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COMITÊ DE PROFESSORES CONTRA O CORONA VÍRUS RJ | A farsa do ensino a distância no Rio de Janeiro

Em plena pandemia do novo Corona Vírus, o governo Witzel já coleciona ataques dos mais diversos sobre a população. Seguindo esta linha, Pedro Fernandes, atual responsável pela Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC), acentua tais ataques e conduz tragédia e farsa reunidas no que chama de ensino a distância. A decisão por tal formato mascara a precarização das escolas e da educação durante a quarentena. Apresentamos depoimentos de professores e estudantes denunciando esta farsa.

quinta-feira 7 de maio de 2020 | Edição do dia

Assim como em outros estados, a pandemia expõe as veias abertas do estado do Rio de Janeiro, a impotência do sistema de saúde, com a falta de leitos, respiradores e até mesmo medicamentos, o caos urbano, a precariedade, a miséria e a fome. Como se não bastasse, expõe também a falta de sensibilidade perante o momento vivido, ao impor que as atividades educacionais continuem.

Contra fatos não há argumentos

Quando nos tornamos professores sabíamos que lecionaríamos com alunos de baixa renda, que educaríamos alunos que passaram pelos mesmos problemas que muitos de nós passamos na juventude, como a pobreza e a fome. Mas nesse momento em que famintos pedem socorro e que a economia declina, a SEEDUC limita-se direcionar o ensino para uma plataforma online, a plataforma Google Classroom.

Estamos na era tecnológica, mas nem todos tem acesso ao mundo digital. A exclusão é enorme.

A experiência cotidiana tem mostrado que este formato de ensino é extremamente exclusivo. Muitos alunos e professores relatam não ter pleno acesso à internet e dispositivos tecnológicos em suas casas, o que os impede de desempenharem suas tarefas em meio à pandemia. Muitos de nós já tentamos planejar aulas usando ferramentas digitais, na tentativa de tentar proporcionar aos nossos alunos uma educação menos precarizada, mesmo não havendo incentivo nenhum e lutando contra a falta de infraestrutura nas escolas, e por isso mesmo antes de qualquer proposta do estado, conhecíamos a profundidade do abismo da exclusão digital de nossos alunos. Mas no momento em que a fome bate a porta, o governo demagogicamente empurra as aulas em formato a distância, nos pressionando a preparar aulas que nossos alunos sequer podem assistir.

A educação a distância (EaD) na pandemia

A Educação a Distância, antes de mais nada, é um processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. Aqui preferimos falar de educação ao invés de "ensino a distância" pois sabemos que o papel do professor, o ensino, é apenas uma parte do processo educativo. E como vemos, tal definição de EaD poderia cair muito bem no período de pandemia que estamos vivendo. Contudo, a EaD não é algo que se constrói da noite para o dia, em contexto emergencial, improvisado e sem recursos, como o que está acontecendo.

Ainda que as comunidades escolares - estudantes, responsáveis, professores e funcionários - concordassem com um plano de EaD emergencial durante a pandemia, o que definitivamente não aconteceu, essa EaD necessitaria de metodologia própria e direcionada e, portanto, formação dos docentes e demais profissionais envolvidos no processo de ensino. Necessitaria também de planejamento pedagógico, recursos midiáticos, ferramentas digitais, pois a EaD não se faz solitária, ninguém aprende nem ensina sozinho. Seria necessária uma equipe multidisciplinar com diferentes profissionais especializados e sem estes, é impossível que a forma, tanto televisiva ou digital de educação proposta (leia-se imposta) pela SEEDUC tenha significado.

Além disso, seria necessário que todos tivessem em suas casas ambientes confortáveis e preparados para comportar atividades de ensino-aprendizagem. Aliás, seria necessário que todos tivessem casa, abrigos dignos da condição de ser humano, o que não se verifica na realidade de muitos brasileiros. A EaD desta forma não é viável, pois não contempla todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. A EaD institucionalizada pela SEEDUC não passa de uma farsa.

Os professores

Somos um comitê de professores de todas as redes da educação de educação do Estado do Rio de Janeiro. Muitos de nós estão há sete anos sem reajuste salarial e não podem se dar ao luxo de adquirir laptops de qualidade para atender a demanda imposta pela SEEDUC. Tanto a formação de 10 horas, quanto a plataforma oferecidas pela SEEDUC configuram-se medidas autoritárias, sem cabimento ou mesmo fundamento educacional. Alguns de nós estão sem receber desde o início do ano e, para estes, nenhuma explicação foi dada até o momento, nem de suas próprias instituições, nem da SEEDUC, nem da Secretaria da Fazenda.

Por outro lado, enquanto a SEEDUC preocupa-se em manter esse formato de EaD, apenas para agradar gigantes da educação privada, professores e escolas fazem gestos de solidariedade, organizando mutirões doando cestas básicas e até parte do seu salário para garantir um almoço para quem precisa. São estas atitudes que mostram que a educação vai muito além das salas de aula, sejam elas físicas ou virtuais.

