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ESTADO ESPANHOL | A abstenção política, um “voto castigo” da juventude trabalhadora

Depois das eleições na Espanha, o 26J, todos buscam uma explicação a enorme diferença entre as pesquisas e o resultado. Uma delas é que nenhum partido conseguiu captar os problemas da juventude.

Asier UbicoZaragoza

segunda-feira 11 de julho de 2016 | Edição do dia

Nos dias anteriores as eleições, apontamos um dos fatores importantes a se ter em conta em relação ao resultado eleitoral, principalmente sobre o Unidos Podemos. Colocamos como Pablo Iglesias vinha de um giro cada vez mais conservador, ligado a sua política de “mão estendida” ao PSOE. Também colocamos como nunca quis defender as aspirações e demandas da juventude em geral, e trabalhadora em particular, que é a que vem suportando parte importante da crise capitalista. Nesse sentido, dizíamos justamente “a política do PODEMOS é um dos fatores chave para entender que se mantenha uma cifra recorde de abstenção política.

“Não foram a outros partidos, e sim ficaram em casa”

Longe de assentar uma visão definitiva sobre as principais causas da abstenção, o que queremos é refletir sobre alguns aspectos parciais, porem chaves para compreender o fenômeno.

O aumento da abstenção política, uma das mais altas da história, foi obviamente uma das chaves da analise da imprensa e entre as próprias formações políticas, ainda que na realidade pouco buscaram uma explicação profunda das suas causas.
Unidos Podemos, foi claramente a formação que mais sofreu com as abstenções. A secretaria de Analises Política do Podemos, Carolina Bescansa, teve que admitir que o mais de um milhão de votos que Unidos Podemos perdeu “não foram a outros partidos, e sim ficaram em casa”. Contudo a diferença da inverossímil explicação de Pablo Iglesias sobre os resultados, que colocou suas duvidas em que “a campanha do medo” há sido a causa do porque 16% de seus votantes optaram pela abstenção.
No marco de perda de votos, a “desmobilização do voto urbano e jovem, que mostram os dados”, como descreve um artigo de La Vanguardia, atuou como um dos fatores fundamentais.

Até o próprio diretor da campanha de Podemos, Iñigo Errejon, adiantando balanços, reconheceu no café da manha da TVE, que estava clara a caída de votos do PODEMOS na juventude. O que não disseram nem Errejón, nem Iglesias, nem Bescansa, nem ninguém é o porque?

O programa do PODEMOS para a juventude trabalhadora: PSOE, PSOE e mais PSOE
Voltamos a pregunta, que é importante para aprofundar o problema: Que programa Podemos apresentou para a juventude que participou do 15M e que Iglesias e Errejon dizem representar? Que medidas que “resgate” para a juventude trabalhadora que sobre com a super-exploração trabalhista, a precariedade, a rotatividade e a terceirização? A realidade é que “nenhuma”. Assim as coisas, é compreensível que os setores da juventude que tinham ilusões nos projetos neoreformistas que denunciavam a “casta política” e prometiam “assaltar os céus do capital” comecem a se desencantar.

Como explica a autora de um “Carta a Pablo Iglesias” publicada na CTXT, dirigindo ao líder do PODEMOS: “Leva o melhor programa político, o que podia nos ajudar, os trabalhadores, os que lutam dentro e fora deste país pelos nossos direitos, ao que trabalham por salários que não chegam a mil euros, ao que se preocupam com o bem comum. Porque nos da as costas com sua campanha, Pablo?

O desencanto cada vez maior entre a juventude trabalhadora com podemos, não é nenhum mistério. A única verdadeira “proposta” apresentada pelo Unidos Podemos na sua campanha foi formar um “governo do progresso” (sic) com o PSOE. Ou seja, com o mesmo partido do regime que introduziu a flexibilidade trabalhista desde os anos oitenta. Por isso, a abstenção política, pode-se ler como um “voto castigo” da juventude trabalhadora, a quem propõe que sejam os novos humanizadores do capitalismo.

A “brecha geracional” e a crise social da juventude

Muitos dos analistas que sustentam o impacto da abstenção do “voto castigo” dos jovens ao Unidos Podemos, sustentam que o subjazem o fenômeno é uma “brecha geracional” que ninguém tenta incorporar no seu discurso político, porque os setores maiores vota o votam “No velho”, e um setor importante de jovens não vota ou não se sente muito atraído pelo “Novo”. Porem longe de ser um problema “geracional”, ainda que este exista, o fundamental é que se trata de um problema social, uma divisão social entre a classe trabalhadora, que o programa do Podemos (junto aos seus aliados da IU) e sua estratégia reformista é incapaz de resolver.

O que se trata não é elaborar um novo “significante vazio” para reacender os ecos do discurso político, senão de enfrentar a “casta política” do PP e do PSOE com um programa que questione as bases da precarização do trabalha gerada durante mais de 30 anos, que questione os contratos precários, que acabe com a instabilidade, que divida as horas de trabalho sem redução salarial para acabar com o desemprego da juventude. Que ponha fim as duplas jornadas de trabalho e incorpore os demitidos e os terceirizados a planta fixa. Ou seja, um programa sele a “brecha geracional”, unindo as fileiras da classe trabalhadora para se enfrentar com as bases sobre as quais se assenta o capitalismo espanhol.




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