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FRENTE ÀS MANIFESTAÇÕES DO DIA 15/03 | A esquerda não pode deixar o discurso contra a corrupção nas mãos da direita

A luta por uma investigação independente deve impulsionar uma campanha nacional para impor que todos os funcionários políticos ganhem o mesmo salário que um professor e sejam revogáveis a qualquer momento por aqueles que os elegeram.

Daniel MatosSão Paulo | @DanielMatos1917

quinta-feira 26 de março de 2015 | 13:33

Os atos do dia 15/03 foram em certo sentido o inverso do que foram as manifestações de junho de 2013, porque enquanto aquelas ligavam o ódio à casta política aos problemas sociais mais estruturais, favorecendo a entrada da classe trabalhadora a da juventude no cenário político nacional, agora a raiva contra a corrupção está sendo instrumentalizada para fortalecer eleitoralmente a direita.

A pesar de todo o debate sobre impeachment, os principais líderes políticos da oposição não têm o objetivo de derrubar Dilma e sim de desgastá-la. Temem uma maior polarização social, além do que o escândalo da Petrobrás atinge tanto o governo como a oposição de direita. Tanto a burguesia brasileira como imperialista querem evitar um agravamento da crise econômica e política.

Mas ainda assim a coisa pode piorar e muito. O que dirão os setores que serão rifados? O que acontecerá quando a chamada “classe C”, que foi uma das principais bases social do lulismo, for mais golpeada pela recessão?

Crise política e econômica

As grandes manifestações de junho de 2013 questionaram tanto a precariedade e os altos preços dos serviços púbicos no país como a casta política que parasita o Estado, atingindo não só o PT, mas também o oposicionista PSDB. A classe trabalhadora aproveitou essa nova situação nacional para sair à luta protagonizando a maior onda de greves desde a década de 80.

As eleições do ano passado fizeram com que essa realidade passasse para um segundo plano. Mas mesmo assim ela não deixou de se expressar distorcidamente no discurso de “mudança” que todos os candidatos foram obrigados a adotar, escondendo os planos de ajuste que preparavam para seus novos mandatos.

O choque entre esse discurso mentiroso de mudança e os pacotes de ajuste implementados às pressas por todos os governos para responder à recessão econômica, somados aos escândalos de corrupção e à crise de falta de água, fizeram a popularidade tanto do governo nacional do PT como de governos estaduais do PSDB despencarem para níveis inferiores aos que vimos em junho de 2013.

O novo governo Dilma se encontra extremamente debilitado não só pela oposição do PSDB que saiu fortalecido das últimas eleições, mas também por o próprio PMDB, que é o principal partido de sua base aliada e o chantageia permanentemente para obter maiores cotas de poder e para exigir que o PT garanta a impunidade para seus aliados envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobrás.

Ajustes e resistência

Dilma implementa um ajuste fiscal para destinar dinheiro público aos banqueiros e aumenta a taxa de juros para conter a inflação e atrair o capital estrangeiro em busca de maiores rendimentos, o que tem como resultado uma maior recessão, com mais desemprego e arrocho salarial para proteger os lucros patronais. Para tal, não titubeia em retirar direitos de auxílio doença e de seguro desemprego dos trabalhadores, e coloca em prática cortes de verbas que já atingem fortemente a educação.

Os operários da Volkswagen do ABC paulista, assim como os metalúrgicos da General Motors de São José dos Campos fizeram duras greves que obrigaram a patronal a retroceder em ameaça de demissões em massa. Os professores do Paraná também fizeram uma dura greve, ocupando a Assembleia Legislativa do estado para pressionar os deputados enfrentando-se com a policia, e conseguiram fazer o governador tucano retroceder no pacote de ajustes.

Como dar uma resposta pela esquerda à indignação com a corrupção?

As greves da Volks, da GM e dos professores do Paraná mostram que existe disposição de luta, mas que está contida pela atuação das direções petistas nos sindicatos e movimentos sociais. A esquerda não pode ter uma resposta apenas para os ataques econômicos e sociais, deixando a bandeira da luta contra a corrupção nas mãos da direita.

Os trabalhadores ou jovens que simpatizam com a ideia do impeachment precisam compreender que isso fortalece a direita. A esquerda precisa construir uma alternativa à crise do partir da classe trabalhadora e do povo explorado e oprimido.

Os sindicatos e movimentos sociais dirigidos pela esquerda classista e antigovernista precisam criar um movimento que exija uma comissão de investigação independente integrada por intelectuais e lideranças populares reconhecidamente honestas e independentes tanto do governo como da oposição de direita. Uma comissão com plenos poderes de investigação, que tenha acesso a todos os documentos em mãos da justiça e autoridade para colher depoimentos dos políticos; e que desta forma se constitua como uma alternativa ao teatro das comissões de investigação parlamentares que só servem como palanques eleitorais, e também à justiça que responde aos interesses dos empresários, do governo e da direita tucana.

A luta por uma investigação independente deve impulsionar uma campanha nacional para impor que todos os funcionários políticos ganhem o mesmo salário que um professor e sejam revogáveis a qualquer momento por aqueles que os elegeram. Essa deve ser a via para acabar com os privilégios políticos da casta de parasitas que coloca o Estado a serviço dos capitalistas.

Este programa, ligado à luta para barrar os pacotes de ajuste e estatizar sob controle operário e popular os serviços públicos que seguem sendo parasitados pela elite dominante, precisa ser debatido nas assembleias de trabalhadores e estudantes, para colocar de pé um plano de mobilização que emerja como uma “terceira força” na situação política nacional, exigindo que as organizações dos trabalhadores tenham tanto espaço nos meios de comunicação quanto os partidos da burguesia.

O PSOL e o PSTU, que são os partidos mais conhecidos da esquerda no Brasil, deveriam colocam seus parlamentares e seus sindicatos a serviço dessa perspectiva.




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