Precisamos nos articular urgentemente

A realidade é concreta e todas estas contradições que estamos apontando já estão ficando claras a todos que estão expostos aos resultados da farsa que imposta pelo governo. Fazemos um chamado a todos os professores, estudantes e responsáveis que também estão revoltados com esta farsa para se organizarem contra todos os ataques que estão sendo impostos durante a quarentena, não apenas por Pedro Fernandes e o governo do estado, mas também por Bolsonaro, os militares e todos os golpistas.

É preciso lutar contra o cruel filtro social que é o ENEM, mantido pelo reacionário ministro Weintraub, que significará a literal exclusão de uma parcela imensa da juventude das periferias, pobre e negra, do acesso às universidades públicas. É preciso impedir a pilhagem das instituições públicas, que ameaçam ser privatizadas em pleno contexto da pandemia.

É preciso também que os sindicatos, principalmente o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE), e todas as entidades estudantis, promovam a articulação da juventude e trabalhadores para que as escolas e universidades cumpram um papel frente à crise e para lutar por uma educação que não dê espaço a EaD neste contexto, e muito menos aos monopólios privados. Apenas os trabalhadores organizados desde a base podem questionar este sistema irracional.

Abaixo, uma breve coletânea de denúncias de alunos e professores:

“Hoje minha mãe contou que uma professora da rede pública municipal da cidade onde ela mora que não sabe como vai fazer para que as crianças da serra estudem (...) são cerca de 15 crianças que não tem acesso a um computador, televisão e muito menos internet. A professora disse que ia subir a serra por conta própria e tentar lecionar para as crianças. Eles não estão pensando nos mais vulneráveis. Cada vez mais isolando estas pessoas, muito triste.”

“Vai ser muito prejudicial pra muita gente, tanto pelo fato de não ter acesso, quanto por ter dificuldade de aprender desta forma.”

“No EaD não há nada de positivo para acrescentar sendo executado tão mal, num período onde estamos tendo que lidar com o medo e a ansiedade, temos medo porque podemos estar simplesmente perdendo 1 ano no mínimo de nossas vidas, porque não temos como saber se seremos aprovados automaticamente ou reprovados, principalmente por parte dos formandos, seria o último ano pra muitos de nós, estávamos nos preparando para o mercado de trabalho, faculdade e planos futuros da vida adulta, tanto nós alunos quanto os professores estamos no meio de um tiroteio cruzado do governo tentando maquiar e remediar algo impossível que é tentar continuar a viver normalmente em um período tão caótico quando a prioridade é sobreviver.”

“Pô, nossos pais não estão trabalhando pra comprar comida, tem gente que tá passando fome e o estado resolve dar apenas 3 cestas por turma.”

“Fico pensando nas pessoas que tem mais dificuldade com o acesso à internet, pois é para gente que tem acesso diariamente, a internet já fica confuso, imagina para pessoa que consegue abrir a plataforma no máximo quatro, três dias na semana, a bagunça que não deve ficar.”

“Resumindo tudo estamos ficando muito sobrecarregados, eu estou ficando esgotada mentalmente, pois temos várias coisas pra fazer, tarefa, trabalhos, e temos até tal dia ou tal hora pra entregar, e as vezes a internet cai , notificação que não chega, ou as vezes não abre o google , quando você vai responder alguma tarefa as vezes não vai, igual o trabalho de x, ontem eu coloquei a resposta na plataforma e não estava aparecendo pro professor, isso aconteceu não só comigo, tive falando com algumas pessoas e aconteceu a mesma coisa com elas também.”
“Está péssimo, até hoje não conseguir entrar, estou perdendo todos os trabalhos porque tem que responder lá.”

“Tá uma merda, porquê tá muito confuso, não tem explicação direito e as mensagem que os professores mandam atrapalham também e tem muita gente reclamando que a plataforma as vezes não entram. E também acho um absurdo não pensarem na alimentação antes, sim os estudos são importantes de mais, mas se não tiver comida o quê adianta estudar? Deveriam ter pensado nisso da sesta básica antes de tudo porque tem muita gente aí que não tem condições, que o pai e a mãe não abrem loja pra trabalhar e acabam passando muitas dificuldade e não é só as pessoas que tem poucas condições, essa crise tá atingindo a todos do mundo, por isso acho que a sesta básica e MUITO mais importante do que a plataforma.”

“Não temos estrutura tecnológica nem emocional para, a revelia de qualquer estudo no campo da educação a respeito da eficiência desse tipo de sistema imposto de maneira improvisada, construirmos dentro de nossos microcosmos um recursos de aprendizagem que, além de ineficaz ainda deixará grande parte de fora”

“Durante 10 anos de magistério tentei planejar aulas usando ferramentas digitais, mas nunca houve incentivo. No momento que a fome bate a porta todos insistem em elaborar aulas em EAD.”

Fora Bolsonaro, Mourão e todos os militares! Nenhuma confiança nos golpistas!




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