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A eleição nos Estados Unidos prepara nova escalada militar com a Rússia

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

segunda-feira 7 de novembro de 2016 | Edição do dia

Enquanto os Estados Unidos se preparam para votar, a Rússia parece se preparar de um outro modo. Os movimentos militares da força aérea russa nos países bálticos, aliados à OTAN, sugerem que o Kremlin busca sinalizar que não tolerará “desafios” por parte da nova administração em Washington. Quer vença Hillary, quer Trump, tudo indica uma escalada nas tensões militares EUA-Rússia.

O presidente russo, Vladimir Putin, sabe que Obama não responderá à escalada militar na Síria antes de entregar o mandato ao presidente eleito pós-novembro. De fato, as recentes ações russas se dirigiram a ocupar melhores posições de negociação frente ao fim de ciclo da “doutrina Obama” na Casa Branca.

Neste final de semana, pelo menos 13 jatos de combate da força aérea russa cruzaram o espaço aéreo reservado aos países da OTAN na Estônia, país báltico intimamente inimizado com o regime de Putin. A Finlândia também anunciou ter seu espaço aéreo violado sem prévia advertência. No mar, um submarino nuclear rumava à base naval russa de Kaliningrado, enclave russo entre a Lituânia e a Polônia. Duas semanas antes o Kremlin já havia posicionado mísseis de cruzeiro na mesma base naval, ao mesmo tempo em que declarava o fim do acordo de eliminação de plutônio militar com os EUA.

Trata-se de desafios russos ao governo norteamericano, que hoje se vê na encruzilhada de um revés humilhante contra a Rússia na guerra da Síria, cuja cidade estratégica, Aleppo, se prepara para ser bombardeada novamente neste conflito reacionário ao povo sírio.

O colapso do cessar-fogo acertado entre Washington e Moscou e o avanço do exército sírio sobre Aleppo (nas mãos das milícias apoiadas pelos EUA) colocam a Guerra na Síria em um ponto de inflexão. Ante a queda quase segura desta estratégica cidade, que definiria decisivamente o curso da guerra, os Estados Unidos está diante de uma difícil escolha: ou aceita uma humilhante derrota, ou eleva a intervenção militar.

Há ainda a questão ucraniana, desatada em 2014 com a queda do presidente pró-russo Viktor Yanukovich e a posterior anexação da península da Criméia por parte da Rússia, origem da guerra civil que dividiu o país. A Rússia segue sancionada pelas potências ocidentais, mas a dependência alemã do gás russo impede que o governo Merkel siga as orientações de Washington e endureça o cerco a Moscou.

Segundo o Washington Post, Marko Mihkelson, chefe do Comitê Nacional de Defesa da Letônia, disse que “As eleições norteamericanas são uma data muito importante. Eles [os russos] estão tentando criar uma melhor posição de negociação na Síria, na Ucrânia, e muito provavelmente em outros lugares”.

O tema russo também atravessa a eleição de amanhã. Trump tem uma política chauvinista que busca desviar o descontentamento com uma política racista frente aos muçulmanos e ao conjunto de imigrantes, em especial latinos, e já disse “admirar” Putin; enquanto Hillary acusa Trump de ser um agente de Putin e da Rússia para ocultar a brutal corrupção da fundação Clinton e os interesses de sua política neoconservadora agressiva frente a Rússia.

Tanto Trump como Clinton representam a linha “dura” do imperialismo e significariam a escalada das tensões no Oriente Médio e na Ásia. Terão, entretanto, uma oposição interna maior do que encontrou Obama, já que a insatisfação social da população com a guerra enquanto o país mergulha no estancamento das condições de vida é grande.

A instabilidade internacional que afetará crescentemente o mundo dos negócios e a economia cria uma situação totalmente distinta de quando se afirmou a ofensiva neoliberal das últimas décadas, e que entrou em crise em 2007/2008. Isso numa atmosfera de aprofundamento da crise econômica, aumento das tensões internacionais e a contínua crise de hegemonia do imperialismo norteamericano em todo o mundo.

Não há saída progressista na política destas duas potências reacionárias. Trump e Hillary continuarão as medidas reacionárias de Obama, e Putin como "líder forte" representa também uma política de opressão nacional. O capitalismo de forma caótica está começando a tentar novas soluções de força a sua crise histórica; é chave que os trabalhadores e oprimidos do mundo preparemos a nossa.




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