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POEMA | A TODOS OS UÍSQUES QUE APODRECEM NAS ESTANTES

quinta-feira 21 de julho de 2016 | Edição do dia

Eu to cansada de viver as mágoas do tique taque do relógio
E eu to cansada dos meios-beijos
E eu to cansada da cara de tristeza
E das coisas que eu não posso mudar
Eu to cansada do inverno
E do inferno que é esse frio que começa na sola do pé e congela o cérebro
E eu to cansada do desperdício do óbvio
Com gente pra quem nem meia
Nem uma
Nem duas
Nem três palavras bastam
Eu to cansada dos bastardos
E dos escravos
E dos escárnios
Eu to cansada dessa casa vazia
Dessa vida vadia
Desses oitenta quilômetros do meu amor
Desses dentes com cáries
Desses dentes que já nascem tortos
Torturando a carne da gengiva
E dessa não-disposição pra ir no dentista
Eu to cansada do mau humor e do mal amar
E de bastar uma mensagem não respondida e/ou não visualizada pra um relacionamento acabar
Mas eu não canso dos clichês
Nem dos filmes em escala de cinza
Nem dos fantasmas da minha mente
Nem da saudade do meu amor
Eu nem do café amargo pela manhã, as 12 horas da manhã
Eu só canso dos desajustes
Eu só canso do que me desajusta
Eu só canso do que me despe a cara de pau
Eu só canso de ver todos esses uísques apodrecendo na estante
E seus donos morrendo de não tomar porre


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