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GREVE EDUCAÇÃO | 8 lições da greve da educação de Minas Gerais

Essa segunda feira, dia 17 de abril, os professores da rede estadual de Minas Gerais retornam às aulas após a votação de suspensão da greve. Para prepararmos os próximos passos da luta contra os ataques de Temer e seu governo e uma greve geral efetiva, precisamos tirar lições nas escolas e com nossos colegas desta que foi a maior greve da educação no estado nos últimos anos.

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

domingo 16 de abril de 2017 | Edição do dia

1) A maior greve dos últimos anos em adesão da categoria mostrou a disposição de luta da categoria junto à entrada em cena dos trabalhadores na paralisação nacional do 15M

Os trabalhadores da educação fizeram uma greve política com a demanda de impor a derrubada da reforma da previdência e trabalhista a partir da conjuntura iniciada pelo 15M, quando os trabalhadores movimentaram seus músculos protagonizando uma forte paralisação nacional. A greve da educação foi o carro chefe da luta e Minas Gerais, que alcançou patamares históricos em número de adesão e se transformando na maior greve da educação do país. Os trabalhadores apareceram lutando contra os ataques do governo golpista e da direita, e consequentemente a possibilidade de derrotá-los.

2) A pressão da base obrigou a CUT e CTB convocar o dia 15. O papel dessas direções foi dividir a greve nacional que se gestava

A burocracia sindical, pela pressão da base em lutas contra as reformas, fez uma divisão de tarefas ao redor do chamado da greve nacional da educação. Enquanto em Minas Gerais os professores protagonizavam a maior greve do país, com a direção do SindUTE/CUT tentando aparecer como protagonista da luta contra as reformas; a poderosa direção do sindicato de professores de São Paulo, a APEOESP/CUT foi contrária à greve, traindo o chamado da greve nacional e cumprindo o papel de desarticuladora da greve nacional. Nas demais categorias, as direções sindicais seguiram impondo seus obstáculos para não paralisar (como metalúrgicos, bancários e petroleiros em MG) e sem preparar um plano de luta sério contra os ataques.

3) A trégua de 45 dias dada pelas centrais ao governo golpista desmantelou a greve em Minas Gerais

O apontamento pelas centrais da paralisação nacional para o dia 28 de abril foi uma trégua dada pelas centrais aos golpistas que levou, inclusive, ao desmantelamento da greve em Minas Gerais. Isso aconteceu pois o motor da unidade entre as centrais não foi a luta de classes e como colocar o governo golpista contra a parede, mas sim seus interesses adversos à classe trabalhadora: no caso das centrais golpistas como a Força Sindical os de negociar melhor pontos da reforma para atender melhor seus privilégios como o imposto sindical; no caso da CUT e CTB em tentar conter nossa luta a favor de uma saída eleitoral favorável ao PT. O objetivo final dessas centrais dirigidas pela PT e PCdoB é eleger Lula em 2018. Por isso não querem incendiar o país com uma verdadeira greve geral, e para isso fazem de tudo para controlar as lutas dos trabalhadores. Essa política fez com que as greves nas redes municipais, que enfrentavam maiores desgastes devido às greves anteriores, perdessem força e caminhassem para seu fim, caminhando assim para o desmantelamento da greve estadual da educação.

4) Como toda direção reformista, a direção do SindUTE/MG manteve um calendário de pressão aos deputados e suspendeu a greve para impedir a massificar a luta contra as reformas

Mesmo sem a preparação da greve pela base anteriormente e fazendo um movimento de pressão aos deputados, a greve e a paralisação do 15M impuseram o fim do calendário inicial de votação da reforma. A direção do SindUTE estadual deixou nossa luta refém dos calendários dos políticos e suas negociações, propondo um calendário ao redor de perseguir deputados que foi na contramão da criação de comitês massivos para que s trabalhadores da educação se dirigissem a milhares de trabalhadores, jovens e à população para fortalecer a luta contra as reformas. Essa forma como de conduzir à greve se conecta aos objetivos que elencamos no ponto anterior.

