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ÁUSTRIA | A extrema direita retorna ao poder na Áustria pelas mãos da... da esquerda socialdemocrata

No dia 31 de Maio se deram as eleições no leste da Áustria. O partido social democrata (SPO) que está no governo em coligação com os conservadores do OVP retrocedeu e houve um enorme crescimento do partido de extrema direita (FPO).

Juan ChingoParis | @JuanChingoFT

quarta-feira 10 de junho de 2015 | 00:01

As eleições se realizaram na região de Estíria e Burgenland. O eixo da campanha foi a imigração, no marco da campanha racista e xenófoba do FPÖ, com cartazes que perguntavam as pessoas se elas se sentiam como "um estranho em seu próprio país".

Mas o surpreendente é que a somente algumas horas das eleições, Hans Niessl, representante da socialdemocracia governante, buscou um compromisso com o chefe dos nacionalistas, Johann Tschüstz, a quem prometeu nada mais nada menos que o ministério de segurança. Na sexta feira passada ambos partidos formaram uma coligação para dirigir uma das regiões do país.

Esta capitulação aberta da socialdemocracia frente a extrema direita gerou uma forte repulsa em setores de seu eleitorado. Como disse o correspondente em Viena do diário Liberation: "Vários manifestantes protestaram com ódio frente a sede Viernes do Partido Social Democrata (SPÖ) em Viena. Culpam à formação de esquerda por proporcionar uma recuperação à extrema direita (FPÖ), oferecendo governar em conjunto com ela o região oriental de Bungenland, um de seus bastiões, região fronteiriça com a Hungria".

Também houve consternação na comunidade judia, assim como nos representantes dos "Roms".

Para o líder nacional do FPÖ, Heinz-Christian Strache, o resultado é uma mostra do que esta por vir, com as eleições regionais que acontecerão em Viena e em Alta Áustria no outono.

Nos lugares onde houve eleições no último domingo, o desemprego vem aumentando. Enquanto o desemprego no oeste da Áustria aumentou relativamente pouco, o aumento foi muito rápido no leste do país. O desemprego em Tirol se incrementou em um 0.2%, contrastando com 7.6% em Estiria, 11.1% em Burgenland, 12.2% em Alta Áustria e 13.9% na Baixa Áustria. O aumento maior ocorreu em Viena, onde a fins de Maio, 23.9% mais de pessoas estavam desempregadas em comparação com o mesmo período do ano passado.

O aumento do desemprego gerou o terreno propício para a demagogia anti-imigrante do FPÖ, a qual se unem conservadores e social democratas. Um exemplo foi a princípios deste ano, quando um número de refugiados de Kosovo fugiu para a Áustria para escapar das condições catastróficas de seu próprio país, a ministra do interior Johanna Mikl-Leitner (ÖVP) começou uma campanha contra os imigrantes em nome do governo. Ela disse que era sua "missão" evitar a onda de imigrantes procedentes de Kosovo. Para isso, foi ordenada a distribuição de declarações em Kosovo indicando explicitamente que os imigrantes não eram bem vindos na Áustria e poderiam enfrentar acusações criminais.

Ao mesmo tempo, em Viena, uma parte do aparato socialdemocrata vê com bons olhos o fato de governar a capital austríaca com a extrema direita, mais que com os ecologistas, como ocorre atualmente.

Por outro lado, setores do establishment político e os meios de comunicação começam a falar a favor de um governo "vermelho azul" (em relação as cores das insígnias do SPO e FPÖ respectivamente) no nível federal, a fim de superar os atrasos nas reformas baixo a grande coligação. A edição online do jornal Kurier, na noite do domingo, 31 de Maio, propôs a demanda de uma coligação SPO-FPO: "O resultado das eleições clama com urgência pela ação política, também a nível federal", afirmou.

O atual presidente do FPÖ e sucessor do líder histórico Jörg Haider teve que esperar durante dez anos na oposição, mais agora se alegra em ver que seu tempo ao fim chegou: o "cordão sanitário" contra a formação de extrema direita começou a se romper em nível local. Recordemos que em 1999, Haider se converteu em candidato importante a Bundeskanzler (chanceler federal, o primeiro ministro da Áustria) para o ano 2000, mas a União Europeia exige a Áustria que cancele sua nomeação devido a suas tendências de ultra direita, fato que se faz efetivo. Desta vez ninguém alçou a voz.

O que a Áustria mostra é que ao calor da crise mundial aberta em 2007/2008, a decomposição e degeneração política da antiga social democracia não só se acelerou como deu um salto extraordinário.

Os trabalhadores e trabalhadoras da Europa devem tirar lições deste desastre da social democracia austríaca. A mesma confirma que a transformação burguesa neoliberal da social democracia em vários países do velho continente é o pior inimigo que tem os trabalhadores em países que coligações com conservadores governam, como no caso da Áustria, ou quando governam sozinhos, como na França; e que a derrota destes governos e de sua política antioperária é a melhor maneira de impedir o avanço da extrema direita nas futuras eleições e impedir seu maior enraizamento na realidade política.




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