresa previam um enorme ataque ao convênio médico (conquista de lutas passadas) e desvalorização dos salários, sem responder ainda as demandas por contratação de efetivos e condições de trabalho. Mas não podemos nos enganar com o discurso das direções dos sindicatos governistas que querem colocar a responsabilidade dos problemas dos ecetistas e dos Correios nas mãos da direção da empresa somente, pois o governo que eles defendem é o primeiro responsável pela situação e fazem tudo de mãos dadas.

3 – O TST não é justo e está contra os trabalhadores

Como tem se tornado praxe, ao invés de negociar e respeitar os trabalhadores organizados da categoria, a ECT conta com o TST para fazer “propostas”, que na verdade são uma verdadeira faca no pescoço dos trabalhadores e suas organizações, pois sempre vem com ameaças de punições, para desrespeitar o direito de greve. Não podemos ser reféns dessa política, temos que barrar essa interferência do TST que só serve para blindar a intransigência da ECT. Temos que resgatar os melhores momentos de luta da classe trabalhadora, em que as categorias se organizavam para enfrentar o TST e não aceitavam suas imposições.

4 – A CUT defende o governo contra os trabalhadores

Hoje a FENTECT tem os principais cargos controlados por sindicalistas da Articulação, uma corrente do PT, da CUT. Também estão na direção de muitos sindicatos. Durante a campanha salarial estes sindicalistas fizeram muitos discursos pela unidade da categoria, que para eles significava um calendário de luta comum com a outra federação, a FINDECT, e a defesa do governo Dilma, já que qualquer fala contrária ao governo nos espaços de organização dos trabalhadores eram taxados por eles de “golpistas de direita” e contrários à unidade. No entanto, mesmo com esse calendário comum da categoria para as assembleias, foram eles os primeiros a não apenas trair a suposta unidade, defendendo a primeira proposta do TST e, pior ainda, fraudaram assembleias onde foram superados pela base, como no caso de Brasília, e militaram ao lado da empresa para dividir a categoria e enfraquecer a greve, quando sabemos que a insatisfação com as condições da empresa e com os ataques é generalizada em toda a categoria e essa insatisfação poderia ser combustível para uma verdadeira batalha de classe nessa greve se ela fosse realmente unificada nacionalmente. A CUT e o PT são uma tropa de choque de defesa do governo e não dos trabalhadores.

5 – A CTB posa de combativa, mas é controlada pelo PCdoB, que vota todos os ajustes do governo federal

Alguns sindicatos, dos quais os maiores são o de São Paulo e Rio de Janeiro, são dirigidos pelos sindicalistas do PCdoB, da CTB. Nos últimos anos, eles se dedicaram a dividir a categoria, através de uma federação separada, e lutando para impedir a unificação da base na luta, deixando passar, por exemplo, as últimas campanhas salariais e o ataque que foi a criação do Postal Saúde. Depois de literalmente mentirem no resultado da assembleia do ano passado em São Paulo e serem quase linchados pela sua própria base, e frente ao desgaste do governo petista, que defenderam sempre com unhas e dentes, decidiram este ano por entrar na greve com o calendário unificado. No entanto, mesmo que façam discursos contra os ataques do governo e falem timidamente contra Dilma no carro de som do ato, podemos ver qual papel seu partido cumpre com seus mandatos, votando a favor de todos os ajustes. O PCdoB aprovou a restrição ao acesso ao seguro desemprego, ao acesso à aposentadoria e recentemente aprovou todos os vetos de Dilma que foram um verdadeiro pacotão de ajustes. Não nos enganemos! O PCdoB segue sendo um partido contra os trabalhadores que só se relocaliza às vezes pela força da pressão da base.
Apesar de entrarem na greve, esses sindicalistas não permitem que os trabalhadores se auto-organizem para ampliar e controlar a greve. Mal permitem falas de oposição em suas assembleias. Não propõe comando de mobilização e nem comando de greve para coordenar a greve nacionalmente. Centralizam em figuras como Diviza e Peixe, todas as ações (ou falta de ações) e não permitem que os próprios trabalhadores determinem os rumos das greves.

6 – A força dos trabalhadores pode superar todos estes obstáculos

Mesmo se enfrentando desta forma com o governo, a empresa, o TST e as burocracias dos sindicatos, esta greve foi mais forte do que as últimas, e ainda que não tenhamos conquistado todas as nossas demandas, impusemos um recuo à empresa no que diz respeito ao Plano de Saúde e uma melhoria na proposta salarial. Isso aconteceu porque temos uma enorme força quando nos mobilizamos. Também ficou claro que é possível mobilizar trabalhadores de setores com menos tradição de luta, como atendentes, que passam a se enxergar como parte da mesma categoria e perceberem que toda a situação de exploração, assédio moral, metas e cobranças que sofrem só será combatida com a luta. Além disso, um setor mais jovem da categoria, e outros de mais tradição mas que estava desanimado nas últimas greves, passou a participar mais ativamente e buscar modos de atuar, chegando uma conclusão de que valeu a pena lutar mas que podemos ir por muito mais.

