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Drama da fome | A fome nas escolas: sem comer, aluna de 8 anos desmaia em escola pública do Rio

"Perguntei se ela tinha comido naquele dia, ela disse que não (...) Uma fome que a criança não sabe expressar a urgência". A fome é um elemento cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros, e nas escolas não poderia deixar de ser diferente.

quarta-feira 17 de novembro de 2021 | Edição do dia

Foto Mariana Sanches/BBC News Brasil

As escolas estão imersas no contexto social do seu entorno. Com isso a fome, que no contexto de desemprego e alta da inflação tem avançado no país, também invade as instituições de ensino. O relato de uma professora da escola pública do RJ, para uma reportagem da BBC, evidenciou esse quadro.

“Fui pegar algo para ela na minha mochila — porque eu sempre levo um biscoitinho ou uma fruta para mim mesma. Mas não deu tempo. Ela desmaiou em sala de aula“, disse a professor da rede municipal do Rio de Janeiro.

“Ela sentou e abaixou a cabeça na mesa. Eu estranhei e chamei ela à minha mesa. Ela veio e eu perguntei se ela estava bem. Ela fez com a cabeça que estava, mas com aquele olhinho de que não estava. Perguntei se ela tinha comido naquele dia, ela disse que não”.

“Eu fiquei realmente sensibilizada por essa situação”, conta a professora. “Por que é isso: a fome. Uma fome que a criança não sabe expressar a urgência. E que envolve muitas vezes a vergonha. Para ela é algo humilhante, por isso ela não consegue expressar.”

A aluna da escola pública do Rio era negra e frequenta uma escola próxima a um complexo de favelas na Zona Norte carioca. O episódio aconteceu em setembro deste ano.

Como os números mostram essa é uma realidade presente em muitos lares brasileiros, segundo pesquisa da Universidade Livre de Berlim a insegurança alimentar grave — o grau considerado como fome — atingia 15% dos domicílios brasileiros em dezembro de 2020. Esse percentual chegava a 20,6% nos lares com crianças e jovens de 5 a 17 anos. Sendo que, de dezembro de 2020 para cá a inflação disparou, beirando os dois dígitos.

Outra pesquisa do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde revelou que apenas 26% das crianças de 2 a 9 anos têm café da manhã, almoço e jantar todos os dias no Brasil.

Além da tragédia da fome por si só, é evidente o impacto desse elemento no aprendizado dessas crianças, que sofrem com perda de motivação e apresentam episódios de agressividade com colegas e educadores.

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Esse grave quadro da expansão da fome no país coloca a necessidade de batalharmos por um programa da classe trabalhadora de emergência. A começar pelo reajuste salarial mensal para fazer frente ao crescente custo de vida, que leva à carestia as famílias trabalhadoras. Assim como, a necessidade de lutar por empregos com direitos, pois a crescente destruição dos direitos trabalhistas leva a que milhares de pessoas trabalhem dezenas de horas por dia, sem conseguir com isso um salário digno da sua subsistência. Por isso, defendemos a divisão das horas de trabalho sem diminuição dos seus salários, junto a um plano de obras públicas que propicie emprego para todos.




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