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Em 30 de julho, na cidade de Atenas, entrevistamos dois ativistas anarquistas da Rádio Fragmata (Rádio Barricada) que estavam presentes no acampamento para expressar solidariedade com as famílias dos refugiados.

Alejandra RíosLondres | @ale_jericho

sábado 1º de agosto de 2015 | 00:55

Foto: LID/Josefina Martínez

Como se chama o parque e qual é a situação das pessoas no acampamento?

O parque se chama Areos, está localizado no centro de Atenas, perto do Politécnico, no bairro Exercheia. Neste momento, mais de 400 migrantes estão ocupando o lugar porque não têm onde ir.

Quais são suas reivindicações?

Alguns exigem documentos para poder transitar por outros países da Europa, mas outros buscam ficar aqui, querem simplesmente um lugar onde viver, porque estão fugindo de seu país por motivos religiosos ou raciais, vindo de países como Afeganistão, Síria e outros países da região. Muitos deles, por exemplo, são xiitas e foram perseguidos pelo Estado Islâmico ou os Talibãs.

Qual tem sido a resposta da comunidade? Há amostras de apoio?

A solidariedade da comunidade é muito visível. Dentro de sua desgraça, estes imigrantes tem tido “sorte”, porque seu acampamento está muito perto do bairro Exercheia, um bairro de anarquistas e ativistas de esquerda. Por isso houve muita solidariedade, muita gente vem apoiá-los e lhes trazem alimentos, roupa, medicamentos, fraldas, a pesar de que em pleno agosto há muitíssima gente de férias, e de que os meios de comunicação não mostram nada do que está pasando aqui.

Qual foi a atitude do governo até agora?

A prefeitura de Atenas e o governo está tentando ocultar o problema e não tem feito praticamente nada. Só abriram um ponto de água, mas não instalaram banheiros nem nada. Tudo o que tem aquí foi instalado e montado pelos ativistas e as pessoas que vem solidarizar-se. Ao governo lhe convén que a ocupação vá adiante neste parque e não no centro político, que é a Praça Syntagma, porque lhes permite encondê-la e que desta maneira os turistas não vejam “o problema”.

O tema dos refugiados não é novo na Grécia, não é mesmo?

É mesmo. O tema dos refugiados não é algo novo. Já houve há alguns meses um grupo de migrantes, muitos refugiados de guerra, que se instalaram na Praça Syntagma e iniciaram uma greve de fome para exigir soluções para seus problemas.

Na Grécia, em meados dos anos 90, houve uma onda de imigrantes, refugiados do Curdistão e da Albânia, que haviam se instalado na Praça Omonia e outros parques da cidade. Isto demonstra que a Europa é um continente cercado. Os matam nas fronteiras, nas ilhas, nos mares. Só querem extorquí-los, só querem roubar seu petróleo, suas riquezas, mas logo não querem os ver nem vivendo nem instalando-se aqui na Europa. Aqui são perseguidos e descriminados por serem árabes, negros, mulçumanos; mas estão aqui porque não tem outra opção, não podem voltar aos seus países porque ali também os perseguem, estão em guerra… são perseguidos e hostilizados onde quer que vão!

E por último, o que opinam do governo Tsipras? Como veem as perspectivas na Grécia?

Acredito que o governo do Syriza disse que é um governo de esquerda, mas na realidade não é. Muitos anarquistas tiveram ilusões e acreditaram em parte do discurso de Tsipras antes das eleições e depositaram certa confiança nele. Mas agora, Tsipras está mostrando sua verdadeira cara. Este governo está aplicando uma política neoliberal. Primeiro fizeram um pacto do governo com um partido de direita racista e homofóbico como o ANEL, ligado a uma política de cortes. Logo após as eleições, todas as mobilizações com as quais o Syriza havia se solidarizado – ao menos na palavra – acabaram. E agora estão implementando o terceiro memorando, com medidas muito duras que atacam os salários, as pensões e o nível de vida.




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