Apesar da alta tensão deste sábado na fronteira com a Colômbia e, em menor medida, com o Brasil, os objetivos que a direita golpista de Guaidó almejava foram frustrados, pelo menos por enquanto.
sábado 23 de fevereiro de 2019 | Edição do dia
O show intervencionista montado pelo imperialismo norte-americano e a direita regional, que estava disfarçado de "ajuda humanitária" tinha um objetivo bem definido que era quebrar um setor das Forças Armadas Venezuelanas para forçar um golpe contra Maduro e abrir o caminho para um governo de direita fantoche de Trump.
Para este fim, Guaidó fez um chamado claro durante a semana que era mobilizar uma "maré humana" aos quartéis, para pressionar os militares, enquanto concentrava esforços na fronteira com a Colômbia para tentar mostrar uma imagem internacional de caos e eventualmente conseguir que o Exército e a Guarda Nacional deixassem entrar os caminhões com suprimentos, o que implicaria uma fratura do comando com o governo de Maduro.
No entanto, tanto a direita golpista quanto o imperialismo que incentivou esta aventura golpista se infligiram uma autoderrota e não conseguiram uma mobilização em massa aos quartéis ou quebrar um setor significativo do Exército que mostrasse insubordinação na fronteira.
De manhã cedo a direita tentou viralizar um vídeo que mostrava um tanque da Guarda Nacional com três tropas que desertaram rompendo as vastas fronteiras e cruzando para a Colômbia na junção da ponte Simón Bolívar. Nessa ponte, reuniram-se os principais líderes políticos da oposição, que no vídeo gritam "são da nossa" no que parece ser uma montagem em que os militares colombianos deixam passar a situação sem vacilar.
Este não teve efeito e a oposição só pôde mostrar a deserção de seis soldados na íntegra ao longo do dia, apesar do apelo ridículo que lançou Guaidó de redes sociais dizendo: "Na qualidade de Comandante em Chefe das Forças Armadas Nacional, dadas as circunstâncias excepcionais que a República vive, deixo sem efeito a qualificação de Traidores da Pátria para militares que cruzam a fronteira". Uma mensagem desesperada de última hora que acabou sendo um fracasso absoluto.
En mi condición de Comandante en Jefe de la Fuerza Armada Nacional, dadas las circunstancias excepcionales que vive la República, dejo sin efecto la calificación de Traidores a la Patria, para efectivos militares que crucen la frontera.#23FAvalanchaHumanitaria
— Juan Guaidó (@jguaido) 23 de fevereiro de 2019
O segundo passo da mídia e da operação política foi mostrar o apoio internacional. Após o meio-dia, Guaidó apareceu dando uma coletiva de imprensa junto com Ivan Duque, Sebastián Piñera, Mario Abdo e Luis Almagro, como porta-estandartes da direita regional. Nesse ponto, o objetivo era lançar um novo ultimato aos militares e tentar deixar passar alguns caminhões para mostrar pelo menos uma vitória parcial.
No entanto, após a coletiva de imprensa e uma foto de Guaidó subindo em um caminhão com provisões, as fronteiras permaneceram fechadas, e a direita só pôde registrar a entrada de um caminhão na fronteira com o Brasil. Algo que Guaidó, já em estado de desespero, considerava "uma grande conquista".
¡Atención Venezuela!
Anunciamos oficialmente que YA ENTRÓ el primer cargamento de ayuda humanitaria por nuestra frontera con Brasil.
¡Esto es un gran logro, Venezuela!
¡Seguimos! #23FAvalanchaHumanitaria
— Juan Guaidó (@jguaido) 23 de fevereiro de 2019
E quando Guaidó estava dando como terminada a jornada, anunciou uma suposta entrada de caminhões pela estrada de Ureña, que na realidade acabou com a Guarda Nacional lançando gases para abrandar o seu ritmo e com dois caminhões queimados, o que foi explorado pela mídia da direita para dizer que foi uma ação de guerra contra a Colômbia.
Além da propaganda que a direita pode fazer, magnificando sua ação deste sábado, a verdade é que foi um fracasso o que consideravam seu "dia D" para avançar uma dinâmica golpista com um intervencionismo dos Estados Unidos, da direita regional, dos principais países da União Europeia e que foi inclusive abençoada pelo Papa Francisco.
Por sua vez, Maduro convocou uma mobilização em Caracas na qual discursou rejeitando a tentativa de golpe e quebrando todo tipo de relações com a Colômbia.
Enquanto o governo de Maduro queria reivindicar a derrota do golpe como um triunfo próprio, essa leitura está longe da realidade. A direita foi capaz de usar demagogicamente o ingresso da "ajuda humanitária" com base na catástrofe social que o país está vivenciando. De sua parte, os apelos aos militares baseiam-se no fato de que as Forças Armadas são hoje o árbitro da situação política. Maduro depende deles para ficar no governo tanto quanto Guaidó para forçar um golpe e tomar o poder.
Diante desse cenário, que ainda não foi fechado, é necessário enfrentar em primeiro lugar essas tentativas de golpe e a ofensiva imperialista, o que não implica o menor apoio político a Maduro.
É imperativo que os trabalhadores e explorados da América Latina a se mobilizem contra esta intentona de avanço imperialista na Venezuela que só irá fortalecer as direitas regionais e os ataques levados adiante em cada país como Macri na Argentina, Bolsonaro no Brasil, Duque Colômbia ou Piñera no Chile.