5) Auto organização dos trabalhadores: ou tomamos os rumos em nossas mãos ou as direções reformistas seguirão contendo e desviando nossas lutas

A direção do SindUTE/MG foi categórica em seu posicionamento contrário a conformar uma verdadeira direção de trabalhadores para a greve, negando-se a formar um comando de greve com representantes eleitos nas bases ao calor da greve. Mesmo com uma carta do comando de greve de Contagem à direção estadual, nossa greve estadual seguiu refém da direção tradicional do SindUTE e seus acordos com o PT de Fernando Pimentel e de Rogério Correia, mostrando que para eles mais valem os políticos tradicionais petistas do que milhares de trabalhadores que estavam na linha de frente da greve construindo na base a luta.

6) Embriões de comitês de luta e as aulas públicas por fora da estratégia de pressão aos deputados: batalha pela auto organização desde a base junto à população e à juventude

Ainda contando com toda a contenção de nossa luta, os trabalhadores deram exemplos. Milhares de professores em todo estado tomaram em suas mãos a construção da greve na base, percorrendo escolas para disseminar a greve por todas as escolas que fossem possíveis chegar.

Na Escola Estadual Helena Guerra, em Contagem, fomos protagonistas para generalizar em várias regiões da cidade as aulas publicas como embriões de comitês de luta contra as reformas, alguns deles organizados junto aos grêmios e alunos, furando os cercos da estratégia de “caçar” deputados. Diferente dessa estratégia nós fomos à caça de nossos principais aliados: a juventude, trabalhadores de outras categorias e a população.

7) Tomar as demandas de outros setores oprimidos como parte de nossa luta, atuar como tribunos do povo

Na rede municipal de Contagem os trabalhadores em greve tiveram iniciativas de se aliar com a população tomando para si demandas de setores oprimidos como das mulheres, contra a ameaça da retirada dos feirantes da feirinha do Eldorado (comércio popular da região) e contra o assédio moral nas escolas como a denúncia que fizemos contra a direção da Escola Tiradentes.

Esses são exemplos pequenos mas importantes que apontam no sentido dos trabalhadores serem cada vez mais tribunos das demandas populares e dos setores oprimidos, contra os privilégios dos políticos que estão a serviço dos lucros dos patrões enquanto a maioria da população carece de boas qualidade de vida em nosso dia a dia.

8) É necessário batalhar para uma alternativa de esquerda e de trabalhadores contra a direita, a patronal e os empresários: por uma greve geral efetiva no dia 28 preparada pela base, exigindo das grandes centrais um plano de lutas nacional para colocar o governo golpista contra a parede

Frente à enorme crise política do país, a esquerda tradicional seguiu sem fazer grande diferença na maior luta da educação no estado nos últimos anos, em geral assumindo para si a estratégia da CUT. O PSTU apesar de dirigir uma central sindical minoritária mas importante como a CSP CONLUTAS assumiu a unidade entre as centrais unindo-se à trégua de 45 dias que levou à suspensão da nossa greve. O MAIS, ruptura recente do PSTU, chegou a votar junto com a burocracia sindical da Apeoesp em SP contra a greve nacional da educação em um estado onde tem peso considerável na oposição sindical.

Diferente dessa subordinação da esquerda às grandes centrais, na Argentina os trabalhadores mostraram sua força fazendo uma grande paralisação nacional no 6A, e a esquerda desde a FIT (Frente de Esquerda dos trabalhadores) foi fundamental para radicalizar os métodos de mobilização e batalha para aparecer uma alternativa política dos trabalhadores frente a crise e ao governo de direita de Macri. A burocracia sindical argentina queria levar apenas seu aparato para as ruas, mas a FIT levou milhares de trabalhadores nas bases de local de trabalho para assumir o protagonismo político na luta contra os ataques do governo Macri.

Uma esquerda desse novo tipo faz falta no Brasil. Uma nova oportunidade está colocada para a esquerda na preparação para o dia 28 de abril para romper sua subordinação às estratégias das grandes centrais, batalhando desde as estruturas onde atuamos por uma efetiva paralisação nacional no dia 28 de abril, exigindo das direções das grandes centrais que convoquem comitês massivos construídos desde os locais de trabalho e um plano de lutas de todas as categorias capaz de derrotar as reformas e esse governo golpista.

Convidamos tod@s que confluem nessas lições de nossa greve da educação e nos próximos passos de preparação da greve geral do dia 28 a militar junto conosco na agrupação NOSSA CLASSE EDUCAÇÃO, em Minas Gerais.




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