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GENOCÍDIO ARMÊNIO | A Turquia continua negando o genocídio armênio, com aprovação de Obama

Há várias semanas, a Turquia está empregando uma intensa atividade diplomática para evitar que o centenário do genocídio armênio se converta no centro da atenção mundial neste 24 de abril. Tudo indica que não conseguiu.

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

sexta-feira 24 de abril de 2015 | 21:04

Esta sexta-feira se comemora o centenário do genocídio em Erevã, capital da Armênia, com a presença de Vladimir Putin e François Hollande.

Há várias semanas, a Turquia está empregando uma intensa atividade diplomática para evitar que o centenário do genocídio armênio se converta no centro da atenção mundial neste 24 de abril. Tudo indica que não conseguiu.

A tensão com o Vaticano, depois das palavras do papa Francisco falando de "genocídio", alcançou as alturas. Ankara disse que o papa dizia "estupidezes", que eram palavras "inaceitáveis" e que a "história foi instrumentalizada com fins políticos".

Esta semana se repetiu a cena, depois que o Parlamento austríaco condenou de forma conjunta o genocídio armênio. O Ministério de Relações Exteriores turco chamou para consulta seu embaixador em Viena e denunciou o que chamou de "calúnias".

"A Turquia e a nação turca nunca esquecerão esta calúnia contra sua história", afirmou um comunicado do Ministério. "Está claro que esta declaração terá efeitos negativos permanentes nas relações entre a Turquia e a Áustria", assinala a nota.

As negações turcas e a cumplicidade dos aliados ocidentais

"Quem se recorda dos armênios?", disse Hitler, para justificar o holocausto. Ao dia de hoje, 100 anos depois, a Turquia segue negando sua existência.

Numerosos historiadores demonstraram que o aniquilamento de mais de 1 milhão e 500 mil armênios junto a centenas de milhares de sírios, gregos e outras minorias, foi parte de um plano sistemático do governo dos jovens turcos, com o objetivo de "homogeneizar" o novo Estado turco. Documentos do próprio exército otomano, com ordens precisas, o comprovam.

Não obstante, há um século que a Turquia se aferra a suas negativas, rechaçando que se possa chamar estes massacres de genocídio. O relato "oficial" turco sustenta que as mortes e matanças se produziram como parte de uma guerra, onde morreram armênios, gregos e também turcos.

Em 2005 foi incorporado ao código penal turco o artigo 301, que estabelecia penas de seis meses a três anos de prisão por atos de "agravo" à "identidade nacional turca", ao governo ou às instituições, como as forças armadas.

A negativa da Turquia a reconhecer o genocídio tem motivações ideológicas (a preservação da "identidade turca"), políticas, jurídicas e também econômicas, para evitar massivos pedidos de indenização e restituição de propriedades.

Durante todo o século XX a Turquia conseguiu impor que o genocídio armênio fosse um "genocídio esquecido". Algo que só foi possível com a cumplicidade da maioria dos Estados imperialistas.

Ainda que nos últimos anos cerca de vinte países tenham reconhecido o genocídio, os Estados Unidos segue mantendo uma ambiguidade calculada sobre o tema.

A maioria dos estados da federação foram reconhecendo o genocídio, mas em 2010 a Casa Branca interveio para evitar que um comitê do Congresso dos EUA definisse os fatos com esse termo.

Esta terça-feira, o Executivo de Obama, que necessita a Turquia como aliado em sua política para o Oriente Médio, omitiu o termo em uma nota de imprensa que informava de uma reunião com grupos armênios.

Obama havia prometido em sua campanha eleitoral de 2008 que reconheceria o "genocídio", o que não cumpriu nesta sexta-feira, gerando mal-estar com grupos armênios norteamericanos.

Desde a Casa Branca se justificaram com esta cínica decisão: "Sei que há alguns que esperavam escutar uma linguagem diferente este ano, e entendemos sua perspectiva, mas acreditamos que o enfoque que tomamos em anos anteriores segue sendo o correto para reconhecer o passado e para nossa capacidade de trabalhar com nossos aliados regionais no presente", afirmou o porta-voz adjunto da Casa Branca, Eric Schultz.

Israel se nega também a reconhecer o genocídio armênio, decisão esta em que influiu o fato de que a Turquia foi historicamente o primeiro país muçulmano a reconhecer o Estado de Israel, em 1949, quando esta estava produzindo a limpeza étnica sobre o povo palestino. O líder sionista Ben Gurion considerava a Turquia parte de uma "periferia estratégica" entre ambos os países, que apesar de atravessar importantes tensões diplomáticas, está sustentada em fortes relações econômicas. A Turquia é um dos dez mais importantes sócios comerciais de Israel.

A Israel interessa, ademais, negar o genocídio turco para que não se fale tampouco da limpeza étnica e a ocupação na Palestina, sua própria "façanha" de fundação de Estado.

A Alemanha até agora omitiu usar o termo "genocídio" para preservar suas relações com a Turquia, e pelo fato de que neste país mais de três milhões de pessoas de origem turca. Ainda assim, o parlamento alemão aprovou nesta sexta-feira, depois de 100 anos, uma declaração de reconhecimento.

A Turquia é um aliado estratégico para os países da União Européia e os Estados Unidos, por sua situação geoestratégica em uma das "portas da Europa", sua posição no Mar Negro e suas fronteiras com a Síria, o Iraque e o Irã. Na Turquia se encontra a base militar norteamericana de Incirlik, e desde 2012 se colocou em marcha a missão de mísseis Patriot na fronteira turca com a Síria, onde participam forças militares de países membros da OTAN. Atualmente se encontram ali militares espanhóis.

Tudo isto explica que, apesar de algumas declarações carregadas de hipocrisia que se podem escutar estes dias, os países da OTAN estejam interessados em manter nos melhores termos suas relações com Ankara, circundando a questão do genocídio armênio.




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