7 – A esquerda tem que se colocar como alternativa

Alguns sindicatos, como de Campinas, o do Vale do Paraíba, da Bahia, do Paraná, o de Minas Gerais, não contam com as direções do PT ou do PCdoB, mas sim setores da esquerda, ligados a CSP-Conlutas, a Intersindical, e a correntes como a LPS (ruptura do PCO). No entanto, mesmo que muitas vezes esses dirigentes defendam linhas políticas corretas, como construir a greve de fato e unificar as lutas, fazendo as devidas denúncias do governo, esses sindicatos não têm servido como alternativa para organizar a greve dos Correios. É verdade que sozinhos não determinam os rumos da greve, e inclusive isso foi provado com a greve em 2014 por uma demanda justa – contra o Postal Saúde – quando fizemos 43 dias de greve e terminamos com o corte de 15 dias de salário e sem salvar o plano. O que podem fazer? Podem e deveriam dar exemplo em suas bases de como os trabalhadores podem se auto-organizar em suas unidades, amplificando a luta e a discussão na base da categoria, e mostrando outra forma de se organizar as lutas, com democracia operária para se contrapor a burocracia, e métodos como atos, piquetes, busca de diálogo com a população. Além de fortalecer as bases nestes locais, poderiam servir de exemplo para as bases que necessitam superar a burocracia. Além disso, infelizmente as organizações de esquerda, assim como o PT e o PCdoB não fizeram nenhuma campanha de solidariedade à nossa greve que era a principal em curso do país. Fazem muitos discursos contra o ajuste e em apoio às lutas mas isso não se traduz em apoio concreto. A única organização que de fato concentrou esforços em solidariedade à greve foi o MRT e o Esquerda Diário que, apesar de ter sido uma campanha limitada pelas nossas forças, contribuiu para que a greve não ficasse no total isolamento. Se a esquerda fizesse o mesmo teria feito diferença efetiva para a greve, que talvez pudesse ter ido por mais.

8 – Auto-organização e democracia operária para vencer

Acreditamos que a única forma dos trabalhadores dos Correios, que já demonstraram dezenas de vezes sua disposição de luta e combatividade, vencerem de fato, contrapondo-se a um projeto de empresa privatizada, sucateada, que atende mal a população e não nos garante condições de vida, ou seja, o único jeito de levar a luta até o fim por nossas demandas, é construindo uma forma de organização que permita aos trabalhadores controlarem os rumos de suas próprias greves. Para isso, temos que nos organizar cotidianamente em cada unidade para fazer as discussões e cada trabalhador poder se posicionar ativamente. Mas também resgatar métodos de democracia operária como comandos de delegados das unidades, eleitos e revogáveis para organizar e ampliar a greve na base, comando nacional com delegados de todas as bases em greve (e não apenas de uma ou outra federação e eleitos antes das greves começarem se mantendo os mesmos até o final) para expressar nas negociações a vontade da base, fundo de greve controlado pelos trabalhadores através deste comando, que busque apoio em nossas famílias, amigos, na população em geral, mas também nos sindicatos de outras categorias e movimentos de trabalhadores para que as ameaças de corte de ponto e multas vindas do TST não façam os trabalhadores escolher entre lutar e alimentar suas famílias. Outra questão chave é a busca da unidade com as outras categorias em luta. Coordenar não apenas atos, mas calendários e discussões para traçar planos comuns frente aos ataques poderia multiplicar e muito a força dos trabalhadores, já que somos de uma mesma classe e sofremos com os mesmos ataques.

9 - Os trabalhadores precisam se organizar

Nós do MRT colocamos todas as nossas forças para que a greve pudesse vencer. Transformamos o Esquerda Diário, um jornal impresso e na internet impulsionado por nós, na principal mídia de acompanhamento e apoio à greve. Mesmo com um trabalho inicial na categoria, na capital de São Paulo, em Cotia e Campinas, demos alguns pequenos exemplos que consideramos que podem ser um embrião de uma nova tradição combativa e classista. De organização pela base, fundo de greve, apoio em outras categorias e de colaborar para tornar a greve conhecida a partir do Esquerda Diário.
Na assembléia que foi votado a aceitação do acordo na capital de São Paulo, defendemos a continuidade da greve por avaliar que ainda era possível avançar mais. Infelizmente, depois de São Paulo sair da greve, não era mais possível seguir. Porém, consideramos positivo as conquistas que tivemos fruto da nossa luta e o avanço na nossa organização.
Chamamos todos os ecetistas a junto conosco batalhar por essa nova tradição na categoria.
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Contato (whatsapp): Natália Mantovan: (19) 98161-9829




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